quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

A REVOLTA DAS VACAS

Lá no começo dos anos 80, a década satirizada como a Charrete que perdeu o condutor, pelo maluco beleza Raul Seixas, mais precisamente em 1981, ano em que o Brasil perdeu a final do Mundialito do Uruguai para os donos da casa, com gol decisivo do valente Victorino, e também um ano antes da seleção brasileira do inesquecível mestre Telê Santana ser eliminada da Copa da Espanha pela vigorosa seleção italiana, com três gols do meu xará Paolo Rossi, fato que ficou conhecido como "A Tragédia do Sarriá" em Barcelona. A nível municipal ainda estávamos em luto, devido ao recente falecimento do fundador de Tupã, o senhor Luiz Souza Leão, também a inauguração do primeiro prédio da cidade, o edifício Cinquentenário.

No frigir desses acontecimentos do agitado começar de uma nova década, cá estava eu desfrutando dos encantos da adolescência, e sem me preocupar com nada, lá pelos lado do velho oeste do Paraná, pertinho de terras paraguaias, num dos sítios de minha saudosa tia Margarida, num bairro chamado Placa Tupi, no município de Iporã. E diga-se de passagem, minha tia não era fã de jogo de bola.

Como o gene do futebol sempre esteve no meu sangue, desde de pequeno, e lá no sitio tinha alguns pastos que davam um belo campinho, não foi difícil eu e um primo que morava por lá convencermos a nossa tia a deixar a gente improvisar um. Mesmo não gostando de futebol, nessa hora falou mais alto o senso de tiazona dela.
Inicialmente fizemos apenas uma trave, na qual eu e o primo brincávamos de campeonato, uma brincadeira peculiar da época em que um ficava de goleiro e o outro dava três chutes em cobrança de faltas, depois invertia se invertia o processo, o que marcasse mais gol ganhava a disputa. Era meio monótono, mas era o que tínhamos para o momento, e para piorar, meu primo ganhava sempre, pois o cara era uma "vareta de cutucar estrelas", e eu era bem pequeno, então ele chutava as bolas sempre altas e eu não conseguia defender.

Depois de uns dias apareceram mais alguns moleques que moravam num sítio vizinho para brincar com a gente. Após de alguns treinos mais animados, resolvemos formar um timinho para enfrenar a molecada de um outro bairro vizinho, começava ali uma rivalidade.

Fomos jogar no campo dos caras e o jogo acabou empatado, porém meu primo propôs um jogou de volta em nosso campo, como manda a tradição da várzea.
Só que para o segundo jogo acontecer, precisávamos terminar o nosso campinho. Com a devida autorização da tia fizemos a outra trave que faltava e demarcamos mais ou menos o perímetro das quatro linhas.

Enquanto estávamos fazendo a trave, notei que algumas vacas nelore que meu tio tinha colocado naquele pasto estavam de olho na gente.
Logo eu primo notou a minha apreensão com a marcação das vacas, e depois de um longo sorriso disse:
 - "Relaxa, elas são mansas, estão assustadas com sua feiura". 

Até que enfim chegou o grande dia do jogo de volta, e as vacas continuavam lá, firmes e fortes como plateia, e eu ainda com medo do olhar delas. Começou o jogo, e eu com a adrenalina da disputa da partida acabei esquecendo das ruminantes.
Já quase na metade do segundo tempo, com o jogo pegando fogo, escutei um olha a vaca.

Quando levantei olhos e vi aquele monte de vacas vindo para cima da gente, pensei, caramba aconteceu a tragédia. Assim como o resto da molecada, sai em desabalada carreira, pulei a cerca que nem lembro como consegui.
Já lá fora do outro lado da cerca e seguro, cobrei do meu primo a mansidão dos bovinos de que ele tinha falado. De novo, após uma gargalhada, ele disse:

 - "Vai ver é porque estávamos perdendo, e elas ficaram incomodadas".
Devido ao incidente ninguém mais teve a coragem de voltar a jogar, ficamos todos assustados e com medo, até meu primo que era metido a valentão miou nessa hora.

Mais tarde, meu tio com toda a calma que lhe era peculiar, explicou que as vacas invadiram o campo devido a algazarra que estávamos fazendo durante o jogo, e também por termos invadido seu espaço natural, deixando-as nervosas e estressadas.

Infelizmente ficou tudo por isso mesmo, no dia seguinte eu já voltaria a Tupã, as aulas escolares iriam ser retomadas com o fim das férias escolares.
Com a minha partida a molecada do sítio desanimou, pois eu que agitava o ambiente, e outro jogo jamais foi remarcado. Aliás, nunca mais ninguém utilizou o campinho para bater uma bolinha.

