segunda-feira, 15 de novembro de 2021

OS JOGOS INTERCLASSES

Os famosos jogos interclasses eram eventos esportivos organizados dentro do contexto escolar, pela própria escola, através de seus professores de educação física. O evento era realizado duas vezes no ano e contava com participação dos alunos dos três períodos letivo, ou seja o pessoal da manhã, o povo da tarde, e os marmanjos da noite. 

Sem sombra de dúvidas, era o evento mais esperado pelo os alunos, depois da merenda é claro, isso pelo menos no meu caso, que fase.
Naquela época em que eu fazia o antigo ginasial, o colégio no qual eu estudava não tinha quadra de esportes, por isso tínhamos que nos deslocarmos até outro colégio para fazermos as aulas de educação física, matéria essa que fazia parte da grade escolar, então não tinha jeito tinha que ir.
Por esse simples motivo, na época dos interclasses, a única modalidade que tinha disputas era o futebol de salão masculino. O resto dos alunos das outras modalidades esportivas, ficavam literalmente chupando os dedos. O que de certa forma era uma pena para os nossos amiguinhos que não eram familiarizados com a pesada bola de futebol de salão na época. Se caso a bola molhasse, ai ela virava um chumbo de pesada.

O nosso professor titular de educação física não era muito adepto da teoria da perfeita simetria, e por isso colocava a quinta série para jogar contra a oitava, ou seja, fazia um bem bolado, e colocava a molecada para jogar com os marmanjo e vice versa. Ai não dava nem graça, pois nos jogos os marmanjos do oitavo ano passavam por cima da gente feito tratores e sempre eram os campeões.
Somente em um ano quando houve a troca de professores é que foi feita essa separação entre as séries, mas depois voltou a ser tudo como dantes, e a desculpa que sempre alegavam era de que dava muito trabalho separar as séries, pior para nós.


Quando houve a separação das séries, eu cursava o sexto ano, e formamos um time bem forte e fomos campeão.
Nessa época nosso professor de Educação Física era um cabra bem fanfarrão, e como ele tinha o poder da caneta, fazia misérias, e uma de suas zuações foi colocar nomes estranhos nos times, tipo Berinjelas, Abobrinhas, Torresmos, entre outros.
O nome escolhido para nome time foi Mocotó, sinceramente não sei de onde ele tirou essa ideia, pois no nosso time a maioria dos moleques eram todos magrelos e desengonçados. Era uma coisa meio sinistra, mas a gente nem ligava, só queríamos nos divertir, e também disputar o certame de igual para igual com as séries rivais.


Texto: Paulo Cesar - PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chama de arranca toco, quebra dedo, racha canela, entre outros.

MARINGÁ FUTEBOL CLUBE DO BAIRRO AFONSO XIII

Já no final dos anos 70, na agitada década da Dance Music, das brincadeiras dançantes nas residências, dos Embalos de Sábado à noite de Bee Gees, John Travolta, Bonney M e entre muitos outros, meu primo o folclórico Zé do Fole, O MITO SERTANEJO e mais um amigo dele, um perebão chamado pela alcunha de "Maringá", que não jogava nada, só "guela", decidiram montar um time de futebol ali no sítio onde morávamos. 

O meu primo Zé do Fole era um autêntico andarilho do futebol de várzea aqui da região, mas já estava começando a ficar veterano e com isso começava a perder espaço nas equipes em que ia jogar.
O cara era um verdadeiro morto de fome no quesito correr atrás da bola e essa condição de reserva que estava começando a experimentar o incomodava e muito.
Zé do Fole e Maringá inspirados pela possibilidade de terem um time só deles e que de quebra ainda pudessem ser jogadores e técnicos ao mesmo tempo, começaram a formação do Maringá do Bairro Afonso Treze. Esse nome seria em homenagem à essa cidade paranaense, na qual o Maringá, companheiro fiel do Zé havia nascido. e não ao time profissional que lá tinha à época, pois apesar de ser natural de lá, não nutria nenhum carinho pelo time local.

A maior dificuldade encontrada foi a construção de um campo de futebol lá no sítio, pois a grama era de pasto de gado e o terreno todo irregular e cheio de tocos de árvores e matagal. Mas juntando a fome com a vontade de comer, conseguiram deixar meio parecido com um campo de futebol. O resto ficou doce, pois conseguiram dois jogos de camisas usadas, algumas bolas e outros acessórios peculiares ao um time de futebol. Num campo de futebol o que não pode faltar é cachaça, então im
provisaram uma barraquinha para servir como buteço e faturar uns trocados para poder pagar a garantia ao time visitante.

