sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

BEIRA BREJO, O CAMPINHO DE FUTEBOL COM LIGEIRA INCLINAÇÂO

Para se jogar futebol você só precisa de uma bola e um campo, mesmo que este seja irregular, cheio de pedras, com buracos ou com outros tipos de obstáculos, perfeitamente contornáveis pelos boleiros durante uma aquecida pelada.
Porém o Beira Brejo simplesmente extrapolava tudo isso, pois além de ter todos os requisitos que citei acima, ele ainda tinha um outro requisito, um plus a mais,  era "penso" ou seja, tinha uma pequena inclinação brejo abaixo.
Naqueles tempos em que longe vai, quando estava na sexta série do antigo ginásio, eu estudava com um garoto de origem nipônica, o qual era filho de agricultores que cultivavam hortas nos brejos do antigo Bairro Modelli, na hoje populosa Zona Leste aqui em Tupã.
Volta e meia após as aulas o japinha me convidada para passar as tardes lá no sitio, eu mais que rapidamente aceitava, pois a mãe dele sempre servia uns docinhos.

Nessas idas e vindas, resolvemos descer um pouco mais sitio abaixo, perto de um brejo, pois ficamos sabendo que por ali havia um campinho de futebol, e às tardezinhas a molecada da região se reunia para bater uma bolinha, então fomos à caça. Chegando ao local indicado, realmente existia tal campinho, e também a molecada já batendo a sua bolinha. 
Nesse primeiro não participamos do treino, pois como já havia começado e também a gente não conhecia o pessoal, resolvemos só ficar assistindo. O campinho tinha todas as imperfeições possíveis, além de ser inclinado em direção ao brejo que era seu vizinho.

As imperfeições do campo eram perfeitamente contornáveis pelos pequenos boleiros, porém o problema maior era quando a pelota caia dentro do pântano, pois era uma drama para buscá-la. Como lá também valia o famoso "quem chuta fora busca", quando um menino mais medrosinho chutava e caia no brejão era problema, pois ai começavam os delírios adquiridos através dos desenhos e filmes da TV. Para não ir buscar a bola, dava a desculpa que tinha jacaré, sucuri, preás, e outros bichos na dentro. Ficava com essa frescura até que outro moleque mais corajoso ia buscar, e então podiam recomeçar o treino. 

Nós treinos seguintes que participamos, eu sempre tomava o máximo de cuidado para num lance fortuito não chutar a bola lá, mas a "Lei de Murphy" infelizmente é infalível, e aconteceu algumas vezes comigo. Como nessa época era considerado um "maloqueiro" pela minha galera, nunca deixei ir buscar a bola. Dito isso, faço aqui uma ressalva, o medo de entrar naquele lamaçal era imenso, porém só digo uma coisa, algo incorporava em mim naquela hora, pois até hoje não acredito que realizei essa proeza.

Texto:
Paulo Cesar - PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aqueles que amamos chamar de arranca toco, racha canela, quebra dedo, e entre outros.



quinta-feira, 16 de novembro de 2023

O ANTIGO 4º GRUPO ESCOLAR DE TUPÃ

Naqueles tempos eu acordava todos os dias ali pelas seis da manhã, sempre para ir ao pasto vizinho de casa buscar lenha, para que minha saudosa vó pudesse acender o seu fogão caseiro e fazer aquele cafezinho gostoso, passado no pano de saco, que só ela sabia fazer. Durante toda semana essa era a rotina cruel que eu fazia para ir à escola, que ficava um pouquinho longe de casa, para aprender o ABCD. Porém eu nem ligava, pois sabia que logo mais viria a gostosa recompensa.
Na minha agitada vida escolar de antigamente, passei por vários colégios aqui da cidade, dentre os quais fui muito feliz e também fiz muitas amizades. Entre todas essas instituições que percorri, o velho 4° Grupo, hoje chamado Anísio Carneiro, foi o mais peculiar para mim. Digo isso pois, ali tinha um pessoal realmente diferente, que me agradava muito, sem contar que entre as salas de aula havia espaços que viravam rapidinho um ajeitado campinho de futebol, que nos proporcionavam bater uma bolinha no intervalo das aulas. A única coisa que "zicava" tudo, era ter que assistir as aulas, a etapa mais chata da aventura.

Apesar do 4° Grupo naquela época ser a única escola que não tinha uma quadra poliesportiva, isso não impedia da gente bater uma bolinha na hora do recreio, pois como já disse, havia muitos espaços entre as salas de aula, e para ajudar mais um pouquinho, tinha também um belo gramado em uma de suas laterais, mas esse espaço ficava para a molecada mais grande.
Com isso, após bater aquela merenda abençoada, logo íamos improvisar o campinho e começar o jogo, afinal o nosso negócio era comer a bola.


Só lembrando que as regras eram as mesmas do futebol de rua, ou seja, um calçado como trave, a bola era uma coisa qualquer, que lembrasse uma esfera, e que pudesse ser chutada, enfim, coisas que não causassem punição mais severas caso os inspetores nos levassem para a diretoria, o que quase sempre acontecia. Então caso levássemos bolas ou qualquer outro objeto para utilizar durante o jogo, eles poderiam até chamar nossos pais, ai o bicho pegava de jeito em casa.


