segunda-feira, 17 de junho de 2024

O MATA BURRO

Os mata-burros são formados por uma junção de estrados, com um pequeno espaço entre os mesmo, os quais funcionam como pontes, normalmente de madeira, concreto, aço, e também muitas vezes de troncos das arvores. Estes estrados ou troncos são instalados em cima de valas, previamente cavadas, e que permite que este mecanismo desencoraje os animais a atravessar a rudimentar ponte e fugir, ou impedir que alguma tropa errante invada e cause um grande estrago na propriedade. Essa espécie de engenharia rural das antigas ainda é muito usada até nos dias de hoje, algumas já com aquele ar de modernidade, como as construídas ao lado da porteira, deixando a passagem livre para os veículos.

Apesar de o tempo ter passado, e a modernidade ter chegado, o mata burro de madeira é sem dúvida ainda o mais encontrado nas pequenas propriedades rurais, devido o preço. Porém na falta de grana para comprar o estrado, o jeito é improvisar, e para isso são usados troncos de árvores, que são muitas vezes são retirados na própria propriedade, e que na prática dão o mesmo resultado. 
Neste contexto você deve estar se perguntando: "o que tem a ver o mata-burros com o futebol raiz, que é resenhado por aqui?". 

Quando menino, eu e os companheiros de bola morávamos na zona rural aqui de Tupã, ali por perto da tríplice fronteira rural, entre os bairros Santa Estela, São Martinho e Afonso XIII,  a famosa Encruzilhada, e com isso vivíamos perambulando pelos sítios e fazendas das redondezas atrás de campinhos de futebol para a gente bater aquela sagrada bolinha, porque ninguém é de ferro né? 
E nessa frenética procura nós encontrávamos pelo caminho os mais diversos tipos de mata-burros, sendo que a inspiração para essa inusitada resenha, foi que em algumas dessas procuras, algum burro se enroscava nos estrados que estavam ali sepucralmente deitados. 

Esse "burro" ao qual me referi, não se trata daquele tradicional ruminante de quatro patas, mas sim o de duas patas que corre atrás da bola. Como disse, às vezes algum 'burro jogador" enroscava a pernas nos vãos do mata-burro, geralmente quando estava de bicicleta, e perdia o equilíbrio no meio da travessia, enfiando um dos pés no buraco, às vezes sofrendo um ferimento um pouco mais preocupante, devido ter caído com a bicicleta por cima, ou então por simples distração mesmo, quando estava atravessando a pé, devido a ansiedade de encontrar logo o campinho de futebol. Esse último tipo de acidente na maioria das vezes era só o susto pela queda mesmo.   

TEXTO: PAULO CESAR - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de arranca toco, quebra dedo, entre outros".

domingo, 2 de junho de 2024

VOCÊ TERIA CORAGEM DE BATER ESSE PÊNALTI?

cobrança de pênalti é sempre importante no futebol, quando é final de campeonato, então nem se fale. 
Dê uma boa olhada na figura, e me responda com toda sinceridade, você acha que aguentaria a pressão?
Torcida, diretoria, técnico e mais um monte de gente, todos alucinados dentro do campo.
Imagine o que aquele jogador que iria cobrar a penalidade máxima não ouviu, ou sentiu, enquanto esperava a autorização do juizão para partir para a bola?
Se a importância do chute não era a mesma que, por exemplo, uma final de Campeonato Brasileiro, a pressão exercida sobre ele naquele momento era certamente bem parecida.

Bater pênalti na várzea tem pressão de Copa do Mundo!
Para quem não vive o mundo do futebol de várzea, essa frase pode parecer absurda. Mas uma final de campeonato ou de um torneio de várzea, envolve o orgulho da comunidade, que “fez o corre” para comprar o uniforme, para o time poder entrar em campo, é o momento que define o esforço de jogadores, torcida e diretores, que muitas vezes deixaram a família em casa para correr debaixo do sol quente, representando as quebradas onde nasceram, e isso vale muito a pena. Sendo uma responsabilidade muito grande para o boleiro que pede passagem, ou é escolhido para a cobrança.