Marcaram o primeiro amistoso, achavam que não ia dar ninguém, pois tínhamos como vizinho o famoso time do bairro São Martinho que aos domingos arrastava multidão na beirada do seu campo. Que nada, no dia do primeiro jogo apareceu um monte de gente, até a pessoa mais improvável para assistir ao jogo, a saudosa senhora minha mãe.
Eu era muito novo para jogar com os adultos, mas o Zé me colocava alguns minutinhos para matar a lombriga.

Assim o tempo foi passando e o time do meu primo foi ganhando fama na região, não por ser um bom time, muito pelo contrário, o time era muito ruim, mas pelo local onde se realizada as partidas. O bairro Afonso Treze é bem perto da área urbana, e apesar de na época ainda ter seu acesso por terra, não se tinha muita dificuldade em chegar.
Mas como diz o ditado, o que é bom não dura muito, num jogo houve uma confusão generalizada provocada por um idiota, que tomou proporções muito grande, sendo necessário o acionamento das forças policiais para acalmar os ânimos.

Depois desse episódio o proprietário do sítio em que morávamos ficou chateado e pediu para fosse desfeito o nosso campo. Sentenciou que a partir dali ele não autorizava mais jogos em sua propriedade, logo ele que era um dos torcedores mais empolgados do time, a coisa foi grave mesmo.
Mesmo com a perda da sede dos jogos o time não acabou, e os compromissos futuros da equipe passaram a ser como visitante. No começo até que foi bem, porém com o passar do tempo houve um certo desanimo, e os atletas da equipe começaram a faltar nos jogos, tendo a diretoria a recorrer a pessoas estranhas a cada jogo, descaracterizando a tradicional equipe do Bairro Afonso XIII.

E para piorar, no final daquele ano o contrato de parceria agrícola da família do Zé do Fole vencia, e meu tio, chateado ainda com o episódio, resolveu não renová-lo, firmando acordo com outro patrão, na região de Parapuã.
Zé do Fole foi embora, ficando apenas o seu parceiro Máringá que resolveu não tocar mais o time, pois sem O MITO SERTANEJO, a coisa não iria virar em nada.

Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco entre outros."




quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O MALVADO

Naqueles tempos em que uma bola de futebol de capotão surrada ou qualquer coisa esférica que lembrasse uma bola comandava nossas vidas e fazíamos de qualquer lugarzinho ligeiramente plano um campinho de futebol, inúmeras histórias interessantes apareceram nesses encontros futebolísticos inusitados.
Dentre essas histórias, hoje vou destacar uma em que no meu ponto de vista, além de uma grande sacanagem com os amigos, foi também maldade pura de minha parte, coração espinhudo mesmo, devia estar possuído naquele dia, não tem outra explicação.
Anteriormente havíamos feito um jogo amistoso contra os moleques do outro lado do bairro Afonso 13, o povo do Aeroporto, como eram conhecidos. Vale lembrar que o bairro Afonso 13 tem dois lados distintos, essa divisão é feita pelo histórico Córrego Afonso 13.
Com isso tínhamos dois times de molecada, o do lado de cá do buracão, o nosso, ou seja o que margeava o saudoso Frigorifico Sastre e também a Escolinha Rural, e o do lado de lá, que tinha o Aeroporto Municipal Faria Lima como referência. Para quem mora aqui na região de Tupã vai se localizar rapidinho.

De acordo com a tradição da época, tínhamos que pagar a visita dos boleiros vizinhos, disputando um jogo amistoso no campo deles.
Beleza então, marcada a data nos reunimos e fomos, cada um em sua Monareta, uma espécie de bicicleta barra forte da época. Os boleiros que não tinha byke foram de carona no cano, vida dura. Chegando lá fomos recebidos por um senhor já bem de idade, que veio abrir a porteira para que a gente pudesse adentrar à fazenda, onde seria realizado o tão esperado jogo de volta.
Lembro-me que o idoso nos disse com cara de intimidação:
- " Tomem cuidado, pois os meninos disseram que hoje vão ganhar de vocês, nem que seja na porrada, se for preciso". Eles haviam perdido para nós no jogo de ida, e ainda, para variar tinha ocorrido alguns bate bocas, coisas normais de um jogo quente. Em tempo, o valentão do nosso time que tinha brigado com os caras nem deu as caras para o jogo de volta, amarelou.