Outro detalhe era de que, cada sala de aula que tinha molecada que batia uma bolinha no intervalo, ocupava o seu espacinho. Jamais jogava-se sala contra sala, pois a rivalidade era ferrenha e a confusão era certa. Qualquer jogada um pouco mais ríspida, o pau quebrava de acordo, e todos acabavam na diretoria. Essas disputas a gente deixava reservada lá para os jogos interclasses.

Quando disse lá no começo que a recompensa logo viria, me referi ao joguinho no intervalo, pois naquela tenra idade, o que mais eu queria era jogar futebol, e nem imaginava o valor de se receber uma boa educação escolar. Para mim, aquilo era pura imposição de minha mãe e de minha vó, que sempre diziam que um dia serviria para alguma coisa na vida, e elas realmente tinham razão.
O velho 4° Grupo deixou muitas marcas em mim, além daquelas de que quando caia no concreto do campinho improvisado e ficava todo ralado, e que nessas horas o ainda ardido Merthiolate agia sem dó, também as belas e sólidas amizades que fiz, as quais depois de mais de quatro décadas ainda continuam vivas como outrora.

A Escola Estadual de Primeiro Grau, o famoso 4° Grupo da época situa-se na baixada da rua Iporans, para os saudosos nas proximidades dos extintos Supermercado Sesi, Bar e Bocha do Klinzie, Aguapeí Veículos, também tinha uma Serraria que não lembro mais o nome, bem no coração da Vila Sapo.


Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela, entre outros.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

O 12° JOGADOR FOI UM TAL DE "LEI DA FÍSICA".

No final do primeiro tempo nosso time estava perdendo de 10 x 0. Foi só dar o intervalo, e na volta quando mudou o lado, e começamos a atacar "ladeira abaixo", nosso time conseguiu empatar o jogo em 10 x 10. Sem sombra de dúvidas, nesse dia ai, o melhor jogador em campo foi um tal de "Lei da Física", o qual jogou um tempo em cada time, e realmente fez a diferença.


Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela, entre outros"


terça-feira, 26 de setembro de 2023

A PRACINHA DA CASA DE FOGOS

Encravada num triângulo formado pelas ruas Guaianazes, Tocantins e José Mólica, e bem do ladinho de um antigo estabelecimento que comercializa fogos de artifícios, encontramos a Praça Manuel Amado, também conhecida como a Pracinha da Casa de Fogos.

No nosso contexto futebolístico aqui no blog, destaco que essa praça foi palco dos boleiros, ali nos anos 80, e também em boa parte dos anos 90. Sendo o ponto de encontro de jogadores de vários times, que se concentravam na pracinha aos domingos após o almoço para rumarem aos destinos dos jogos, queira na zona rural, como também aqui pela cidade.


Alguns anos antes, quem também se reunia para organizar uma pelada era a molecada da época, aos quais me coloco. Essas reuniões aconteciam durante a semana, após as aulas, pois ali por perto tinha um campinho. As reuniões para a formação dos times eram feitas na praça, pois assim não se perdia tempo, era chegar no campo e por a bola para rolar, sem contar que de quebra a gente curtia os fogos de artificio, que era muito comum na época. Pois o pessoal que ia comprá-los, sempre pediam uma espécie de demonstração antes adquiri-los, e isso para nós era um deleite só.

Texto:
Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela"

terça-feira, 29 de agosto de 2023

TORNEIO DE FUTEBOL DO PESSOAL DA ÁREA DA SAÚDE

O ano acredito que seja por volta de 1998, disputa entre o time da Santa Casa (vermelho) x Clinica de Repouso Dom Bosco (azul), valendo pelo torneio anual do pessoal da área da saúde. O jogo foi bem disputado, mas ao final acabamos vencendo, e seguindo nas disputas.
A foto foi tirada com as equipes juntas, pois eram as únicas que representaram Tupã no referido torneio.
Esse Jogo foi realizado em Panorama, às margens do rio Paraná, na sede social de campo do Sindicato da Saúde, o Sinsaude.

Escalação da Santa Casa que usou o uniforme do MARAJOARA AC, tradicional time do futebol amador aqui de Tupã.:
Em pé - Evaldo, Eu, André e Edgar.
Agachados: Carlos Clemente, Denizar, Vaguinho Goleiro e Pôneis.

Nosso time foi vice campeão, perdemos na final para o pessoal de Garça, depois de muita confusão, bate boca e empurra, empurra. Temperos peculiares de uma acalorada e típica partida de futebol de várzea.
Foto cedida pelo Vagner Ferreira



Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela"

domingo, 4 de junho de 2023

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS - O JOGADOR PLANTA

No futebol de várzea das antigas, rezava a lenda de que colocar folhas em volta da barriga, tirava aquela dorzinha que aparecia, quando corríamos além do nosso normal, no decorrer de uma acalorada partida de futebol. Aquela dorzinha chata, que mais parecia que tinha alguma coisa queimando dentro da barriga.
Essa crendice ficava mais para o pessoal da zona rural, não deixando de acontecer com alguns boleiros aqui da cidade também.
Era bem normal quando a gente ia bater uma bolinha nas antigas e dava de cara com algum jogador, geralmente "pereba", com aquele monte de folhas em volta da barriga, mais parecendo com uma árvore ambulante, do que com um jogador de bola.
Eu também sentia essa tal dor, quando me esforçava além do que podia, e em algumas vezes resolvi experimentar desse artificio, porém nunca surtiu efeito algum, pelo menos que eu tenha percebido.


