quarta-feira, 18 de maio de 2022

SEO RICARDO, O LOBISOMEM!

Nesse tempo eu estudava numa escolinha rural que tinha pertinho do sitio em que eu morava. No mesmo velho bairro Afonso XII de sempre, aliás a maioria das história ocorreram lá. Na época cursava o terceiro ano primário, ainda cheirava a leite como minha saudosa avó gostava de dizer.
O quintal dessa escolinha era todo gramado, e nas tardes pós aula nós íamos lá para jogar futebol. Porém na virada do ano houve troca de professores, e com essa troca nosso campinho deu lugar a um belo jardim, pondo fim nos nossos joguinhos das tardes.
Com o fim do campinho começamos a procurar um lugar pelas redondezas que desse para a gente bater uma bolinha. Achamos um lugar ideal, bem plano, e bem gramado, só precisava de uma boa limpeza. Porém esse local era um pouco afastado de nossas casas e bem perto da casa do Seo Ricardo, um senhor misterioso, que já tinha passado da casa dos sessenta anos há algum tempo, que morava sozinho lá no meio do mato, onde antigamente funcionava uma granja, e que sobre o qual pairavam estranhas histórias.

Para piorar a situação uma das histórias que o povo lá do bairro contavam, era que nas noites de lua cheia Seo Ricardo virava lobisomem. Mesmo assim resolvemos arriscar e fazer o campinho, e começamos a treinar, sempre de olho na casa do Seo Ricardo, o suposto homem lobo.
Passaram alguns dias, e no meio de um dos treino notamos que idoso nos observava, coisa que não tinha acontecido antes. Decidimos parar o treino e irmos embora.
Passaram-se alguns dias, mesmo com medo voltamos a treinar, e de novo ele voltou a nos observar. Paramos novamente o treino e fomos embora, porém chegando em casa contamos o acontecido ao um primo já adulto.

Ficou decidido que no dia seguinte o primo iria conosco no treino, e ficaria por lá até acabar. No outro dia à tarde fizemos o que estava combinado. Chegamos lá e começamos a treinar com o nosso primo de segurança. Porém não demorou muito e o até então homem lobo apareceu na porta da casa dele e ficou nos observando. O primo segurança mandou que continuássemos treinando normalmente.
Para o espanto de todos o idoso veio até nós, e se dirigiu ao primo pedindo a ele auxílio para que fossemos até sua casa ajudá-lo a arrastar um guarda roupas para dentro da sua casa, que há muito tempo precisava fazer, mas tinha receio de pedir ajuda na comunidade, pois já sabia o que o povo falava a seu respeito.

Após ajudá-lo a fazer o pesado serviço, Seo Ricardo passou um café, fritou uns bolinhos de chuva e nos serviu, pedindo para nos sentarmos à mesa com ele. Durante o café ele nos foi esclarecendo alguns mitos ao seu respeito, como o fato de que à noite via-se luzes e barulhos estranhos vindo de dentro da sua casa. O clarão das luzes e o barulho, segundo ele, eram de sua televisão Telefunken, uma autêntica caixa de abelhas movida à bateria de carro, a qual ele levava para carregar de vez enquanto.
Dizia ele que gostava muito de assistir aos bangues- bangues do John Wayne, Terence Hill, e entre outros, muitos comuns na época.
Também explicou que quando a bateria descarregava, e ele ficava sem assistir à televisão à noite, como tinha insônia, andava pelas madrugadas, sem rumo pelos pastos e estradas da região, sendo esse o motivo das pessoas disserem de ele ser um lobisomem. No caso dele, ele foi vítima da típica mentira que foi contata mil vezes e tornou-se verdade.

Enfim, Seo Ricardo não era nenhum lobisomem ou algo ruim parecido, era apenas uma pessoa solitária, que fora abandonada pela família devido aos problemas com o álcool, e também ter perdido tudo por causa disso, além de carregar consigo problemas mentais, de leve acredito.
Vivia ali pois achou aquele barraco abandonado e ninguém ainda tinha pedido para ele sair. Sobrevivia de pequenas ajudas de amigos de outrora, e quando vinha à cidade fazia a feira com as sobras do Mercadão Municipal, também na volta passava pelos frigoríficos onde arrecadava mais alguma coisa. Caso contrário estaria nas ruas como muitos outros que enveredam para esse tipo de vida.
Infelizmente Seo Ricardo veio a falecer pouco tempo depois da gente o conhecer pessoalmente.

Texto:
Paulo Cesar – PC