Naqueles tempos eu acordava todos os dias
ali pelas seis da manhã, sempre para ir ao pasto vizinho de casa buscar lenha,
para que minha saudosa vó pudesse acender o seu fogão caseiro e fazer aquele
cafezinho gostoso, passado no pano de saco, que só ela sabia fazer. Durante
toda semana essa era a rotina cruel que eu fazia para ir à escola, que ficava
um pouquinho longe de casa, para aprender o ABCD. Porém eu nem ligava, pois
sabia que logo mais viria a gostosa recompensa.
Na minha agitada vida escolar de antigamente, passei por vários colégios aqui
da cidade, dentre os quais fui muito feliz e também fiz muitas amizades. Entre
todas essas instituições que percorri, o velho 4° Grupo, hoje chamado Anísio
Carneiro, foi o mais peculiar para mim. Digo isso pois, ali tinha um pessoal
realmente diferente, que me agradava muito, sem contar que entre as salas de
aula havia espaços que viravam rapidinho um ajeitado campinho de futebol, que
nos proporcionavam bater uma bolinha no intervalo das aulas. A única coisa que
"zicava" tudo, era ter que assistir as aulas, a etapa mais chata da
aventura.
Apesar do 4° Grupo naquela época ser a única escola que não tinha uma quadra
poliesportiva, isso não impedia da gente bater uma bolinha na hora do recreio,
pois como já disse, havia muitos espaços entre as salas de aula, e para ajudar
mais um pouquinho, tinha também um belo gramado em uma de suas laterais, mas
esse espaço ficava para a molecada mais grande.
Com isso, após bater aquela merenda abençoada, logo íamos improvisar o campinho
e começar o jogo, afinal o nosso negócio era comer a bola.
Só lembrando que as regras eram as mesmas do futebol de rua, ou seja, um
calçado como trave, a bola era uma coisa qualquer, que lembrasse uma esfera, e
que pudesse ser chutada, enfim, coisas que não causassem punição mais severas
caso os inspetores nos levassem para a diretoria, o que quase sempre acontecia.
Então caso levássemos bolas ou qualquer outro objeto para utilizar durante o
jogo, eles poderiam até chamar nossos pais, ai o bicho pegava de jeito em casa.
Outro detalhe era de que, cada sala de aula que tinha molecada que batia uma
bolinha no intervalo, ocupava o seu espacinho. Jamais jogava-se sala contra
sala, pois a rivalidade era ferrenha e a confusão era certa. Qualquer jogada um
pouco mais ríspida, o pau quebrava de acordo, e todos acabavam na diretoria.
Essas disputas a gente deixava reservada lá para os jogos interclasses.
Quando disse lá no começo que a recompensa logo viria, me referi ao joguinho no
intervalo, pois naquela tenra idade, o que mais eu queria era jogar futebol, e
nem imaginava o valor de se receber uma boa educação escolar. Para mim, aquilo
era pura imposição de minha mãe e de minha vó, que sempre diziam que um dia
serviria para alguma coisa na vida, e elas realmente tinham razão.
O velho 4° Grupo deixou muitas marcas em mim, além daquelas de que quando caia
no concreto do campinho improvisado e ficava todo ralado, e que nessas horas o
ainda ardido Merthiolate agia sem dó, também as belas e sólidas amizades que
fiz, as quais depois de mais de quatro décadas ainda continuam vivas como
outrora.
A Escola Estadual de Primeiro Grau, o famoso 4° Grupo da época situa-se na
baixada da rua Iporans, para os saudosos nas proximidades dos extintos
Supermercado Sesi, Bar e Bocha do Klinzie, Aguapeí Veículos, também tinha uma Serraria que não lembro mais o nome,
bem no coração da Vila Sapo.
Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela, entre outros.