sexta-feira, 2 de julho de 2021

ZÉ DO FOLE, O MITO SERTANEJO.

José Caetano da Silva é o seu nome de batismo, Zézim para os familiares, Zé Caetano para os chegados, Gugu para as íntimas, Zé do Fole para o mundo do futebol varzeano, e mais alguns apelidos não menos importantes, dos quais ele carregava consigo como verdadeiros troféus. Esse era meu primo “Zé Carlos”, sobre o qual vou contar um pouco nessa resenha, pois foi pessoa que me inspirou a amar tanto o futebol de várzea e suas peculiaridades, lá na longínqua década dos anos 70.

Apesar de ser um verdadeiro andarilho pelo futebol, ele nunca moro na "cidade", sempre na zona rural.
Na época em que o Zé começou a trabalhar num grande frigorifico aqui em Tupã, e que hoje não existe mais, chamado Frigorifico Sastre, surgiu o apelido Zé Sastre. Esse apelido foi dado pelos colegas, quando fazia parte de um dos vários times que eram formados na empresa. O time em que ele jogava era formado na maioria pelos açougueiros, pois o Zé nessa época enveredava por esse lado profissional, e como bom "Severino" que era não tinha nenhum problema de adaptação ao cargo.


Era um bom esquadrão, que empunhava respeito aos adversários, tanto pelo bom futebol, como pelo vigor físico dos caras
Um pouco mais para frente, já não trabalhando mais no frigorifico e jogando em outro time, os caras descobriram que o Zé gostava muito de forró, e que ele até arranhava alguns pseudos acordes na sanfona. Daí então surgiu o Zé do Fole, apelido que ele amava, e com isso grudou como chiclete, perdurando por vários times em que ele jogou doravante.


Apesar da sua baixa estatura, ele era um bom centroavante, fazia muitos gols. Eu sou suspeito para falar, mas o cara era bom jogador, era liso que nem quiabo, conseguia fugir das botinadas dos zagueiros caneludos, e de outros cabeças de bagre com maestria.
Falastrão e milongueiro ao extremo, o Zé era uma pessoa educada e de bom trato, por essas qualidades ele era bem querido até mesmo pelos adversários, uma figura peculiar no mundo varzeano da época.

Eu, com todo orgulho do mundo era seu fiel escudeiro. Como o acompanhava pelos jogos, ele pedia para que eu carregasse sua mochila com o seu material de jogo e pós jogo. O Zé do Fole era muito vaidoso e no material pós jogos, posso citar um espelhinho, pente flamengo, bucha caipira, sabonete Phebo, colônia Tabú entre outras bugigangas, que só ele sabia para que servia.

Para mim era o máximo carregar tal mochila, e para ele vaidade, pois falava de boca cheia para todos - "Ele é meu assistente!". Na realidade a palavra não era bem essa, mas como não lembro, foi essa como sinônimo.
Zé morava na zona rural, e quando vinha jogar aqui na cidade pernoitava em minha casa e aproveitava o sábadão à noite para dar uns bordejos, por ai, afinal ninguém é de ferro né?
O maluco não ficava até tarde na rua não, voltava logo, era rapidinho até para isso. Lá em casa na época ele dormia no chão mesmo, pois não tinha cama sobrando, e com isso minha mãe improvisava algo parecido com uma cama no chão, e o cara puxava o ronco sem pestanejar.

Depois de passarem alguns anos, e já quando não mais o acompanhava nas aventuras futebolísticas, o Zé mudou-se para outra cidade, e como sempre, morando na zona rural. Nessa ocasião ele me convidou para jogar no time que eles tinham acabado de formar, num bairro muito movimentado em que ele estava morando.
Aceitei o convite de pronto, e chegando lá, ele disse que tinha mudado de posição, devido sua idade já ter avançado um pouco, tinha virado zagueiro nesse novo time.

Pensem comigo, mas e a estatura para um zagueiro? Porém não disse nada a ele, para não melindrar o querido primo. Em se tratando de Zé do Fole, não dá para duvidar, afinal o cara é mito.
Um acontecimento engraçando ocorreu quando ele foi me apresentar para o dono do time, o rapaz nem deu muita bola para mim, queria mesmo era saber a razão pela variedades de apelidos do Zé, e qual deles poderia ser chamado ali no bairro.

Fiquei na expectativa ele iria escolher para ser tratado dali por diante, porém sem titubear o mito disse – “Bom eu gostaria de ser chamado de Zé Carlos!”
Quando ele disse esse apelido, fiquei surpreso, pois desconhecia o tal até então, porém disfarcei para não estragar a farra do Zé, afinal ele era a estrela da festa.
Como tudo cíclico, o tempo passou e a vida da gente muda muito, e com isso já vão para mais de quase décadas que não vejo mais o Gugu para as intimas, Zé Fole, Zé Caetano e Zé Sastre para o mundo do futebol, Zézim para a família, ou o enigmático Zé Carlos, que até hoje não sei de onde ele tirou.

Texto:
Paulo Cesar – PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que adoramos chamar de racha canela, quebra dedo, arranca toco, entre outros.