Nos inúmeros torneios em que disputei pela nossa região, dificilmente não acontecia esse fenômeno de a torcida se amontoar em volta da trave, em que iria ser realizada a cobrança dos pênaltis. Realmente a pressão era muito grande, muitas vezes vi boleiros chorando após serem escolhidos pelo técnico.
Porém eu via uma vantagem para o jogador que iria fazer a cobrança, não que eu não ficava perturbado também, quando era escolhido nessa situação. Mas como o povo fazia uma espécie de funil em volta da trave, a visão era plena do gol.
Então caso você conseguisse passar ileso pelo "corredor polonês", que era formado um pouco antes da bola, na região do impulso, as chances de converter a batida eram ótimas.

Mas caso chegasse na bola mentalmente perturbado, devido aos xingos e provocações, ou você mandava a bola na Lua, por cima da trave quis dizer, ou então em cima do goleirão. Naquele momento da amargura, sua única preocupação era não acertar uma bolada em algum dos malucos que estavam ali no pé da trave.

TEXTO: PAULO CESAR - PC

"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de arranca toco, quebra dedo, entre outros".


quinta-feira, 9 de maio de 2024

O VIZINHO QUE NÃO GOSTAVA DE FUTEBOL, NOSSO PIOR ADVERSÁRIO.

Acredito que todo boleiro "das antigas" iguais a mim tiveram esse tipo de contratempo, logo bem no meio de uma acalorada disputa de um tradicional " rua de baixo contra rua de cima".

Na minha infância foram vários, inclusive na mesma rua em que eu morava! Dentre todos esses, tinha um que ficava só brechando a gente, e quando escutava algum de nós falando em jogar bola na rua, ele já colocava logo uma cadeira na porta e ficava sentado para implicar. Alegando que caso a bola caísse em seu quintal, iria cortá-la e jogar os pedaços de volta na rua.

Ficava sentado ali o tempo todo, não se mexia, nem ao menos piscava, pois seus olhos fixavam em nossa surrada bola, como se quisessem guia-la para dentro de seu quintal, para então satisfazer sua vontade de cortar a coitadinha em mil pedaços.
Especificamente nesse caso, felizmente nunca aconteceu, e saímos sempre vencedores.
 

Texto:
Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, o futebol que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela, entre outros."



quinta-feira, 4 de abril de 2024

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS - A PELADA

A Pelada, também conhecida como racha, rachão, baba (termo geralmente utilizado no Nordeste brasileiro) é o nome dado a uma partida recreativa de futebol com regras livres, normalmente sem a preocupação com o tamanho do campo, condição dos calçados e uniformes, marcações básicas (pequena e grande área, circulo central), impedimentos, faltas, tempo de jogo (muitas vezes as partidas são definidas em numero de gols), sendo tudo resolvido em consenso pelos jogadores no calor da partida.
Com o único objetivo de diversão, a pelada é a instância mais amadora do futebol, sendo praticada em qualquer espaço livre que permita a movimentação dos jogadores.
A pelada é uma gíria também utilizada pelos torcedores para designar uma partida profissional de baixa qualidade técnica/tática ou desinteressante.

TEXTO: PAULO CESAR - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de arranca toco, quebra dedo, entre outros".

quinta-feira, 14 de março de 2024

O GRANDIOSO TORNEIO DA COHAB l

Ali no começo dos anos 80, eu e meu primo Cidão tínhamos um timinho de futebol em sociedade, meio que de uso interno, pois apenas fazíamos amistosos com os times da vizinhança, sem muitas pretensões. Esses amistosos eram somente para a gente bater uma bolinha com um pouco mais de rivalidade, testando força com os vizinhos, e saindo um pouco da rotina que eram os treininhos dos fins das tardes. Para esses jogos dificilmente usávamos nosso fardamento oficial, o qual minha saudosa avó gentilmente tinha feito para nós, através do tingimento com corante de algumas camisas brancas usadas, as quais ela havia arrecadado com suas bondosas amigas. 
Como disse, dependendo da importância do jogo, nem usávamos as camisas, ia um time com camisa e o outro sem camisa mesmo, bem ao estilo pelada de rua. O importante era testar a rivalidade futebolística, e se divertir por tabela.
Porém, num desses amistosos, digamos mais importante, nosso time foi convidado para participar de um grande torneio que iria acontecer onde hoje é o Conjunto Residencial Cohab l, que nessa época ainda estava em fase de pré-construção.