Acredito que não exista mais tal procedimento por conta dos atletas nos dias de hoje, por ser um costume dos antigos, e também pelo maior acesso em terapias para sanar esse tipo de problema. Como disse, essa crendice de se usar folhas ao redor da barriga é mais uma tradição futebolística das antigas, que praticamente está extinta, salvo um ou outro que apareça por ai de vez enquanto.
Esse costume estava muito relacionado especialmente com aquele futebol rustico que era praticado na zona rural antigamente, e que praticamente também desapareceu, o qual era cheio de peculiaridades.

E ai você boleiro das antigas, já usou aquela folhinha escondidinha, que um dia um amigo lhe falou que era boa? Por vergonha ou para evitar a zuação, que é normal no mundo do futebol, a maioria dos boleiros escondia a folhinha milagrosa sob as vestes.

Texto:
Paulo Cesar - PC
minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, o futebol que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, entre outros.


segunda-feira, 22 de maio de 2023

PALMEIRINHAS FUTEBOL CLUBE

Nos meus tempos de escola sempre gostei muito de estudar no período da manhã, pois o sol é mais fresquinho, e já no intervalo ou recreio como era chamado na época, aqueles trinta minutos regulamentares que deveriam ser destinados a uma rápida alimentação e descanso entre as aulas, ao contrário disso o nosso lance era comer a bola.
Após refeição rapidinha da santa merenda que a escola nos oferecia, nós não perdíamos tempo, e logo a gente improvisava uma bola de qualquer coisa que desse, papel, meia, tampinha de garrafa ou qualquer outro objeto que pudesse ser chutado, cujas traves eram feitas por chinelos, sapatos ou qualquer outra coisa perdida pela escola. Qualquer lugar da escola que tivesse um espacinho razoável para a gente correr. seria o nosso campo, e no Anísio Carneiro das antigas, esse tipo de espaço era que mais tinha.
Na maioria das vezes essas artes nos rendiam alguns minutos na diretoria da escola. que além do longo sermão da inspetora chefe, ainda existia o famoso puxão de orelhas, que para nós, apesar de doer um pouco, era uma espécie de troféu, pois coroava toda nossa fama de "espirito de porco" perante ao resto dos alunos.

Depois das aulas, bem de tardezinha, a molecada do bairro onde morávamos se reuniam para formarem o tradicional treino "saidera'. Depois de um tempo reunidos, soltavam a lista com a escalação para o "pega" da tarde. Estar entre os primeiros escolhidos da lista era sinal de estávamos entre os melhores do pedaço, que éramos "bom de bola", e isso inflava nossos egos e criava a expectativa de alcançar um dia o tão sonhado profissionalismo.
Aos poucos esse sonho era incrementado pelas diversas "peneiras" que aconteciam pela cidade, onde os clubes escolhiam a molecada para fazerem parte de seus elencos. As categoria eram chamadas de "Dentinho", “Dente de Leite”, e "Dentão", o que nos dias de hoje correspondem aos sub-10, sub-14 e sub-16.

Foi por ai que começou meu caminhar pelo times menores da cidade, pois numa dessas peneiras, o então técnico do Palmeirinhas, professor Luizinho Sapateiro fez o convite para que eu fosse fazer um teste no time dele.
Á principio fiquei meio na dúvida, pois eu corintiano roxo desde a gema, jogar pelo Palmeiras? Mas o sonho de ser um jogador profissional falou mais alto, abri uma exceção e fui.
Não foi muito difícil de conquistar uma vaga no time do Luizinho, porém o balde de água fria veio quando de cara ele disse que eu jogaria de zagueiro central.  Zagueiro central, logo eu que adoro fazer gols, mas como sonhava com coisas maiores, e era pegar ou largar, aceitei de boa. 
Depois de muito treinar, finalmente iria começar o campeonato da categoria dentinho. 

Quase perto das oito horas da manhã de um domingo, caia um fina garoa, quando o portão do campo do campo do Almoxarifado da Cecap se abriu para um bando de moleques ansiosos, que carregavam a tiracolo suas sacolinhas das mais variadas estampas, e que acomodavam carinhosamente suas chuteiras, entrarem.
O vestiário era mal iluminado e com bancos de madeira alinhados às paredes, apesar do ambiente escuro, os olhos da garotada brilhavam com a oportunidade de pisar pela primeira vez em um campo oficial. Para mim que sempre joguei na rua ou nos campinhos todos cheios de buracos, aquilo era a glória.