Texto:
Paulo Cesar - PC

terça-feira, 24 de novembro de 2020

OS DOIDOS CARRAPICHOS DA ADOLESCÊNCIA

Saudade dos campinhos de futebol no meio dos pastos, onde disputávamos espaço no tapa com vacas, cavalos, entre outros bichos que apareciam por lá. Sem contar os carrapichos que insistiam em fazer carinho nos nossos pés, que andavam sempre descalços, do jeitinho que a foto ilustra.
Que fase boa!


Texto: 
Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela"

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

O JOGO DO ACESSO

No ano de 2013 o Tupã FC que disputava a "Bezinha", uma espécie de quarta divisão paulista, conquistou o sonhado acesso para a série A3, até então eu não tinha perdido nenhum jogo sequer do "mais querido". Porém no grande dia do acesso, infelizmente não estava lá! 
Na época fiz uma pequena crônica a respeito desse assunto e que foi gentilmente publicada pelo amigo Mauri Magrão, então repórter esportivo do extinto jornal FOLHA DO POVO, em sua seção esportiva.
Abaixo a crônica em homenagem àqueles que sempre acompanharam o Tricolor, mas que no dia do jogo do acesso, por algum motivo, não estavam no ALONSÃO.






quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O CAMPÂO DE TERRA DA VILA MARABÁ

Até perto do finalzinho dos anos 1980, lá nos altos da Vila Marabá, fazendo divisa com a Chácara do Vellini e um pouco mais distante da Vila Ibirapuera, pela qual era ligado através de uma espécie de carreador caipira, com vários mata burros, que cortava a chácara Vellini ao meio, existia um belo terrão, que insistíamos em chamar de campo de futebol.
Esse glamoroso terrão era conhecido oficialmente como o Campão da Marabá, mas também como o Campão do Pirão, pois ficava nas imediações da casa desse inesquecível desportista tupãense, o Pirão, que acredito que a maioria dos boleiros tupaenses com mais de quarenta anos já teve o prazer de conhecer.
Também era conhecido como o Campão da Colôninha da Prefeitura, mas de maneira mais interna, pelo pessoal dali mesmo, pois havia muitas casa ao seu redor que eram habitadas por servidores municipais. Apesar do pessoal da colônia ter o terrão à disposição, dificilmente o usavam, pois eles tinha um belo campinho de futebol médio todo gramadinho, e com isso evitavam a concorrência aos sábados à tarde. O termo Campão ficou estigmatizado devido a suas dimensões é claro, mas também acredito ao grande tamanho do terreno em que foi construído.

O Campão da Marabá era formado na sua maioria por terra vermelha batida, ainda assim era possível encontrar algumas partes em que a grama insistia em manter-se viva, coisa pouca.
Durante a semana não tínhamos muita movimentação de boleiros, apenas a molecada batendo sua bolinha sem compromisso, mas aos finais de semana a movimentação era intensa. Logo pela manhã aos sábados tínhamos treinos de equipes infantis, como o Palmeirinha do Luizinho sapateiro, do PLIMEC do técnico Polan, entre outros, que se preparavam para os campeonatos da cidade e da região.

Já na parte da tarde era a vez dos marmanjos, como Guarani do Peneira e do Bolão, do Sapolândia do Bentão e outros que apareciam por lá, já que o espaço era vasto e cabia a todos. O pau quebrava até não ter mais a luz do sol, já que naquele tempo iluminação de campo de futebol era luxo, porém algumas vezes os trabalhos táticos dos professores precisavam serem estendidos um pouco mais, então contavam com a luz da Lua, ficava meio parecido com boate, mas dava tudo certo no final.
Já os domingos eram reservado para jogos e torneios previamente marcados, às vezes aconteciam alguns desencontros nessas marcações, e apareciam dois jogos para o mesmo horário, mas sempre se resolviam por ali mesmo, sem maiores alardes.
Dentre essas equipes em que já citei, que usavam o Campão como sede, e que detinham algum protagonismo no futebol menor tupãense na época, ainda cito o tradicional Botafogo do Lebinha, e o Mercadão do Zé Carlos Açougueiro e do meu primo Zé Sastre.