Chegamos ao local do jogo, e ao contrário do que o velhote disse, encontramos um pessoal bem receptivo, sem mágoas aparente e com fome de bola apenas.
Acredito que esse clima de cordialidade rolou somente porque eles notaram que o valentão não tinha ido, caso contrário tenho minhas dúvidas. O capitão do time deles nos indicou o lugar para que a gente pudesse nos trocar, no caso colocar nossas camisetas para entrar em campo.
O lugar era debaixo de um grande pé de manga, uma espécie de vestiário a céu aberto, porém bem confortável. Só uma nota sobre nosso uniforme, eram camisetas brancas, compradas nas diversas malharias populares que existiam na cidade na época, e tingidas carinhosamente com corante vermelho, pela minha saudosa vó Maria. Outro detalhe, o nome do time apesar do uniforme ser vermelho era Canarinho, coisas do futebol raiz.

Assim que fomos chegando perto do local em que íamos nos trocar, avistei uma enorme caixa de abelhas, não me preocupei, pois pensei comigo, se ninguém mexer com elas, elas continuarão a vida delas como se nada tivesse acontecido. Mas também imaginei, se alguém acertar bolada não vai prestar.
Eu sempre fui o mais fominha para jogar bola, por isso me troquei rapidinho e fui para o campo bater bola. Dei alguns chutes na bola e reparei que os malas estavam meio sem pressa para vir para ao campo.
Nesse dia fazia bastante calor, então eles estavam fazendo cera, esperando o mormaço dar uma trégua.
Pistola da vida com a fuleragem dos caras, pois estava no campo naquele calorão sozinho, não me conformei e fui lá agilizar a coisa, mas de nada adiantou. Voltando ao campo mais pistola ainda com a negativa dos caras, avistei uma pedra e não pensei duas vezes, peguei a danada e arremessei na caixa de abelhas.
Acertei em cheio, aquilo em fração de segundos ficou tudo fumaçado de abelhas, de onde você nem imaginava aparecida as ofendidas em busca de vingança. Não ficou um folgado debaixo do pé de mangas para contar a história.

Juro para vocês, apesar de ter levado algumas picadas também, por um momento me senti de alma lavada, uma lição naquele bando de folgados, pensava assim comigo. Coisa de moleque malvado mesmo, que aparentemente tinha tido um surto momentâneo.
Por sorte deles e mais minha ainda, nenhum infeliz tinha alergia à picada de abelha, e não houve nada sério, somente muita reclamação e juras de vingança, que no fim não virou em nada.
Apesar de doloridos, os caras levaram a brincadeira na boa, pois já tinha acontecido outras armadas piores no grupo anteriormente, e já estavam todos vacinados contra aquele tipo de zueira, e também naquele tempo o mimimi ainda não existia, então acabou ficando tudo certo.
Com respeito ao jogo, não houve nenhum contra tempo mais relevante, apenas as discussões de rotina e alguns empurrãozinhos, tudo dentro da normalidade de uma partida de futebol.
O resultado final acabou sendo o empate sem gols, e para terminar ainda fomos presenteados com sacolas de mangas, que a dona da fazenda, a mãe de um dos meninos nos presenteou no final.

Texto:
Paulo Cesar - PC

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

NECROPOLITANO FUTEBOL CLUBE, ESSE TIME É DE MORTE!

O futebol de várzea sempre foi, ao lado do samba, o canal principal de divertimento do povo que habita os subúrbios carioca. No auge do futebol de várzea fluminense, lá nos anos 70, todo bairro tinha um, dois, até três times "oficiais" para chamar de seu.
Além dos times tradicionais que eram formados na comunidade, também era comum as empresas desses bairros terem seus times de futebol de várzea, formados na maioria das vezes pelos seus próprios funcionários, os chamados puro sangue. Com tantos times brotando por todas as partes, por que então os cemitérios suburbanos não poderiam ter um também? Daí que surge o Necropolitano Futebol Clube do bairro do Irajá, que era um time formado exclusivamente por funcionários do cemitério do Irajá. O time da morte, como era conhecido, no qual os coveiros eram maioria no elenco. 

