quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O CAMPÂO DE TERRA DA VILA MARABÁ

Até perto do finalzinho dos anos 1980, lá nos altos da Vila Marabá, fazendo divisa com a Chácara do Vellini e um pouco mais distante da Vila Ibirapuera, pela qual era ligado através de uma espécie de carreador caipira, com vários mata burros, que cortava a chácara Vellini ao meio, existia um belo terrão, que insistíamos em chamar de campo de futebol.
Esse glamoroso terrão era conhecido oficialmente como o Campão da Marabá, mas também como o Campão do Pirão, pois ficava nas imediações da casa desse inesquecível desportista tupãense, o Pirão, que acredito que a maioria dos boleiros tupaenses com mais de quarenta anos já teve o prazer de conhecer.
Também era conhecido como o Campão da Colôninha da Prefeitura, mas de maneira mais interna, pelo pessoal dali mesmo, pois havia muitas casa ao seu redor que eram habitadas por servidores municipais. Apesar do pessoal da colônia ter o terrão à disposição, dificilmente o usavam, pois eles tinha um belo campinho de futebol médio todo gramadinho, e com isso evitavam a concorrência aos sábados à tarde. O termo Campão ficou estigmatizado devido a suas dimensões é claro, mas também acredito ao grande tamanho do terreno em que foi construído.

O Campão da Marabá era formado na sua maioria por terra vermelha batida, ainda assim era possível encontrar algumas partes em que a grama insistia em manter-se viva, coisa pouca.
Durante a semana não tínhamos muita movimentação de boleiros, apenas a molecada batendo sua bolinha sem compromisso, mas aos finais de semana a movimentação era intensa. Logo pela manhã aos sábados tínhamos treinos de equipes infantis, como o Palmeirinha do Luizinho sapateiro, do PLIMEC do técnico Polan, entre outros, que se preparavam para os campeonatos da cidade e da região.

Já na parte da tarde era a vez dos marmanjos, como Guarani do Peneira e do Bolão, do Sapolândia do Bentão e outros que apareciam por lá, já que o espaço era vasto e cabia a todos. O pau quebrava até não ter mais a luz do sol, já que naquele tempo iluminação de campo de futebol era luxo, porém algumas vezes os trabalhos táticos dos professores precisavam serem estendidos um pouco mais, então contavam com a luz da Lua, ficava meio parecido com boate, mas dava tudo certo no final.
Já os domingos eram reservado para jogos e torneios previamente marcados, às vezes aconteciam alguns desencontros nessas marcações, e apareciam dois jogos para o mesmo horário, mas sempre se resolviam por ali mesmo, sem maiores alardes.
Dentre essas equipes em que já citei, que usavam o Campão como sede, e que detinham algum protagonismo no futebol menor tupãense na época, ainda cito o tradicional Botafogo do Lebinha, e o Mercadão do Zé Carlos Açougueiro e do meu primo Zé Sastre.

Naquela época ainda era molequinho, morava na rua Júlio Dualib, numa quadra que abrangia o extinto Laticínios União e a Docês Ozaluna, bem pertinho do Campão, e sempre estava por lá, para ver se sobrava uma boquinha para bater uma bolinha sem compromisso, pois não gostava muito, de treinamento físico. Joguei muita bola ali no Campão, no começo como disse, sem compromisso, mas depois atuei pelo Palmeirinhas na base e na fase adulta no Sapolândia Futebol Clube do professor Paulo Bento "Bentão", já no amador.
O Campão da Marabá foi desativo para dar lugar onde hoje estão localizados os Conjuntos Habitacionais Dr Walter Pimentel, e Severino Fortunato da Silva, e com toda a certeza, apesar das limitações cumpriu dignamente sua função social.

Texto
Paulo Cesar - PC

A PEDRADA CERTEIRA, SÓ QUE NÃO!


Alguma vez você já apanhou uma fruta no pé assim, como mostra a figura, ou seja, na base da pedrada? 

Não é a maneira mais certa, pois além de derrubar a fruta desejada, quando acerta a pontaria, o que quase nunca ocorre de primeira, também derrubar suas vizinhas que ainda pode não estarem maduras. Porém duvido que alguém na falta daquela varinha esperta para dar uma cutucada na fruta, não tenha atirado aquela pedrinha marota que estava ali do lado de bobeira.

Nos áureos tempos de futebol na zona rural, em minhas andanças a procura de um campinho para bater uma bolinha, era muito comum encontrar pelo caminho pés de frutas como manga, goiaba, jatobá, entre muito outros, e essa prática era uma constante, pois como disse, na falta de alguma coisa para cutucar a fruta, ou até mesmo na impossibilidade de subir na árvore para pegar, ia na pedrada mesmo.
O problema era quando essa pedra saia um pouco fora da rota desejada, e pelo caminho encontrava uma robusta caixa de abelhas. Toda que vez acontecia essa tragédia, o famoso "pernas pra que te quero" entrava em ação.

Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela"

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS - O CABEÇA DE BAGRE

O bagre é um peixe preguiçoso, de águas turvas e barrentas, pouco se movimenta e é facilmente fisgado pelo anzol, pois, acomodado, come o que lhe aparece. Possui imensa cabeça, desproporcional ao resto do corpo, mas de um cérebro diminuto. Por isso essa relação de semelhança com pessoas de pouca inteligência, idiota, incapaz de aprender algo ou que tem dificuldade para tal.
Na gíria do futebol o bagrão é todo aquele jogador tosco, de poucos recursos técnicos para a prática do futebol, sem quase nenhuma intimidade com a bola, ou às vezes nenhuma, e que também tem muita dificuldade em entender a orientação tática do treinador.
Para matar a bola, melhor dizendo, para dominar a bola é um problema grave, quase uma façanha, parece que ela tem medo do atleta ou vice-versa. Bate nas canelas, volta, não quer parar, o passe sai para o lugar errado.  