Na hora de entrar em campo então foi o apogeu, fique tão feliz que nem senti os efeitos da terrível goleada que nosso time levou. O campeonato prosseguiu por várias semanas, porém o nosso time por mais aplicado que fosse, não conseguia fazer frente aos bons times da época. Dentre os bons times da época cito o Brasinha do Machado, o São Paulinho do Miguel, e a temida Escolinha do Professor Jairo, times esses que dominavam os campeonatos menores de Tupã nesse tempo.
Nos anos seguintes ainda joguei pelo Palmeirinhas, que com apoio de algumas empresas, conseguiu montar times melhores e mais estruturados. Mais tarde passei por outros times da cidade, até cair a ficha de que não dava mais para ser o tão sonhado jogador profissional. A partir de então decidi que não disputaria mais jogos valendo por campeonatos, apenas bateria minha bolinha sem compromisso.

Texto:
Paulo Cesar - PC

segunda-feira, 1 de maio de 2023

QUE LUZ É ESSA?

Lá pelos idos de 1984, na década batizada como "A charrete que perdeu o condutor", pelo maluco beleza Raul Seixas, eu tinha uns primos que moravam em uma grande fazenda ali pelos lados do Bairro Itaúna, no vizinho município de Iacri/SP.
Nessa importante fazenda havia diversos segmentos agropecuários, que exigiam muita mão de obra, e por causa dessa demanda existiam muitas residências em aglomerados pela fazenda, e que recebiam o charmoso nome de colônias. Meus primos moravam em uma dessas colônias, numa das casas que fora cedido à família pelo dono da fazenda na assinatura do contrato.
A família dos primos trabalhava no setor do café, mas além do carro chefe, que era o café, ainda tinha o plantio de amendoim, milho, a pecuária leiteira, entre outras cultivos.
De todos os cultivos dessa grande fazenda, destaco uma icônica plantação de eucaliptos, pois formava uma verdadeira cerca viva em torno da entrada da fazenda, um grande e misterioso cinturão verde que chegava a botar medo pela sua dimensão, e que é o tema principal dessa divertida resenha.

Na fazenda tinha um time de futebol formado em sua maioria pelos seus trabalhadores, alguns amigos, e parentes que iam aos domingos na fazenda passear, e eu enquadrava num desses casos. O time era meia boca, pois a cada domingo era uma formação diferente, mas dava para se divertir, competir, nem tanto.
Como não podia deixar de ser, pelo menos uma vez por mês eram realizados pequenos bailinhos nas residências dos colonos, pequenos arrasta-pés domésticos, onde os participantes eram geralmente o pessoal do lugar e mais alguns convidados. Na maioria das vezes, como ainda era difícil de se ir a outros eventos, pelo acesso ser difícil, os namoros e casamentos aconteciam entre eles por ali mesmo, ou às vezes com alguns visitantes. Só para constar, eu não perdia um bailinho, pois unia o útil ao agradável, arrastava o pé à noite, e na tarde do domingo batia minha bolinha.
Jogava no aspirante mesmo, pois além de não ter cobrança por resultados, o jogo acabava mais cedo e dava tempo de pegar o ônibus de volta para Tupã. Outro motivo também era de que o caminho que fazia na volta teria de passar no meio dos eucaliptos, e que dava um medo danado quando estava escurecendo.

Existia uma lenda rural, em que os antigos moradores da fazenda diziam, em algumas noites aparecia uma estranha luz no meio dos eucaliptos. Essa suposta luz quando aparecia, segundo eles, cortava de fora a fora a plantação.  Eu para evitar tal encontro com essa misteriosa luz, jogava no time B da fazenda, o chamado Cascudão, e seguia a vida feliz, e sem contratempos..
O tempo foi passando e eu sempre fazendo o mesmo expediente, sempre resistindo aos pedidos do técnico do time para jogar no time principal, mas nunca revelando o real motivo pela recusa. Como tudo nessa vida é cíclico, enjoei dos bailinhos e com isso deixei de jogar pelo time de meus primos. Acabei não fazendo mais aquela via sacra mensal, como isso a história da estranha luz, que nunca tinha visto, mas que acreditava piamente devido aos relatos dos moradores, principalmente de meu tio Caetano, um baiano cujo os acertos com ele eram feitos no fio do bigode, acabou caindo no esquecimento.

Alguns anos depois iria acontecer uma grande programação na fazenda, e dentre elas uma seria um torneio de futebol no domingo. Como nunca fui de negar um convite para bater uma bolinha, meus primos acabaram me convencendo a participar, Atrelado aos festejos iria ter um bailão na véspera, então lá fui eu unir o útil ao agradável novamente. Nesse tempo eu já não andava mais a pé, a vida tinha melhorado um pouquinho, e já tinha na minha companhia uma genuína HONDA CG 125, ano 1978, cor vermelha, top de linha.
Como já não tinha mais preocupação com busão, pois estava motorizado e nem com a luz, afinal já era adulto, então não caia bem ficar com esse medinho de molequinho mimado pela vó. Isso posto, joguei no time principal e fomos ganhando as partidas, até ficarmos para grande final, porém perdemos nos pênaltis, com a noite já caindo sobre a fazenda.