O time foi fundado em 1972 e conseguiu alcançar um relativo sucesso dentro da liga amadora carioca, não apenas pelo bom futebol apresentado em campo, mas também pelo inusitado local de preparação dos jogadores, que era feito no meio das covas.                                               

                                            MANCHETE ESPORTIVA DO ANO DE 1977


História bem peculiar à várzea carioca daquele tempo e a do Necropolitano, nos remete aos movimentados torneios dos trabalhadores, que são realizados no dia primeiro de maio aqui em Tupã, cujos times são formados, na maioria por funcionários de empresas ou segmento profissional, que acabam proporcionando disputas acirradas.
Sinceramente não me recordo se durante as edições anteriores tivemos alguma equipe que representou os cemitérios locais, porém muitas categorias de trabalhadores formaram equipes ,boas ou nem tanto, dentro das respectivas profissões.
Dentre essas profissões que tiveram destaques, e que consigo me lembrar, cito o pessoal das farmácias, cujo treinador era o saudoso professor "Toninho Farmacêutico", que tinha uma elegância peculiar na beirada de campo, porém o time nunca chegava, geralmente caia na primeira rodada, era mais para participar apenas. Também o time do antigo Frigorifico Sastre, esse sim era time de chegada, estava todo ano beliscando os primeiros lugares.

Esse tipo de torneio é muito legal de se ver jogar, nem sempre belo futebol apresentado, mas sim pelo companheirismo que se vê entre os caras dentro do campo.
Nos torneios dos trabalhadores das antigas eu gostava muito de acompanhar o time do Mercadão, que era formado na sua grande maioria pelos açougueiros que trabalhavam nas inúmeras casas de carne que existiam no saudoso Mercadão Municipal. O Mercadão tinha no seu elenco, o grande zagueiro Zé Carlos Açougueiro, irmão do Britinho, atleta profissional que brilhou no cenário futebolístico nacional nos anos oitenta.

Texto:
Paulo Cesar - PC

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS - O GOL OLÍMPICO

O gol olímpico no futebol acontece quando um jogador acerta uma cobrança de escanteio diretamente no gol, sem que haja nenhum tipo de interferência para que esse gol aconteça, sendo uma jogada plasticamente bonita.
O gol olímpico é uma jogada legal, sendo válido o gol marcado direto da cobrança do escanteio, mas é uma missão difícil para o boleiro, dados os ângulos envolvidos, e sem falar na quantidade de jogadores no meio do caminho.

Para marcar a partir de um tiro de canto, o jogador deve aplicar um efeito suficiente à bola de forma a desviá-la da linha de fundo e voltar para a rede, para isso o boleiro precisa ter um pouco de intimidade com a bola, como podemos ver na imagem. Apesar de ser uma jogada difícil, é perfeitamente possível para um perebão acidentalmente marcar um gol desses, alguns boleiros que tem um pouco menos de intimidade tentam propositalmente ao observar um goleiro adiantado, por exemplo.

Em 1924 o jogador argentino Cesareo Onzari marcou um gol contra o então campeão olímpico da época, a seleção do Uruguai, em um chute direto de escanteio. A partir de então, o gol ficou conhecido como "gol olímpico" por ser marcado contra a Celeste Olímpica.
Em minha longa carreira de boleiro de várzea fiz alguns golzinhos olímpicos, porém sempre em treinos, pois nunca tive coragem de arriscar durante os jogos valendo, um autêntico "Leão de Treinos". Nos treinos as reclamações são mais suaves, caso você erre, mas nos jogos valendo as broncas são mais pesadas, tanto do técnico, como dos demais.

Texto:
Paulo Cesar - PC



quinta-feira, 16 de setembro de 2021

O AMISTOSO INTERNACIONAL

Quase no final da agitada década dos anos 1990, enquanto muita gente vivia a expectativa da virada do século e com isso a vinda de melhoras com os novos tempos, outras viviam o temor de que o mundo acabaria nessa virada, baseadas em crendices contadas por ancestrais, adivinhos, entre outros curiosos. No meio dessas e de outras bobagens como o Bug do Milênio que rolaram na época, e que não viraram em nada, eu me preparava ansiosamente para dar um pulinho ali no Paraguai participar de um joguinho amistoso, convidado que fui por um amigo, o conhecido Massagato, Gato Sam para os íntimos.

Seria meu primeiro jogo internacional, está certo que o jogo era no Paraguai, mas para chegar no Paraguai precisava atravessar a fronteira, mesmo que essa fronteira seja uma rua, é outro pais, e sendo assim é jogo internacional. O Gato fazia parte dos Veteranos Pernas de Pau, e os Veteranos haviam sido convidado a fazerem dois amistosos por aquela região.
O primeiro amistoso seria em Ponta Porã MS no sábado e outro em um sitio localizado na região rural de Pedro Juan Caballero, ou seja Paraguai adentro.

