quinta-feira, 14 de março de 2024

O GRANDIOSO TORNEIO DA COHAB l

Ali no começo dos anos 80, eu e meu primo Cidão tínhamos um timinho de futebol em sociedade, meio que de uso interno, pois apenas fazíamos amistosos com os times da vizinhança, sem muitas pretensões. Esses amistosos eram somente para a gente bater uma bolinha com um pouco mais de rivalidade, testando força com os vizinhos, e saindo um pouco da rotina que eram os treininhos dos fins das tardes. Para esses jogos dificilmente usávamos nosso fardamento oficial, o qual minha saudosa avó gentilmente tinha feito para nós, através do tingimento com corante de algumas camisas brancas usadas, as quais ela havia arrecadado com suas bondosas amigas. 
Como disse, dependendo da importância do jogo, nem usávamos as camisas, ia um time com camisa e o outro sem camisa mesmo, bem ao estilo pelada de rua. O importante era testar a rivalidade futebolística, e se divertir por tabela.
Porém, num desses amistosos, digamos mais importante, nosso time foi convidado para participar de um grande torneio que iria acontecer onde hoje é o Conjunto Residencial Cohab l, que nessa época ainda estava em fase de pré-construção.

Como iria ser um torneio um pouco mais chique, pensava eu, e com participação de equipes boas da cidade, ficamos com vergonha de usar o nosso uniforme tingido de corante, e fomos atrás de um fardamento de responsa para jogarmos o esperado torneio. Eu e o primo também fomos atrás de mais alguns jogadores, para reforçar o time um pouco mais, e não fazer tão feio.
Conseguimentos achar um rapaz, que tinha um time, e que prometeu nos emprestar o jogo de camisa. O rapaz apenas solicitou que a gente fosse buscar em sua casa no sábado à tarde, depois das quinze horas, pois era a hora que ele saia do trampo. 

Como combinado, no sábado, dia anterior ao grande torneio, eu e o Cidão partimos para a casa do rapaz buscar o fardamento. Chegamos na casa dele, que ficava lá no finalzinho da rua Itapicurus, mortos de cansados, pois morávamos na Vila Marabá, e tínhamos cortado a cidade inteira a pé para chegarmos ao destino. Não perdemos tempo, já fomos batendo palmas para anunciar nossa chegada. 

Porém, depois de alguns minutos, uma senhora de uns trinta anos mais ou menos, acompanhada de duas crianças, saiu para nos atender. Rapidamente e ansiosos, explicamos o porquê de nossa presença.
A mulher nos disse que o seu marido não lhe havia dito nada a respeito, porém que ele não demoraria a chegar.
Resolvemos ficar esperando por ele ali na rua mesmo, embaixo de um pé de coquinho, que íamos descascando e comendo, na medida que o tempo passava e a fome batia e nem sinal do rapaz chegar.

Perto das seis da tarde, já cansados de esperar, mas longe de desistir, ouvimos o apito do trem, pois estávamos ali do ladinho da via férrea, e naquele tempo o trem passava aqui pela cidade. Corremos para mais perto para ver melhor, a passagem daquele trem de carga, que devia ter facinho uns cinquenta vagões.
Ficamos por ali vendo o desfile épico daquela locomotiva, coisa linda! Mas em nenhum momento perdíamos o nosso foco, que era a chegada do rapaz.

Depois de alguns minutos, após a passagem do trem, eis que surge o esperado rapaz, já se desculpado do atraso, pois havia passado num buteco e ter perdido um pouco a noção do tempo. Enfim pegamos o fardamento, não era lá grande coisa, mas já ia deixar uma boa impressão na rapaziada.

No domingo de manhãzinha partimos para a disputa do torneio, uns a pé, outros com suas bikes surradas, mas o importante é que chegamos. Como ainda não conhecíamos o campinho em que ia ser realizado o torneio, achávamos que fosse gramadinho, com traves de ferro e redes. Ledo engano, pois era terrão puro, traves de bambu e tudo o que um campo de pelada tem, tinha ali.
Logo na chegada já ficamos sabendo que nosso jogo era o primeiro, e o time adversário tinha uma molecada já meio mais adulta.
Apesar disso, digo da diferença de idade, foi um jogão, pois conseguimos segurar o empate, e levamos para os pênaltis a decisão.

Seria um serie de três cobranças não alternada para cada time, ou seja, um time cobraria seus três, e depois o outro time cobraria os seus. As cobranças poderiam ser feitas por vários jogadores, ou apenas por um só. No sorteio ficou definido que ia começarmos batendo os pênaltis. Então seria eu, um outro menino e o Cidão, os cobradores da nossa equipes. Eu chutei a minha cobrança na mão do goleiro, que nem precisou se mexer para pegar. Irritado e já sem controle, e como podia, resolvi bater o pênalti no lugar do menino que ia bater. 

Como eu era o dono do time, o menino nem falou nada, somente me entregou a bola, para eu cometer o mesmo erro, e entregar a bola na mão do goleiro. O Cidão chutou o terceiro e acabou fazendo o gol, porém o time adversário acertou duas cobranças e eliminou a gente.
Depois desse balde de água fria, que eu praticamente joguei na cabeça do nosso time, nem ficamos por lá para assistir o restante do torneio. Aliás jamais ficamos sabendo quem foi o campeão.

Texto:
Paulo Cesar - PC

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