Quando estava saindo da fazenda, passando pela estrada de terra, no meio dos eucaliptos, minha querida "cegezinha" afogou por causa de um banco de areia. A moto CG era quase perfeita, só tinha um pequeno negocinho chamado platinado, que às vezes dava um trabalho danado, e nas horas mais improváveis.
Quase calmamente desci da moto e comecei a dar partida, mas a danada não queria pegar de jeito nenhum, quando isso acontece a gente logo pensa em 'dar um tranco". Porém para que pudesse realizar tal procedimento, teria que achar uma pequena descida, para embalar a moto.
Tive que empurrar um tanto bom, e no meio desse tanto bom vieram à tona todas as estórias dos moradores à cabeça. Nesse instante deixei de ser aquele adulto machão e voltei a ser o molequinho mimado pela avó Maria Madalena, e o medo voltou a me habitar com força total, que qualquer barulhinho que fizesse no meio do mato já era suficiente para o meu coração disparar, e começar a imaginar coisas terríveis. 
Mas ainda bem que logo chegou a tal descida, acabei dando o tranco, e fui embora. Graças a Deus a tal luz estranha não deu as caras naquele dia, e o encontro fora adiado mais uma vez.

Meses atrás, dando os meus rotineiros passeios de motocicleta, passei pela estrada que dá acesso a fazenda, hoje uma vicinal muito bem construída. Na ocasião pude observar que ainda existe a plantação de eucaliptos, porém em bem menor quantidade e sem aquele glamour da época, com isso acredito que provavelmente a luz também não apareça mais, deva ter isso embora procurar um novo espaço. Melhor, assim nosso hipotético encontro não terá mais possibilidades de acontecer um dia.
Infelizmente a colônia de moradores nem existe mais, só restaram as casas já bem deterioradas pela ação do tempo, e onde era o campo de futebol, ao invés de jogadores e toda aquela agitação, hoje temos um belo rebanho de bovinos pastando tranquilamente. De recordação, apenas as traves, do belo campo de futebol de outrora, enferrujadas pela ação do tempo, uma pena!

Texto:
Paulinho - PC


segunda-feira, 10 de abril de 2023

O CAMPINHO DA RUA JOAQUIM ABARCA

Acredito que essa história tenha acontecido no ano de 1981, mas não tenho muita certeza, porém vamos ficar com uma margem de erro de um ano para cima, e de um ano para baixo, só sei que foi ali por perto da inauguração do Edifício Cinquentenário, o primeiro arranha-céu aqui da aldeia.
Nessa época na confluência das ruas Joaquim Abarca e Tupinambás aqui na minha querida Tupã, existiam dois lotes baldios com muito mato, nenhuma novidade, com alguns formigueiros, e bem irregular, mas também com uns pedaços de grama bem interessantes para a pratica do futebol. Nessa ocasião estamos sem um campinho de futebol fixo para brincar, então alguns amigos que moravam no entorno dessa região tiveram a brilhante ideia de limparmos o terreno e colocarmos traves, apesar das irregularidades dava para a bola correr bem.
Foi bem cansativo fazer a limpeza, pois além de muita sujeira para retirar do local, ainda tinha os amigos da onça, aqueles que ao invés de trabalhar, ficavam só nos palpites. Uns verdadeiros morcegões que iam direto na jugular, chupando o sangue dos coleguinhas.

Depois de muito esforço finalmente nosso campinho ficou pronto, e ai você sabe né, brota gente de tudo quanto é lado para bater uma bolinha, nem precisou ir atrás. Naquele tempo a molecada ouvia o barulho da bola a quilômetros de distância.
Fizemos muitos treinos legais por ali, muitas brigas também, discussões e outras coisas menos importantes, que não merecem muito destaque.
Dentre todos esses fatos que aconteceram um vale a pena comentar, pois naquele tempo na região do campinho só havia casas até a rua Joaquim Abarca, depois só existia o famoso Buracão da Vila Abarca, e a ai só ia voltar a ter casas novamente lá na rua Cezário Nogueira Cabral, já na baixada da Vila Abarca, nas imediações do extinto Clube Marajoara.
Como nesse tempo o buracão era literalmente o responsável em drenar toda a enxurrada resultante das chuvas, as bocas de lobo ou bueiros eram bem tímidos naquela região, quase não existiam. Era no sistema uma aqui, outra acolá.
Porém, bem pertinho do nosso campinho havia uma, para nosso desespero, e com isso nós tomávamos todo cuidado para que a bola não caísse nela.