Naquela época ainda era molequinho, morava na rua Júlio Dualib, numa quadra que abrangia o extinto Laticínios União e a Docês Ozaluna, bem pertinho do Campão, e sempre estava por lá, para ver se sobrava uma boquinha para bater uma bolinha sem compromisso, pois não gostava muito, de treinamento físico. Joguei muita bola ali no Campão, no começo como disse, sem compromisso, mas depois atuei pelo Palmeirinhas na base e na fase adulta no Sapolândia Futebol Clube do professor Paulo Bento "Bentão", já no amador.
O Campão da Marabá foi desativo para dar lugar onde hoje estão localizados os Conjuntos Habitacionais Dr Walter Pimentel, e Severino Fortunato da Silva, e com toda a certeza, apesar das limitações cumpriu dignamente sua função social.

Texto
Paulo Cesar - PC

A PEDRADA CERTEIRA, SÓ QUE NÃO!


Alguma vez você já apanhou uma fruta no pé assim, como mostra a figura, ou seja, na base da pedrada? 

Não é a maneira mais certa, pois além de derrubar a fruta desejada, quando acerta a pontaria, o que quase nunca ocorre de primeira, também derrubar suas vizinhas que ainda pode não estarem maduras. Porém duvido que alguém na falta daquela varinha esperta para dar uma cutucada na fruta, não tenha atirado aquela pedrinha marota que estava ali do lado de bobeira.

Nos áureos tempos de futebol na zona rural, em minhas andanças a procura de um campinho para bater uma bolinha, era muito comum encontrar pelo caminho pés de frutas como manga, goiaba, jatobá, entre muito outros, e essa prática era uma constante, pois como disse, na falta de alguma coisa para cutucar a fruta, ou até mesmo na impossibilidade de subir na árvore para pegar, ia na pedrada mesmo.
O problema era quando essa pedra saia um pouco fora da rota desejada, e pelo caminho encontrava uma robusta caixa de abelhas. Toda que vez acontecia essa tragédia, o famoso "pernas pra que te quero" entrava em ação.

Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela"

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS - O CABEÇA DE BAGRE

O bagre é um peixe preguiçoso, de águas turvas e barrentas, pouco se movimenta e é facilmente fisgado pelo anzol, pois, acomodado, come o que lhe aparece. Possui imensa cabeça, desproporcional ao resto do corpo, mas de um cérebro diminuto. Por isso essa relação de semelhança com pessoas de pouca inteligência, idiota, incapaz de aprender algo ou que tem dificuldade para tal.
Na gíria do futebol o bagrão é todo aquele jogador tosco, de poucos recursos técnicos para a prática do futebol, sem quase nenhuma intimidade com a bola, ou às vezes nenhuma, e que também tem muita dificuldade em entender a orientação tática do treinador.
Para matar a bola, melhor dizendo, para dominar a bola é um problema grave, quase uma façanha, parece que ela tem medo do atleta ou vice-versa. Bate nas canelas, volta, não quer parar, o passe sai para o lugar errado.  

Trava-se mais uma luta do que um momento de intimidade, a bola é claro, sente-se maltratada, pois não recebe o mínimo de carinho necessário por parte do chucrão. Carinho esse que recebe aos montes dos craques, com os quais mantém uma relação de afeto e cumplicidade. 
O bagrão às vezes compensa essas deficiências através do vigor físico e muita raça dentro de campo, um líder que se impõe através da força bruta, qualidades essas que motivam os times a insistirem em ter pelo menos um no elenco, no sentido de motivar a equipe através de sua liderança física dentro das quatro linhas, de quebra, se possível intimidar os adversários.

No entanto, mesmo com toda essa dedicação, no máximo se tornará um carregador de piano do time, literalmente um burro de carga, que faz todo o trabalho bruto de marcação e de recuperação de bolas, para depois entregá-las a um companheiro mais talentoso, para que esse então faça a diferença no jogo. O jogador cabeça de bagre não tem vida fácil, no entanto é feliz, pois devido sua vitalidade em campo, dificilmente é substituído, quase não se machuca, pois nenhum jogador em sã consciência vai querer dar uma beliscadinha na canela de um cara desse né, e ainda conta com apoio da galera, pois o torcedor adora um jogador com essas qualidades.