Embarquei todo eufórico juntos com a delegação do clube numa sexta-feira à noite, em frente a Sapataria Kawakami do seu Takao, em um ônibus da saudosa Tupantur rumo ao Mato Grosso do Sul, devidamente fretado pelo inesquecível Antônio Carlos "Frangão". Foi uma viagem tranquila, com muita resenha e sem novidades no quesito trânsito ou outras anormalidades.
Pela manhã chegamos a Ponta Porã e fomos para o hotel descansar um pouco, depois fomos fazer umas comprinhas, e esperar o horário do primeiro jogo chegar.
Lá pelas cinco horas da tarde fomos para o estádio municipal da cidade, onde seria realizado o primeiro jogo. Minha ansiedade estava a mil, não via a hora de entrar em ação, porém quando chegamos lá já veio o aviso de que só poderiam serem escalados jogadores com mais de quarenta anos alto, pois o time local era formando na maioria pelos boleiros e mais alguns caneludos já aposentados.
Como nessa época ainda estava bem longe da casa dos quarenta anos, acabei ficando fora do jogo, foi duro ficar assistindo ao treino depois do balde de água gelada.
O que diminuiu um pouco a frustação foi o belo jantar que os caras nos ofereceram e a esperança de que no jogo do domingo não tivesse essa tal frescura de restrição de idade.

Domingão chegou com um sol de estralar mamona, tomamos o café e desocupamos o quarto do hotel, pois não voltaríamos mais, iríamos embora logo após o jogo.
Embarcamos e seguimos Paraguai adentro, viajamos um tempão, mas nunca que chegava o local do jogo, pensava eu, mas nada, tudo fruto da ansiedade de enfrentar os paraguaios.
Chegando ao local que era numa fazenda, encontramos dois campos de futebol médio, e a informação que seriam dois jogos, ou seja o pessoal de lá tinha dois times. Uma espécie de titular e cascudo, como temos por aqui na zona rural, só que com uma diferença, os jogos ao contrario daqui são no mesmo horário.
Logo o nosso pessoal escalou as duas equipes e para alivio meu, eu estava devidamente marcado no cascudão, sem problema nenhum, ai era só correr para o abraço.
Foi muito legal, pois tive o prazer atuar ao lado de grandes craques do futebol tupãense do passado, como Dito Marquezim, Morto, Zezé, Ditão Gonçalves e muita gente boa.
Sinceramente eu nem lembro direito detalhes do jogo e nem do resultado final, mas o importante foi que joguei pelo menos um jogo internacional em minha trajetória de boleiro raiz, mesmo sendo ali do outro lado da rua, no Paraguai.

Após o jogo “los Hermanos” paraguaios nos ofereceram como almoço um suculento churrasco, regado a muita cerveja Ouro Fino e ao som de belas cantigas paraguaias. Vale um destaque sobre os cancioneiros paraguaios, os caras eram tão animados que acredito que até o ser mais tímido da festa deu uma balançadinha no esqueleto.
Após o deleite do almoço e de muita resenha, nos despedimos dos paraguaios, com a promessa de que um dia marcaríamos um amistoso de volta.

Mas acredito que devido aos efeitos da breja paraguaia, essa promessa ficou só na promessa, pois nunca mais tive notícias a respeito.

Texto: Paulo Cesar - PC
https://futebolraiz00.blogspot.com/

terça-feira, 14 de setembro de 2021

REGULAMENTO DO PELADEIRO DE RUA

Não existe um regulamento propriamente dito, é criado na hora, baseado em algumas jurisprudências criadas pelos peladeiros.
Vejamos a seguir:
Não importa qual o placar da partida, se alguém gritar ” QUEM FIZÉ O PRIMEIRO GANHA“, imediatamente a bola vai ao centro do campinho e se começa uma final de copa do mundo, mesmo se o time contrário estiver ganhando por 10 a 0;
Perder a tampa do dedão é regra;
O chinelo vira uma trave;
Quem está de sapato tira para não machucar o coleguinha;
Se o dono da bola sair, o jogo acaba;
Bola empressada é da defesa;
O último jogador escolhido será o goleiro.
Dentre outros mais.




Texto:
Paulo Cesar - PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, racha canela, arranca toco, entre outros.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS - O HUMILHANTE DRIBLE DA VACA

O nosso querido futebol é formado por jogadas espetaculares, fruto da habilidade e criatividade dos jogadores que as executam. Algumas dessas jogadas são tão marcantes que são batidas com apelidos pelos torcedores ou até mesmo pelos próprios boleiros que as inventaram, com nomes criativos e singulares, baseados em situações do cotidiano que se assemelham ao lance executado.