Mas como nessa vida todo cuidado é pouco, um dia aconteceu. Um moleque que estava jogando pela primeira vez conosco conseguiu embirocar a bola bem na boca de lobo, e olha que ela foi retinha, como se fosse um imã que a estivesse atraindo, não deu tempo nem de fazer nada. Como na várzea a regra é clara e diz taxativamente, "quem chutar fora, busca", o pessoal começou a cobrar o infeliz calouro de que fosse buscar a bola para o jogo prosseguir. O pobre do garoto todo assustado começou a chorar em desespero, e dizer que tinha medo de entrar na tubulação, mas a molecada não queria nem saber. Com dó do moleque e também louco para o jogo prosseguir disse que iria buscar. Não era muito minha praia na época fazer esse tipo de caridade, ainda num jogo de futebol, mas se ninguém fosse buscar a bola, não ia ter mais jogo, pois só havia aquela bola à disposição.
Com a adrenalina alta e o instinto de moleque arteiro desci pela tubulação abaixo, mais ou menos uns cem metros. Depois de uns cinco minutos achei a majestade repousando numa poça d'água, onde a tubulação em que eu desci fazia conexão com outra tubulação, uma galeria no caso, já nas imediações rua Tocantins, uma rua abaixo campinho. Nessa galeria que tinha formato de uma caixa, havia uma escadinha e um alçapão de ferro, que eram utilizados pelo pessoal da manutenção para acessar, no caso de precisasse fazer algum serviço.

Então ai ficou fácil, pois foi só subir os cinco lances da escada e afastar o alçapão, que eu já estava na rua. Não via a hora de devolver a bola para o jogo recomeçar.
Quando cheguei de volta ao campo ainda tive que decidir se deixava, ou não o calouro que tinha chutado a bola no bueiro jogar. Pois como ele não tinha ido buscar, segundo a lei da várzea, eu que fui buscar tinha o direito de decidir. Eu sempre fui um ferrenho defensor da lei soberana da várzea, porém naquele dia abri uma exceção, e o jogo seguiu normalmente.

Texto: Paulo Cesar – PC
https://futebolraiz00.blogspot.com/

sexta-feira, 24 de março de 2023

FUTEBOL DE PRAIA EM BALNEÁRIO CAMBORIÚ

Nessa longa vida de boleiro de várzea posso dizer que já joguei em todos os pisos possíveis. Quando era menino corria atrás da bola nos paralelepípedo da Alameda do Carmo e em ruas com asfalto aqui da cidade, um pouco mais tarde nos campos gramados, desgramados e também de terra batida da região. Na falta de algum desses ia para as quadras de futebol de salão, chutar aquela bola que mais parecia um chumbo. Futebol de salão eu nunca gostei muito não, mas como sempre fui um fominha no quesito jogar bola, na falta de outra opção, ia o futsal mesmo. E por fim nas areias fofas da linda praia de Balneário Camboriú. No primeiro dia dei uma enroscada, pois a areia fofa da praia prende um pouco a bola, mas depois do segundo dia foi só felicidade.
Lá no de 1988, após nossa conclusão do ensino médio, eu e mais alguns amigos do famoso grupo The Balla's não tínhamos pagado aquele famoso carnê de formatura, com isso não íamos fazer parte daquela tradicional excursão que vem no final. Diante dessa situação resolvemos fazer uma proposta para uma das professoras que organizou a excursão dos alunos na época.

Como não havia mais lugares disponíveis no ônibus, sugerimos a ela que, caso conseguíssemos chegar a Camboriú, ela nos cederia um quarto no mesmo preço que os outros alunos haviam pago. Para a nossa surpresa, acredito que ela não botou que fé de que chegaríamos à praia, devido as dificuldades da época, disse que não cobraria nada pelos cinco dias que íamos ficar por lá, caso fossemos mesmo.
A proposta da professora nos mobilizou ainda mais, e no dia combinado os quatro Manés desceram para o litoral catarinense a bordo de um Corcel II de propriedade do pai de um dos Manés.
Chegando à praia pela primeira vez, ao invés de curtir as belezas peculiares da região, o boleiro aqui foi atrás de jogo de bola. Como sempre digo que vicio pouco é bobagem, lá vou eu ficar assistindo aos campeonatos oficiais de futebol de areia na praia, ignorando as belezas que os circulavam. 

De tanto assistir aos jogos e ao término desses, bater uma bolinha com a rapaziada nas peladas sem compromisso, lá pelo quarto dia acabei fazendo amizade com o técnico de um dos times por lá, que me deu uma elogiada de leve. Abrindo espaço para mim, quase salivado igual a um cachorro com sede, responder na língua da boleiragem que era do ramo.
Botando fé na minha conversa firme de craque de bola, ele me disse que faria um teste comigo, me colocando alguns minutos no jogo do outro dia.
Fui embora para a pensão em que estávamos alojados, que era meio longe da praia, feliz da vida. 
Aquela noite acho que foi a mais longa de minha vida, nunca amanhecia, mas vontade de vestir a camisa do Indaial Futebol Clube de Praia, esse era o nome do time, cujo técnico era natural dessa bonita cidade catarinense, superava tudo.
Enfim amanheceu, tomei aquele café reforçado para aguentar o tranco, afinal era tudo de graça mesmo, qualquer coisa ali ficava doce. Só lembrando que já estávamos no quinto e último dia do combinado. 