Texto:
Paulo Cesar - PC

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

O BELO BAIRRO SABIÁ E OS SEUS TORNEIOS DE FUTEBOL

Seguindo pela Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros, a SP-294, no sentindo Tupã a Herculândia, a alguns quilômetros de nossa cidade, entrando à direita, temos o Bairro Sábia, um dos lugares que eu mais gostava de bater uma bolinha. Quando íamos de caminhão aos domingos à tarde jogar contra o time da casa, ou disputar os torneios que eram frequentes naquela época por lá, usávamos o acesso da estrada de terra, que ficava um pouco para frente da AABB - Associação Atlética Banco do Brasil. Porém quando eu ia aos sábados à tarde treinar com o pessoal, por ir de motocicleta, usava um acesso mais tranquilo que passava por dentro de uma fazenda, pertinho do acesso para o distrito de Parnaso, com isso evitando um confronto direto com o "areião", que dominava praticamente toda a estrada que citei anteriormente, e evitando assim algum possível tombo desnecessário da motoca.
Como disse, aos sábados à tarde tinha um pessoal que alugava o campo para treinos, e como nesse grupo tinha alguns amigos que treinavam com os caras, de vez enquando eu arrumava uma vaguinha, sem compromisso, para treinar.
Mesmo sendo uma passagem sem compromisso, foram tempos bons aquela minha passagem com os boleiros de sábado à tarde no Sabiá, muito futebol, muita resenha, churrascos, em fim, só alegria. Era um cabra de sorte, pois nas vez que ia, sempre tinha alguma coisa boa para "beliscar" após o treino.

Com respeito aos jogos que fiz contra o time oficial do Sabiá aos domingos, foram poucos, uns dois talvez. A maioria dos jogos que fiz valendo no Bairro Sabiá se concentraram nos torneios, aliás torneios por lá era o que mais acontecia. Pelo fato do bairro ser próximo a Tupã e o acesso ser fácil, a quantidade de times que participavam era grande.
As disputas se desenrolavam até o anoitecer, e na maioria das vezes eram decididas em cobranças de penalidades máximas, pois pela grande quantidade de equipes, o tempo de jogo era bem pequeno, e dificilmente o jogo era decidido com bola rolando.

Numa dessas tantas disputas, época em que atuava pelo Paulista Futebol Clube do professor Jorjão, o nosso time empatou no tempo normal, e logo na primeira rodada do torneio. Partimos então para as cobranças dos pênaltis, o professor pediu para eu fazer a primeira cobrança. Peguei a bola com toda confiança do mundo, mas acabei errando, porém o juizão voltou a cobrança. Juiz corajoso, não era comum isso acontecer, porém de nada adiantou, pois errei de novo.
Minha sorte foi que os caras do outro time também erraram, e acabamos vencendo a disputa.
Conseguimos ir passando pelas próxima eliminatórias sempre vencendo com bola rolando e pelo placar mínimo. Porém na grande final também voltaram a acontecer as cobranças de pênaltis, e eu já corri lá e peguei a bola para bater o penal, achando que estava com moral com o professor, porém nesse instante o Jorjão veio de encontro a mim e disse que era melhor eu não bater o pênalti. Mesmo a contra gosto não discuti e acatei a ordem do técnico, que naquele momento acredito era a pessoa que estava com o psicológico menos abalado. Acabou dando certo, acertamos todas nossas cobranças, enquanto os contrários erraram uma, e acabamos sendo os campeões daquele torneio.
O campo do Bairro Sabiá era um autentico tapete verde, impecável, porém tinha uma certa inclinação, e os jogos funcionam naquele esquema de atacar para cima e atacar para baixo. Sendo que quando se estava atacando "morro abaixo", a equipe procurava imprimir maior pressão, pois quando estivesse atacando "morro acima" o desgaste seria bem maior, e as forças seriam concentradas em se defender.

Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que adoramos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela, e entre outros".



quinta-feira, 20 de agosto de 2020

VAMOS TENTAR APRENDER A JOGAR FUTEBOL

Estou compartilhando este interessante tutorial sobre algumas jogadas de futebol que achei navegando por páginas da internet. Claro que não vai aprender só vendo e lendo as dicas, pois futebol é algo para se aprender dentro das quatro linhas, praticando. De certa forma já é um começo, bora lá tentar pelo menos entender como funciona o negócio chamado bola.




terça-feira, 11 de agosto de 2020

REPRESA DO SETE FUTEBOL CLUBE

Se você olhar a foto abaixo com bastante atenção, ou dar um zoom, vai notar uma velha trave de futebol já bem corroída pela ação do tempo, lá no meio do pasto quase todo encoberto pelo vasto matagal. Caso também algum dia for visitar a represa do Balneário 7 de Setembro e quiser conferir, fica do lado oposto, ou seja do outro lado da estrada que margeia a dita represa.


Pois bem, essa trave toda enferrujada que ai se encontra fincada no solo, passivamente a espera de que um belo dia volte a ser reutilizada, é a prova viva de que um dia, há muito tempo, a Represa do Sete teve um time de futebol.
Nesse local ai é onde era o campo de futebol do time local, um autêntico campo de várzea raiz, todo feito dentro de um brejão. Infelizmente não tive a felicidade de ter jogado nenhuma vez nesse campo, contra o time brejeiro do Sete de Setembro, digo time brejeiro, pois como disse o campo não beirava o brejo, era literalmente dentro dele.