O drible da vaca é uma jogada no mundo do futebol que ocorre quando o jogador dribla o seu adversário, tocando a bola por um lado e passando por ele pelo outro. Assim o adversário fica sem saber, se fica atento à bola que passa por um lado, ou ao adversário que passa pelo outro. É uma jogada que caso seja executada sobre um jogador de bom nível, isso poderá o deixar meio perturbado durante o restante do jogo, pois se trata de uma humilhação para quem leva esse tipo de drible, mas caso o lance for feito sobre aquele boleiro cabeça de bagre, a vida vai seguir normalmente, pois este já estará  acostumado a ser vitima do lance.
Para realizar o drible da vaca é necessário uma certa habilidade e também velocidade do boleiro, porém como ela está aliada também à força física, qualquer pereba que corra bastante e saiba pelo menos chutar a bola e não cair, vai conseguir fazê-la até com bastante tranquilidade.

Reza a lenda que essa humilhante jogada surgiu lá na nossa querida zona rural, pois lá no sítio dos áureos tempos os campos de futebol eram, na maioria das vezes,  construídos ou improvisados à beira dos pastos ou currais das fazendas.
Em razão disso era muito comum durante os jogos os campos serem invadidos por vacas furiosas, que eram estimuladas, às vezes pela barulheira provocada pelo jogo em si ou  pelas camisas multicoloridas dos jogadores.
Quando acontecia esse tipo de invasão, os boleiros mais habilidosos ou corajosos, para não perderem a bola e também para se livrarem das vacas, que vinham em sua direção com "sangue no zóio", jogavam a bola por um lado e a pegavam do outro.
Toda vez que ocorria esse tipo de jogada, era uma festa para quem assistia, um delírio total dos torcedores, até com direito a gritinhos de olé. A partir dessa manobra dos caras, lá na zona rural das antigas, e que tinha o simples intuito de se livrar das indefesas ruminantes descontroladas, foi criado o lance que é capaz de desestabilizar um jogador durante o jogo, o humilhante drible da vaca.

Texto:
Paulo Cesar - PC

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

ACIDENTE PECULIAR DO FUTEBOL RAIZ

Quem não tirou uma lasca do dedo jogando bola num campinho não convencional, jamais terá histórias para contar sobre a beleza e simplicidade do nosso futebol raiz.


Texto:
Paulo Cesar - PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aqueles que amamos chamar de arranca toco, racha canela, quebra dedo, e entre outros.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

ZÉ DO FOLE, O MITO SERTANEJO.

José Caetano da Silva é o seu nome de batismo, Zézim para os familiares, Zé Caetano para os chegados, Gugu para as íntimas, Zé do Fole para o mundo do futebol varzeano, e mais alguns apelidos não menos importantes, dos quais ele carregava consigo como verdadeiros troféus. Esse era meu primo “Zé Carlos”, sobre o qual vou contar um pouco nessa resenha, pois foi pessoa que me inspirou a amar tanto o futebol de várzea e suas peculiaridades, lá na longínqua década dos anos 70.

Apesar de ser um verdadeiro andarilho pelo futebol, ele nunca moro na "cidade", sempre na zona rural.
Na época em que o Zé começou a trabalhar num grande frigorifico aqui em Tupã, e que hoje não existe mais, chamado Frigorifico Sastre, surgiu o apelido Zé Sastre. Esse apelido foi dado pelos colegas, quando fazia parte de um dos vários times que eram formados na empresa. O time em que ele jogava era formado na maioria pelos açougueiros, pois o Zé nessa época enveredava por esse lado profissional, e como bom "Severino" que era não tinha nenhum problema de adaptação ao cargo.


Era um bom esquadrão, que empunhava respeito aos adversários, tanto pelo bom futebol, como pelo vigor físico dos caras
Um pouco mais para frente, já não trabalhando mais no frigorifico e jogando em outro time, os caras descobriram que o Zé gostava muito de forró, e que ele até arranhava alguns pseudos acordes na sanfona. Daí então surgiu o Zé do Fole, apelido que ele amava, e com isso grudou como chiclete, perdurando por vários times em que ele jogou doravante.


Apesar da sua baixa estatura, ele era um bom centroavante, fazia muitos gols. Eu sou suspeito para falar, mas o cara era bom jogador, era liso que nem quiabo, conseguia fugir das botinadas dos zagueiros caneludos, e de outros cabeças de bagre com maestria.
Falastrão e milongueiro ao extremo, o Zé era uma pessoa educada e de bom trato, por essas qualidades ele era bem querido até mesmo pelos adversários, uma figura peculiar no mundo varzeano da época.