Pois bem, quando cheguei na praia todo empolgado para o jogo, recebi a triste e matadora notícia de que a rodada daquele dia tinha sido transferida, pois devido às chuvas tinha times que estavam com jogos atrasados e iriam faze-los justamente naquele dia. 
Foi um balde água fria nas minhas utópicas pretensões de ser descoberto ali por algum olheiro dos grandes clubes do futebol brasileiro. Uma viajada na maionese total de minha parte, coisa de um lobisomem juvenil, como dizia o saudoso Renato Russo, vocalista da Legião Urbana.
O que me restou foi bater uma bolinha sem compromisso com a rapaziada que estava por e curtir a praia, pois no outro dia iriamos retornar. 
Só para deixar consignado, chegando lá no Balneário, a professora com a qual havíamos firmado o trato, cumpriu todas as promessas que nos havia feito, e um pouco mais ainda.

Texto:
Paulo Cesar - PC

domingo, 5 de março de 2023

CAMPEONATO AMADOR DE PARNASO 2023

Estive neste domingo 05/03 logo pela manhã no distrito de Parnaso acompanhando uma partida válida pela terceira rodada do Campeonato Amador de Parnaso. Na ocasião iriam se enfrentar as equipes da Lajes Tamoyos contra a equipe local do CFZ Parnaso.
Como não podia ser, o clima era o tradicional do nosso querido e autêntico futebol menor, ou seja muita disputa dentro de campo, torcida inflamada fora dele, e muita reclamação com a arbitragem, se o enredo que envolve a disputa não for assim, não tem graça.
Como a falta de um campeonato amador de ofício aqui na cidade, o Zé Marreta e sua equipe estão suprindo essa falta, realizando esse certame, que ao meu ver tem tudo para se tornar um evento oficial, devido ao sucesso tanto na organização, como no público, muita gente presente ao evento.
Durante minha incursão pelo jogo pude rever muitos amigos da época em que disputava os campeonato de várzea aqui na cidade, dentre eles destaco o lateral esquerdo Biro, sempre com o seu sorrisão peculiar no rosto. Também mando um agradecimento especial ao jornalista Cleiton Cesar que me auxiliou nessa matéria.

FICHA TÉCNICA:
CFC PARNASO 2 X 1 LAJES TAMOYOS
GOLS: Pires e João para o Parnaso, João Vitor para o Lajes Tamoyos.
ÁRBITRO: Dil
AUXILIARES: Neno e Morfe
EQUIPES
CFC PARNASO:
Guilherme, Emerson, Chico, Lele, Rhiam, Renan, Pires, Carlos, Vilela, Wesley e Guzinho. (Entraram durante o jogo: Marcos, Kayky, Gustavo) 
LAJES TAMOYOS
Branco, Gustavo, Antonio, Danilo, Wagner, Guilherme, Wesley, Kawã, João Vitor, Maycon e Pablo. 
(Entraram durante o jogo: Eder, Miguel e Luis)




Lance do jogo

Boa presença de público


Texto:
Paulo Cesar - PC

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

A SESSÃO É CINCO E DÉIS, CINCO E DÉIS CRUZEIROS

Cine Riviera
Morar na zona rural antigamente e não ter acesso à energia elétrica e com isso não poder ver televisão ou ouvir rádio com frequência, não era motivo suficiente para tornar nossas vidas uma monotonia. Muito pelo contrário, eram bem agitadas, principalmente durante o dia.
Pela manhã tínhamos o compromisso sagrado e certeiro com a escolinha rural, e na parte da tarde ficávamos livres para inventarmos um monte de brincadeiras, depois do futebol é claro.
À noite não tinha jeito, éramos pequenos e tínhamos medo de sair para brincar no quintal, pois no sitio é tudo escuro e além disso vivíamos aterrorizados com as famosas lendas rurais que nossos pais e avós enfiavam a ferro e fogo em nossas mentes, sem contar quando falavam do Lobisomem, Mula Sem Cabeça e outras bobagens da época.

Na falta da televisão a diversão predileta era o futebol, e em qual lugar relativamente plano fazíamos rapidamente um campinho e o pau quebrava. Outra diversão que também gostávamos era brincar de Tarzan, personagem muito popular nos longínquos anos 70, aliás época em que ocorreu essa passagem.
Na região em que morávamos existiam pequenos bosques, os quais nós chamávamos charmosamente de matas, e os transformávamos em autênticos cenários, dignos de botarem inveja aos diretores dos filmes do Rei das Selvas. Outra coisa importante, apesar de toda minha magreza na época, o papel de Tarzan era sempre meu, merecido, afinal era sempre eu quem inventava e dirigia as brincadeiras.
Essa ideia de montarmos nossos cenários vinha dos inúmeros filmes do Tarzan que assistíamos nas matinês de domingo à tarde no Cine Riviera.
Naquela época o majestoso Riviera exibia pelo menos uma vez por mês um filme do Tarzan.
Como no sitio não tínhamos como saber, pois informação era difícil, e vir à cidade era mais difícil, pois vínhamos sempre no pé dois. Seguindo sempre então por essa lógica, de cada quatro domingos um filme do amigo da Chita. Outra coisa importante, o preço da entrada era sempre o mesmo, nunca mudava, então a grana ia contada, para entrada e para um palito de sorvete de fruta.

