terça-feira, 14 de janeiro de 2020

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS – O AÇOUGUEIRO

Na peculiar linguagem do futebol chamamos de "açougueiro" aqueles atletas que não têm nenhuma intimidade com a bola, e geralmente usam da força física e consequentemente da violência para se dar bem no futebol.
Essa parcela "chucra" de atletas geralmente é composta por jogadores que atuam no setor defensivo de uma equipe, na maioria das vezes sendo um dos zagueiros. Porém, também podemos encontrar açougueiros bem mais famosos em outras posições, que sabem jogar bola, mas são desleais, e gostam de bater um pouquinho, só que são mais sutis. Como dizemos no esporte bretão, "batem na maldade mesmo", enquanto o açougueiro raiz bate por que não sabe jogar bola mesmo.
O açougueiro geralmente é o “dono” do time, posição essa exercida na maioria das vezes no “grito”, ou na “força bruta” mesmo, que são absorvidas pelos companheiros durante sua participação nos jogos, uma espécie de proteção para a equipe.
Em suma, o açougueiro raiz é aquele jogador que não enxerga a bola, apenas consegue ver as canelas dos adversários.
Já me deparei com muitos açougueiros na vida, sempre me mantinha longe do raio de ação do maluco e tocava a bola rápido. Fazer firula na frente de um doido desse é assinar a sentença de canela quebrada.
TERRY BUTCHER :Esse aqui era açougueiro até no nome.
O jogador inglês que tinha ‘açougueiro’ no nome e ‘sangue no suor’ . Em 1989 a seleção de futebol da Inglaterra precisava de um empate contra a Suécia em Estocolmo na última partida das Eliminatórias para garantir classificação para a Copa do Mundo de 1990. O capitão do time inglês era o zagueiro Terence, conhecido como Terry. O sobrenome Butcher (açougueiro em português) parecia prever que algo aconteceria e marcaria para sempre com sangue a carreira daquele homem.
A dor de ser um dos jogadores driblados por Maradona naquele histórico gol na Copa de 1986 foi superada com os olhos arregalados e o uniforme encharcado de sangue depois da partida em que o English Team conseguiu a classificação para o Mundial de 90.
Com a cabeça aberta por um ferimento logo no início do jogo contra os suecos, Butcher recebeu um curativo que não suportou as muitas bolas cabeceadas em sequência, dadas sem medo por ele. Lembrando que nos dias de hoje não é mais permitido que o jogador que apresentar algum tipo de sangramento permaneça em campo.

O mais curioso é que Butcher não era inglês de nascimento. Ele foi um dos poucos jogadores nascidos fora do país (Cingapura) a defender a seleção da terra da rainha em Copas. E não foram poucas: três mundiais.
Hoje, Butcher é técnico, o ‘açougueiro’ é, acima de tudo, um exemplo para todos os atletas de como se joga com amor à camisa e às canelas dos adversários.

Às vezes podemos observar treinadores aqui no Brasil dizendo que é “preciso suar sangue”, numa figura de linguagem. Inconscientemente, estão fazendo uma alusão a Terence Ian ‘Terry’ Butcher. Uma carreira construída com suor, lágrimas e, acima de tudo sangue, dele e de muitos adversários que ele quebrou pelo menos um dos ossos.

                                                                                                                 
                                                                                                    Paulo Cesar - PC