Eu, com todo orgulho do mundo era seu fiel escudeiro. Como o acompanhava pelos jogos, ele pedia para que eu carregasse sua mochila com o seu material de jogo e pós jogo. O Zé do Fole era muito vaidoso e no material pós jogos, posso citar um espelhinho, pente flamengo, bucha caipira, sabonete Phebo, colônia Tabú entre outras bugigangas, que só ele sabia para que servia.

Para mim era o máximo carregar tal mochila, e para ele vaidade, pois falava de boca cheia para todos - "Ele é meu assistente!". Na realidade a palavra não era bem essa, mas como não lembro, foi essa como sinônimo.
Zé morava na zona rural, e quando vinha jogar aqui na cidade pernoitava em minha casa e aproveitava o sábadão à noite para dar uns bordejos, por ai, afinal ninguém é de ferro né?
O maluco não ficava até tarde na rua não, voltava logo, era rapidinho até para isso. Lá em casa na época ele dormia no chão mesmo, pois não tinha cama sobrando, e com isso minha mãe improvisava algo parecido com uma cama no chão, e o cara puxava o ronco sem pestanejar.

Depois de passarem alguns anos, e já quando não mais o acompanhava nas aventuras futebolísticas, o Zé mudou-se para outra cidade, e como sempre, morando na zona rural. Nessa ocasião ele me convidou para jogar no time que eles tinham acabado de formar, num bairro muito movimentado em que ele estava morando.
Aceitei o convite de pronto, e chegando lá, ele disse que tinha mudado de posição, devido sua idade já ter avançado um pouco, tinha virado zagueiro nesse novo time.

Pensem comigo, mas e a estatura para um zagueiro? Porém não disse nada a ele, para não melindrar o querido primo. Em se tratando de Zé do Fole, não dá para duvidar, afinal o cara é mito.
Um acontecimento engraçando ocorreu quando ele foi me apresentar para o dono do time, o rapaz nem deu muita bola para mim, queria mesmo era saber a razão pela variedades de apelidos do Zé, e qual deles poderia ser chamado ali no bairro.

Fiquei na expectativa ele iria escolher para ser tratado dali por diante, porém sem titubear o mito disse – “Bom eu gostaria de ser chamado de Zé Carlos!”
Quando ele disse esse apelido, fiquei surpreso, pois desconhecia o tal até então, porém disfarcei para não estragar a farra do Zé, afinal ele era a estrela da festa.
Como tudo cíclico, o tempo passou e a vida da gente muda muito, e com isso já vão para mais de quase décadas que não vejo mais o Gugu para as intimas, Zé Fole, Zé Caetano e Zé Sastre para o mundo do futebol, Zézim para a família, ou o enigmático Zé Carlos, que até hoje não sei de onde ele tirou.

Texto:
Paulo Cesar – PC
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domingo, 18 de abril de 2021

CAMPOS DE FUTEBOL DIFERENTES

Em homenagem ao nosso espírito de boleiro amador, trago alguns campos diferentes, que acredito que alguma vez você que está lendo já se deparou com um desses.










terça-feira, 23 de março de 2021

A BOLA DE CAPOTÃO RAIZ


Essa bola em situação normal de jogo já era meio pesadinha, agora você imagine ela molhada num campinho de terra batida, cheio de lama. Tranquilamente pesaria uns 100 quilos fácil, fácil! 
Para temperar mais um pouquinho nossa resenha, imagine-se dando uns bicudos nessa bola descalço. Pois bem, acredito que deve ter sentido um sonzinho de dedinho quebrando. Isso a gente fazia, sempre que chovia.

Sendo um pouco mais maldoso ainda, ponha-se na posição do goleirão que iria defender um chute forte dado com essa senhorita molhadinha, ou simplesmente levar uma carimbada numa disputa de jogada mais forte.
Jogar futebol antigamente, posso dizer que era muito prazeroso, mas às vezes doía bastante também.

Texto: Paulo Cesar - PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela, e entre outros.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O NOSSO FUTEBOL DE FIM DE SEMANA E A PANDEMIA COVID-19

