sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

BEIRA BREJO, O CAMPINHO DE FUTEBOL COM LIGEIRA INCLINAÇÂO

Para se jogar futebol você só precisa de uma bola e um campo, mesmo que este seja irregular, cheio de pedras, com buracos ou com outros tipos de obstáculos, perfeitamente contornáveis pelos boleiros durante uma aquecida pelada.
Porém o Beira Brejo simplesmente extrapolava tudo isso, pois além de ter todos os requisitos que citei acima, ele ainda tinha um outro requisito, um plus a mais,  era "penso" ou seja, tinha uma pequena inclinação brejo abaixo.
Naqueles tempos em que longe vai, quando estava na sexta série do antigo ginásio, eu estudava com um garoto de origem nipônica, o qual era filho de agricultores que cultivavam hortas nos brejos do antigo Bairro Modelli, na hoje populosa Zona Leste aqui em Tupã.
Volta e meia após as aulas o japinha me convidada para passar as tardes lá no sitio, eu mais que rapidamente aceitava, pois a mãe dele sempre servia uns docinhos.

Nessas idas e vindas, resolvemos descer um pouco mais sitio abaixo, perto de um brejo, pois ficamos sabendo que por ali havia um campinho de futebol, e às tardezinhas a molecada da região se reunia para bater uma bolinha, então fomos à caça. Chegando ao local indicado, realmente existia tal campinho, e também a molecada já batendo a sua bolinha. 
Nesse primeiro não participamos do treino, pois como já havia começado e também a gente não conhecia o pessoal, resolvemos só ficar assistindo. O campinho tinha todas as imperfeições possíveis, além de ser inclinado em direção ao brejo que era seu vizinho.

As imperfeições do campo eram perfeitamente contornáveis pelos pequenos boleiros, porém o problema maior era quando a pelota caia dentro do pântano, pois era uma drama para buscá-la. Como lá também valia o famoso "quem chuta fora busca", quando um menino mais medrosinho chutava e caia no brejão era problema, pois ai começavam os delírios adquiridos através dos desenhos e filmes da TV. Para não ir buscar a bola, dava a desculpa que tinha jacaré, sucuri, preás, e outros bichos na dentro. Ficava com essa frescura até que outro moleque mais corajoso ia buscar, e então podiam recomeçar o treino. 

Nós treinos seguintes que participamos, eu sempre tomava o máximo de cuidado para num lance fortuito não chutar a bola lá, mas a "Lei de Murphy" infelizmente é infalível, e aconteceu algumas vezes comigo. Como nessa época era considerado um "maloqueiro" pela minha galera, nunca deixei ir buscar a bola. Dito isso, faço aqui uma ressalva, o medo de entrar naquele lamaçal era imenso, porém só digo uma coisa, algo incorporava em mim naquela hora, pois até hoje não acredito que realizei essa proeza.

Texto:
Paulo Cesar - PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aqueles que amamos chamar de arranca toco, racha canela, quebra dedo, e entre outros.