quarta-feira, 16 de novembro de 2022

O TEMIDO TROFÉU TRANSITÓRIO DOS VETERANOS PERNAS DE PAU

Fiz parte por quase vinte anos dos Veteranos Pernas de Pau, um clube de futebol formado por boleiros com idades acima dos quarenta anos, fundado lá em 1971 pelo senhor Takao Kawakami (antiga Loja Kawakami) junto com outros boleiros amigos dele na época. O Perna de Pau completou cinquenta anos em plena pandemia do COVID, no conturbado 2021, e naquele momento sem sequer poder bater uma bolinha, e muito menos fazer uma festinha.

Dentre muitas peculiaridades, o clube é famoso pelos disputados torneios que temos lá no Centro de Treinamento, onde até a imprensa local disputa espaço para marcar presença para cobrir o evento, e também participar da confraternização após as disputas, e que é sem dúvida o ponto alto da festa.

No período em que o torneio é disputado, o grupo dos Veteranos Pernas de Pau Tupã, com aproximadamente sessenta sócios e mais alguns convidados é dividido em quatro equipes, com nomes bem sugestivos: Feios, Magros, Gordos e Bonitos. Ao contrário de você que está lendo e deve estar pensando, para jogar na equipe dos gordos o boleiro não precisa necessariamente estar acima do peso, regra essa que vale para todas as outras equipes. Se fosse cumprir essa exigência o time dos Bonitos nem iria existir, é só uma forma divertida de separação das equipes.

O torneio tem muitas premiações individuais e coletivas, sendo elas as mais destacadas a do artilheiro, do jogador mais disciplinado, jogador mais chorão, equipe campeã, do melhor jogador, entre outras não menos importantes. Porém tem uma premiação que todos fogem dela, o temido troféu transitório de PERNA DE PAU do semestre. Vale destacar que o troféu transitório não pode de forma alguma ser dado aos boleiros convidados, por mais pereba que ele seja, o troféu tem que ficar em casa. Outra peculiaridade é quem escolhe o grande PERNA DE PAU, aliás a gente nem sabe o critério direito, só sabe que a comissão é vitalícia e soberana, não havendo brechas para posteriores recursos.

O troféu do PERNA DE PAU, de preferência, é dado aqueles jogadores que têm alguma condição técnica, que saiba jogar bola, que é do ramo, como gostamos de dizer, porém que durante o torneio não consiga desempenhá-la de modo que possa ajudar sua equipe, ou então que fizesse alguma coisa bisonha, do tipo chutar o ar ao invés da bola, matar a bola de canela, enfim, outras lambanças que caracterizavam a má fase do boleiro durante o torneio.

Já na divisão das equipes podemos prever os candidatos favoritos ao troféu transitório, pois como disse, a escolha recaia quase sempre sobre os de melhores técnicas, salvo se algum de técnica menor fizer muita lambança, ai não tem jeito, será ele mesmo. Caso contrário evita-se escolher aquele boleiro que começou a chutar a gorduchinha já depois de alta idade né, ai perderia a graça.

Os torneios antigamente eram realizados duas vezes ao ano, o de inverno e o de verão. O feliz contemplado com o troféu tem a difícil missão de deixá-lo pelo periodo entre um e outro torneio em sua residência, na estante junto à televisão de preferência e ainda por cima tirar fotos e mostrar lá no clube. Para se livrar do incomodo de ficar todo dia vendo aquela coisa ali na estante, só no próximo torneio mesmo, caso não seja escolhido novamente.

Como disse no começo, fiz parte do clube por quase duas décadas e tive felizmente essa dolorosa missão de guardar o troféu na estante de casa apena uma vez, mas ainda acho que minha escolha foi injusta, errar uma cobrança de pênalti decisiva é normal, num jogo de futebol fervendo você chutar mais o chão que a bola é irrelevante.

Texto:
Paulo Cesar - PC