Já vamos para sei lá quanto tempo, perdi as contas dos dias em que entramos de quarentena do nosso futebolzinho devido a pandemia provocada por esse ainda desconhecido Coronavírus. Um verdadeiro metamorfose ambulante, que se transforma a cada chance que lhe é oferecida, retornando mais agressivo e letal ainda. Na ativa oficialmente mesmo só os serviços de saúde, com o pessoal da linha de frente e os considerados essenciais e mesmo assim com restrições, sendo aliviadas a conta gotas de acordo com o avanço da vacinação. 
E nós? 
Bom, o nosso velho e saudável futebol aos fins de semana, que tanto nos enche de alegria e disposição, infelizmente não é considerado até o momento essencial. Algo bem justo, pois num jogo de bola, por mais mono que seja, temos muito contato físico dos jogadores em busca da bola, contato este o combustível para a disseminação do vírus da COVID-19.
Resolvi escrever essa pequena resenha, pois num grupo de "zap-zap" que temos lá no Veteranos Perna de Pau, clube de futebol em que participo com treinos aos sábados á tarde, recebi essa foto ai que ilustra a postagem e confesso deu um certo "aperto" no coração, seguido de um misto de saudade, ansiedade e frustração e sei lá mais o que.

Ao ver a foto da trave, lá sozinha, em silêncio total, local onde já fiz muitos gols, bonitos diga-se de passagem, vieram à minha mente lembranças de muitos momentos felizes que aconteceram no clube. Dentre esses momentos destaco os torneios anuais, as festas, e as resenhas antes e pós treinos, enfim, que fazem muita falta  neste delicado momento. Também fazem muita falta os vários amigos e parentes perdidos ao longo desse período pandêmico, contrastando com a alegria da recuperação de outros amigos que foram atingidos mais gravemente pelo vírus.

Acredito no meu mais otimista pensamento de que estamos saindo deste interminável túnel escuro, e vendo uma fagulha de luz no seu final, que não será, se tudo der certo, a luz de um trem desgovernado vindo ao nosso encontro.
Enquanto essa esperada luz não se torna realidade, e tudo volte ao tão falado "novo normal", continuemos a tomar todos os cuidados necessários para nos mantermos vivos, e assim chegarmos juntos ao fim dessa extenuante batalha.


Paulo Cesar - PC

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

O LENDÁRIO BAR DO SORÓ

Quando num diálogo algumas pessoas que já passaram da casa dos quarenta anos, na sua grande maioria homens, ouvem a palavra bar em alguma parte do assunto, acredito que aconteça ali um revertério emocional, mesmo que seja em silêncio sepulcral, algo que vai lá no fundo da alma. Digo isso, pois esse pessoal que um dia frequentou bares, butecos ou similares, dificilmente não terão uma historinha cabulosa, boa ou ruim para contar, ou não contar de jeito nenhum. A melhor rede social é e sempre será uma roda de amigos, amigos trazem felicidade. e na época isso era feito na mesa de algum bar, para nós boleiros. Essas historinhas geralmente nasciam dessas rodas, e como disse, às vezes também não eram boas.

Resumindo, para quem sabia aproveitar era diversão garantida, nunca se esquecendo da velha máxima que dizia que no bar não se cospe no chão, por ser uma espécie de solo sagrado.

O Bar do Soró ficava ali na rua Aimorés, bem no centro da cidade, entre as rua Iporans e Chavantes, do lado direto no sentido Avenida Tamoios. Além de ser um ponto de encontro dos amigos para uma partidinha de pebolim, sinuca, um inocente joguinho de dominó, também era o lugar ideal para se colocar a resenha em dia, degustando um salgadinho ou uma de suas inúmeras porções.
Soró, o bom baiano de Salvador, fã incondicional do maluco beleza Raul Seixas, e adepto da frase BAR É CULTURA, contribuía muito para que a gente ficasse bem à vontade, tanto pela simpatia, como pelas piadas de efeito, que dificilmente não davam dor na barriga de tanto a gente rir. O bar do Soró também era nosso ponto de referência para irmos treinar futebol aos domingos à tarde, quem já estava por lá, só ficava esperando o pessoal chegar para pegar uma carona.

Treinávamos num campinho que ficava em um sítio na Vicinal Pioneiro Antônio Lovato, nas proximidades do Distrito de Parnaso. 
Domingo à tarde é um horário atípico para treinos do pessoal da várzea, geralmente eles se realizavam aos sábados à tarde, ou nos domingos pela manhã, ficando a tarde de domingo para descanso da rapaziada, pois na segunda tem trampo para a maioria. A explicação para o nosso treino ser no domingo à tarde era o próprio Soró, pois era o horário em que ele podia fechar o bar e ir treinar conosco, um modo de retribuição ao camarada que nos servia todos os dias.
Essa resenha se passou lá nos agitados anos 80, porém o Bar do Soró ainda se mantém firme e forte até os dias de hoje, no mesmo quarteirão da rua Aimorés que citei acima, porém agora do lado esquerdo para quem vai no sentido à Avenida Tamoios.

Texto:
Paulo Cesar - PC