terça-feira, 16 de agosto de 2022

VÍCIO POUCO É BOBAGEM – BEIRA COVA, O MISTERIOSO CAMPO DE FUTEBOL DE TERRA BATIDA


Na imagem ao lado podemos ver um pequeno grupo de garotos apaixonados por futebol, que joga o glorioso esporte bretão em qualquer lugar ligeiramente plano. E quando digo em qualquer lugar, é qualquer lugar mesmo, até mesmo entre as silenciosas sepulturas de um campo santo.
Pegando um gancho na imagem em que os meninos brincam tranquilamente entre os silenciosos túmulos, lembro-me de um campo de futebol que tínhamos aqui em Tupã (SP), lá nos longínquos anos 80, chamado carinhosamente pelos boleiros da época de "BEIRA COVA", onde hoje se localiza o valorizado bairro Tupã Mirim, próximo à também à saudosa COPLAP, importante cooperativa de leite, que também infelizmente não existe mais.
O imponente BEIRA COVA tinha esse nome, não oficial, diga-se de passagem, pois uma de suas laterais era literalmente grudada ao muro do CEMITÉRIO DA SAUDADE.
Outra peculiaridade do BEIRA COVA era o fato de que o campo não tinha grama, sendo de terra batida, o famoso terrão vermelho, um glamour só.
Apesar de morar bem distante do referido, eu disputei algumas partidas naquele misterioso campo. Uma que me marcou bastante foi quando jogamos debaixo de uma chuva danada. Pensem só, um campo de terra vermelha e chovendo, imaginem o estado das roupas dos jogadores ao final do jogo? Com certeza faria qualquer suíno morrer de inveja, e a mãe do atleta morrer também, só que de raiva. Para os lameiros da época era um prato cheio.
Minha saudosa mãe não gostava muito quando eu ia jogar por aquelas bandas, pois teria trabalho para desencardir a roupa, porém o coração de mãe sempre falava mais alto e ficava tudo certo.
Em uma das vezes, só pra variar, desde aqueles tempos meus chutes na bola já não eram lá essas coisas, e em um dos chutes, a bola caiu dentro do cemitério, e como nas peladas quem chuta fora busca, rapidamente pulei o muro para buscá-la, fazendo valer a lei das peladas, afinal não tínhamos gandulas, e o jogo não podia parar.
Ao adentrar o “campo santo” avistei um velhinho fumando um cigarro de palha encostado em uma das sepulturas. Ao me ver o senhorzinho disse:
- Hoje tem bastante torcida garoto!
Olhei para todos os lados do campo e não vi ninguém, além dos jogadores em campo me esperando ansiosos pela volta da bola, e alguns que já estavam me xingando pela demora.
Quando voltei meu olhar de novo para o velhinho, surpresa, ela não estava mais ali. Confesso que no calor do jogo em que eu estava, nem me dei conta daquele fato e continuei o jogo na mais normalidade possível.
Algum tempo depois procurei saber com pessoas de mais idade que frequentavam o campo sobre detalhes do ocorrido. Fiquei sabendo que existiam histórias de que quando tinham jogos no Beira Cova, a plateia era formada pela população do cemitério. Principalmente pelos boleiros já falecidos, que ficavam ali sentados no muro assistindo aos jogos e cornetando os atletas, tipo a "turma do amendoim", como ficaram conhecidos alguns torcedores do Palmeiras que enchiam o saco do técnico Felipão.
Ouvi também que certa vez quando a bola caiu lá dentro, ela imediatamente retornou, seguida de um resmungo, mas isso não posso dizer se foi verdade, pois nesse dia eu não estava lá!

Texto: Paulo Cesar - PC

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS - O TEMIDO CARRINHO

A temerária jogada chamada de Carrinho no futebol consiste quando um jogador, na maioria das vezes um caneludo*, pereba, ou outro boleiro qualquer tenta tirar a bola do adversário, geralmente um jogador com mais habilidade, acertando a bola através de um escorregão.
Constitui quase sempre um lance defensivo, mas há ocasiões em que até gol é feito através do carrinho, a favor ou contra.

Só que muitas vezes o autor do carrinho não atinge somente a bola. Num carrinho no qual o boleiro usa o bote chamado de Boca de Jacaré, quando ele escorrega com as duas pernas abertas, geralmente ele nunca encontra a bola de futebol, mas sim as canelas do adversário. Dependo da intensidade da jogada, o jogador que praticou a inflação poderá ser expulso e prejudicar sua equipe.

Não há dúvida entretanto, que o carrinho oferece perigo à integridade física dos atletas e, portanto deveria ser banida para sempre do mundo do futebol. Tentativas já foram feitas para banir esse tipo de jogada, mas por enquanto as canelas e os tornozelos continuarão sofrendo.
Em tempo, o atleta caneludo é aquele jogador que tem poucos recursos técnicos para a prática do velho esporte bretão, então usa desse tipo de jogada para se impor no jogo.

Texto: Paulo - PC
"Minhas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, entre outros".

terça-feira, 9 de agosto de 2022

NOS TEMPOS DO PAR OU IMPAR

"Saudades de quando a nossa única preocupação era em ganhar o par ou impar para ver quem iria começar o jogo com a bola. Hoje em dia é só neurose na mente e um monte de boletos vencidos..."


Naqueles tempos das famosas peladas de rua, onde geralmente o confronto era o time da a rua de cima, a “elite” contra a rua de baixo, os chamados “pés de rato”. Até mesmo naqueles rachões realizados em campinhos improvisados, como num pasto cercado de bovinos, a forma padrão de se ver quem iria dar o pontapé inicial na bola, era o par ou ímpar.
Existiam muitas outras formas de se decidir, como o famoso papel, pedra, tesoura, o qual era feito na melhor de três, considerado demorado. Caso alguém tivesse alguma moeda, coisa difícil na época, também se fazia por esse meio, entre outros meios menos famosos.
O par ou ímpar era o preferido principalmente da molecada mais nova, pois era considerado bem mais rápido, sendo decidido em uma só rodada, dando assim mais rapidez no início do jogo.
Vez ou outra algum moleque tinha sorte e ganhava a disputa do par ou ímpar duas vezes ou mais, esse feito o tornava automaticamente o disputador oficial do jogo na equipe em que era escalado. Podia ser o maior pereba do time, mas se tivesse sorte no par ou ímpar, já tinha o afago da boleirada.

Texto:
Paulo Cesar - PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que adoramos chamar de racha canela, quebra dedo, arranca toco, entre outros.