Depois do almoço, nos domingos em que nossa conta dizia que seria exibida mais uma aventura do nosso herói, a gente deitada o cabelo para a cidade, afim de chegar a tempo para a matine das quatorze horas. Depois de uma longa caminhada num sol quase sempre escaldante, chegávamos ao antigo Mercadão Municipal da Tabajaras, parar antes no Mercadão era de lei, pois uma de nossas diversões era ver os cartazes dos filmes que ficavam expostos, caprichosamente pintados pelo EMÍLIO PINTOR, torcedor fanático do Tupã FC e pai de um grande companheiro de futebol, o CARLOS TECLADISTA, que seguiu seu pai na vertente da pintura em letras.
Para nossa surpresa não ia passar o Tarzan, mas sim um lançamento do filme dos Trapalhões, sem problemas, a gente também gostava deles.

Antes da bilheteira abrir, sempre passava um senhor de meia idade, forte e com cara de poucos amigos, uma espécie de segurança do local, que organizava a fila para não virar bagunça. Quando ele não aparecida a fila virava uma zona total, às vezes a molecada saia até no braço.
Naquele domingo ele estava bem mais alinhado do que nos anteriores, ai eu pensei comigo, tem algo errado. E não é que tinha mesmo!
O senhor que naquele dia estava até de gravata, chegou de frente a fila e disse em tom todo educado, o que não era normal:
- Atenção, hoje devido ao filme ser dos Trapalhões o preço é cinco e déis, cinco cruzeiros a meia entrada e déis a inteira.
Sempre que tinha filme em lançamento os preços aumentavam, e aquele valor estava fora da nossa realidade, foi um balde de água gelada em nossos planos, pois sempre levávamos o valor justo para a entrada. Saímos da fila iguais àqueles cachorrinhos que acabaram de levar uma dura do seu dono, tipo com o rabo entre as pernas.

Como não ia adiantar ficar por ali marcando toca, descemos de volta ao Mercadão e torramos toda a grana em sorvetes na antiga Cibran Creme. Depois pegamos o longo caminho de volta para casa.
Já na saída da cidade, na vila Marabá, encontramos um colega que estava a procura de jogadores para completar o treino, que ia ter num campinho que ficava dentro do terreno do antigo Laticínio União.
Sempre passava por ali, mas nunca tinha notado tal campinho. Não deu outra, apesar dos caras serem rivais, aquele dia era em favor de uma causa nobre, não perder o dia.

Texto:
Paulo Cesar - PC

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

O MARAVILHOSO MUNDO DO FUTEBOL DE VÁRZEA

Até que me provem ao contrário, acredito que se aprende a ler e a escrever numa sala de aula, a cozinhar na cozinha, a nadar na água e a jogar futebol no campo. Este último quesito merece uma explicação mais detalhada.

Quando disse campo, não dei garantia de ser um campo com gramado impecável, onde um garoto calça uma chuteira e ganha intimidade com uma bola de futebol.
Não, o campo ao qual me referi é aquele campinho de terra, ou aquele cheio de buracos, que tem mais mato do que grama ou mesmo uma rua calçada de pedras ou com asfalto, onde garotos descalços jogam com qualquer coisa parecida com uma bola de futebol.

O futebol moleque praticamente acabou, aquele futebol em que a molecada era formada num ambiente livre, natural. como descrevi acima. Eu mesmo fui formado assim para o futebol. passei pelos pastos do velho bairro AFONSO XIII, disputando espaço com vacas, cavalos e afins, pelos terrenos baldios que ainda existiam na época na linda VILA MARABÁ, pelas praças da Aldeia TUPÃ, e nas próprias ruas também, numa época em que não havia congestionamento de carros, e uma das ruas mais utilizadas foi a RUA GUARANIS, entre a TUPIS e TUPINAMBÁS.
O futebol de rua de antigamente tinha uma peculiaridade, caso a bola chutada caísse no quintal daquela casa "x", ela não voltava mais. Isso tornava o jogo mais emocionante, pois além da descontração natural do jogo em si, também tinha o cuidado de não deixar a bola cair em lugar proibido.

Comecei brincando com bola de meia, depois com bola de borracha, e por fim com as pesadas bolas de capotão, que caso se fossem molhadas pareciam chumbo. Passei por toda essa evolução natural de um jogador de várzea.
O importante é você começar a ter o contato com a bola sempre com os pés descalços, isso é condição necessária.

O que faz o jogador de várzea ser diferente?
Primeira coisa: jogar na rua, ou em qualquer lugar ligeiramente plano, aprender a correr em qualquer tipo de espaço, cercado pelos obstáculos mais imprevisíveis, como carros estacionados, carros em movimento, muros, árvores, postes, tocos de pau, buracos, pilhas de tijolos.
Segundo: jogar sem cobranças, por vontade própria, diversão pura, espírito lúdico.
Terceiro: usar qualquer coisa parecida com uma bola de futebol, o pé descalço sempre e caso se machuque sem gravidade, procure resistir até o final do jogo.

TEXTO:
Paulo Cesar - PC