Trava-se mais uma luta do que um momento de intimidade, a bola é claro, sente-se maltratada, pois não recebe o mínimo de carinho necessário por parte do chucrão. Carinho esse que recebe aos montes dos craques, com os quais mantém uma relação de afeto e cumplicidade. 
O bagrão às vezes compensa essas deficiências através do vigor físico e muita raça dentro de campo, um líder que se impõe através da força bruta, qualidades essas que motivam os times a insistirem em ter pelo menos um no elenco, no sentido de motivar a equipe através de sua liderança física dentro das quatro linhas, de quebra, se possível intimidar os adversários.

No entanto, mesmo com toda essa dedicação, no máximo se tornará um carregador de piano do time, literalmente um burro de carga, que faz todo o trabalho bruto de marcação e de recuperação de bolas, para depois entregá-las a um companheiro mais talentoso, para que esse então faça a diferença no jogo. O jogador cabeça de bagre não tem vida fácil, no entanto é feliz, pois devido sua vitalidade em campo, dificilmente é substituído, quase não se machuca, pois nenhum jogador em sã consciência vai querer dar uma beliscadinha na canela de um cara desse né, e ainda conta com apoio da galera, pois o torcedor adora um jogador com essas qualidades.

Texto:
Paulo Cesar - PC

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

O BELO BAIRRO SABIÁ E OS SEUS TORNEIOS DE FUTEBOL

Seguindo pela Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros, a SP-294, no sentindo Tupã a Herculândia, a alguns quilômetros de nossa cidade, entrando à direita, temos o Bairro Sábia, um dos lugares que eu mais gostava de bater uma bolinha. Quando íamos de caminhão aos domingos à tarde jogar contra o time da casa, ou disputar os torneios que eram frequentes naquela época por lá, usávamos o acesso da estrada de terra, que ficava um pouco para frente da AABB - Associação Atlética Banco do Brasil. Porém quando eu ia aos sábados à tarde treinar com o pessoal, por ir de motocicleta, usava um acesso mais tranquilo que passava por dentro de uma fazenda, pertinho do acesso para o distrito de Parnaso, com isso evitando um confronto direto com o "areião", que dominava praticamente toda a estrada que citei anteriormente, e evitando assim algum possível tombo desnecessário da motoca.
Como disse, aos sábados à tarde tinha um pessoal que alugava o campo para treinos, e como nesse grupo tinha alguns amigos que treinavam com os caras, de vez enquando eu arrumava uma vaguinha, sem compromisso, para treinar.
Mesmo sendo uma passagem sem compromisso, foram tempos bons aquela minha passagem com os boleiros de sábado à tarde no Sabiá, muito futebol, muita resenha, churrascos, em fim, só alegria. Era um cabra de sorte, pois nas vez que ia, sempre tinha alguma coisa boa para "beliscar" após o treino.

Com respeito aos jogos que fiz contra o time oficial do Sabiá aos domingos, foram poucos, uns dois talvez. A maioria dos jogos que fiz valendo no Bairro Sabiá se concentraram nos torneios, aliás torneios por lá era o que mais acontecia. Pelo fato do bairro ser próximo a Tupã e o acesso ser fácil, a quantidade de times que participavam era grande.
As disputas se desenrolavam até o anoitecer, e na maioria das vezes eram decididas em cobranças de penalidades máximas, pois pela grande quantidade de equipes, o tempo de jogo era bem pequeno, e dificilmente o jogo era decidido com bola rolando.

Numa dessas tantas disputas, época em que atuava pelo Paulista Futebol Clube do professor Jorjão, o nosso time empatou no tempo normal, e logo na primeira rodada do torneio. Partimos então para as cobranças dos pênaltis, o professor pediu para eu fazer a primeira cobrança. Peguei a bola com toda confiança do mundo, mas acabei errando, porém o juizão voltou a cobrança. Juiz corajoso, não era comum isso acontecer, porém de nada adiantou, pois errei de novo.
Minha sorte foi que os caras do outro time também erraram, e acabamos vencendo a disputa.
Conseguimos ir passando pelas próxima eliminatórias sempre vencendo com bola rolando e pelo placar mínimo. Porém na grande final também voltaram a acontecer as cobranças de pênaltis, e eu já corri lá e peguei a bola para bater o penal, achando que estava com moral com o professor, porém nesse instante o Jorjão veio de encontro a mim e disse que era melhor eu não bater o pênalti. Mesmo a contra gosto não discuti e acatei a ordem do técnico, que naquele momento acredito era a pessoa que estava com o psicológico menos abalado. Acabou dando certo, acertamos todas nossas cobranças, enquanto os contrários erraram uma, e acabamos sendo os campeões daquele torneio.
O campo do Bairro Sabiá era um autentico tapete verde, impecável, porém tinha uma certa inclinação, e os jogos funcionam naquele esquema de atacar para cima e atacar para baixo. Sendo que quando se estava atacando "morro abaixo", a equipe procurava imprimir maior pressão, pois quando estivesse atacando "morro acima" o desgaste seria bem maior, e as forças seriam concentradas em se defender.

Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que adoramos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela, e entre outros".