Como iria ser um torneio um pouco mais chique, pensava eu, e com participação de equipes boas da cidade, ficamos com vergonha de usar o nosso uniforme tingido de corante, e fomos atrás de um fardamento de responsa para jogarmos o esperado torneio. Eu e o primo também fomos atrás de mais alguns jogadores, para reforçar o time um pouco mais, e não fazer tão feio.
Conseguimentos achar um rapaz, que tinha um time, e que prometeu nos emprestar o jogo de camisa. O rapaz apenas solicitou que a gente fosse buscar em sua casa no sábado à tarde, depois das quinze horas, pois era a hora que ele saia do trampo. 

Como combinado, no sábado, dia anterior ao grande torneio, eu e o Cidão partimos para a casa do rapaz buscar o fardamento. Chegamos na casa dele, que ficava lá no finalzinho da rua Itapicurus, mortos de cansados, pois morávamos na Vila Marabá, e tínhamos cortado a cidade inteira a pé para chegarmos ao destino. Não perdemos tempo, já fomos batendo palmas para anunciar nossa chegada. 

Porém, depois de alguns minutos, uma senhora de uns trinta anos mais ou menos, acompanhada de duas crianças, saiu para nos atender. Rapidamente e ansiosos, explicamos o porquê de nossa presença.
A mulher nos disse que o seu marido não lhe havia dito nada a respeito, porém que ele não demoraria a chegar.
Resolvemos ficar esperando por ele ali na rua mesmo, embaixo de um pé de coquinho, que íamos descascando e comendo, na medida que o tempo passava e a fome batia e nem sinal do rapaz chegar.

Perto das seis da tarde, já cansados de esperar, mas longe de desistir, ouvimos o apito do trem, pois estávamos ali do ladinho da via férrea, e naquele tempo o trem passava aqui pela cidade. Corremos para mais perto para ver melhor, a passagem daquele trem de carga, que devia ter facinho uns cinquenta vagões.
Ficamos por ali vendo o desfile épico daquela locomotiva, coisa linda! Mas em nenhum momento perdíamos o nosso foco, que era a chegada do rapaz.

Depois de alguns minutos, após a passagem do trem, eis que surge o esperado rapaz, já se desculpado do atraso, pois havia passado num buteco e ter perdido um pouco a noção do tempo. Enfim pegamos o fardamento, não era lá grande coisa, mas já ia deixar uma boa impressão na rapaziada.

No domingo de manhãzinha partimos para a disputa do torneio, uns a pé, outros com suas bikes surradas, mas o importante é que chegamos. Como ainda não conhecíamos o campinho em que ia ser realizado o torneio, achávamos que fosse gramadinho, com traves de ferro e redes. Ledo engano, pois era terrão puro, traves de bambu e tudo o que um campo de pelada tem, tinha ali.
Logo na chegada já ficamos sabendo que nosso jogo era o primeiro, e o time adversário tinha uma molecada já meio mais adulta.
Apesar disso, digo da diferença de idade, foi um jogão, pois conseguimos segurar o empate, e levamos para os pênaltis a decisão.

Seria um serie de três cobranças não alternada para cada time, ou seja, um time cobraria seus três, e depois o outro time cobraria os seus. As cobranças poderiam ser feitas por vários jogadores, ou apenas por um só. No sorteio ficou definido que ia começarmos batendo os pênaltis. Então seria eu, um outro menino e o Cidão, os cobradores da nossa equipes. Eu chutei a minha cobrança na mão do goleiro, que nem precisou se mexer para pegar. Irritado e já sem controle, e como podia, resolvi bater o pênalti no lugar do menino que ia bater. 

Como eu era o dono do time, o menino nem falou nada, somente me entregou a bola, para eu cometer o mesmo erro, e entregar a bola na mão do goleiro. O Cidão chutou o terceiro e acabou fazendo o gol, porém o time adversário acertou duas cobranças e eliminou a gente.
Depois desse balde de água fria, que eu praticamente joguei na cabeça do nosso time, nem ficamos por lá para assistir o restante do torneio. Aliás jamais ficamos sabendo quem foi o campeão.

Texto:
Paulo Cesar - PC