Como disse, nunca tive prazer de ter jogado ai nenhuma vez, mas lembro bem do campo em atividade, pois aos domingos à tarde quando ia dar um mergulho na represa, ou quando o time em que eu jogava na época, iria fazer algum amistoso ali pelos bairros da região, como Dom Quixote, Pilar, Atali, entre outros, passávamos em frente do campo e podíamos ver a intensa movimentação de boleiros e torcedores.


Local onde era o campo de futebol da represa do Sete de Setembro

O campo dos caras era um autênticos arranca toco raiz, pois contava com todos os requisitos, pois além da tradicional grama com imperfeições, e de ser dentro do brejo, ainda tinha outros componentes charmosos, que só encontramos nesse tipo de campo de futebol.

Apesar de todas essas qualidades, que o toraram o mais raiz da região, na minha opinião, ele não tinha inclinação, era totalmente plano, e por isso facilitava para a bola correr sem muita dificuldade. Como todo time da zona da rural daquela época, a equipe do Sete de Setembro era difícil de ser batida em casa, segundo um amigo que disse ter jogado pros caras.

Aliás naquele tempo qualquer time da zona rural sempre era difícil de ser batido dentro de seus domínios, pois além de formarem bons times de futebol, o qual era o orgulho da comunidade, tinha a torcida apaixonada que pressionava, além disso tinha o juizão do jogo, que na regra era uma pessoal local, e sempre usava o famoso, na dúvida é da casa.

Apesar de toda a limitação no piso do nosso “Brejo Camp”, ele fez muito boleiro feliz, sendo assim cumpriu com méritos sua função social, para qual foi feito. Em tempo, esse nome “Brejo Camp” não é oficial, sendo apenas uma invenção por minha parte.

Texto:
Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que adoramos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela, e entre outros".

sábado, 1 de agosto de 2020

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS - A DIVERTIDA LINGUAGEM DO FUTEBOL

A bola entrou onde a coruja dorme,
na gaveta
Dos peladeiros pontuais aos profissionais, dos surrados campos de várzea aos grandes estádios, do Sul ao Norte, de mamando a caducando, todo brasileiro entende ou acha que entende um pouco de futebol.
Que o futebol é uma paixão nacional todo mundo sabe, pois a influência do velho esporte bretão é tão forte em nosso país, que ele ganhou uma linguagem própria, o chamado futebolês.
O dicionário futebolês é formado pelos termos, expressões e gírias que são usados no universo onde a “redonda” impera.
Algumas são curiosas, outras  indecifráveis e há também aquelas que são engraçadíssimas!
Lembrando que as gírias podem variar muito de acordo com a região do país onde são usadas.
Veja alguns exemplos:
Caneta= quando um jogador passa a bola por debaixo das pernas de outro jogador, e completa a jogada pegando a bola à frente.
Ficar na banheira= jogador preguiçoso que fica somente no ataque, esperando a bola chegar nele para fazer o gol. Desta forma, o jogador não volta para ajudar na marcação, prejudicando a equipe..
Cavar uma falta= simular uma situação, forçar para que o árbitro dê a falta.
Artilheiro= jogador que mais gols marca num campeonato.
Frangueiro= goleiro que toma muitos gols ou que deixa entrar uma bola fácil de agarrar.
A bola entrou onde a coruja faz o ninho= a bola entrou no ângulo.
Bicicleta= chute no ar em que o jogador, de costas para o gol, dá uma pedalada no ar e acerta a bola. 
Bandeirinha= são os dois auxiliares dentro do campo do árbitro do jogo, e que antigamente usavam bandeirinhas de cores diferentes.
No pau= expressão criada e popularizada pelo locutor Silvio Luiz, utilizada quando a bola bate na trave, lance plasticamente bonito.
Chapéu: quando um jogador chuta a bola por cima da cabeça de outro jogador, pegando-a do outro lado.
Beque de fazenda= jogador de defesa bruto, que costuma tirar a bola do atacante com uso de jogadas duras ou violentas, também chamado de açougueiro.
Catimba= atitudes que os jogadores fazem para atrasar o jogo ou deixar os adversários nervosos.
Drible da vaca ou meia lua= quando o jogador chuta a bola pelo lado do adversário, passando pelo lado contrário e pegando-a na frente.
Espalmada= quando o goleiro evita o gol, jogando a bola com as mãos pela linha de fundo.
Jogar na retranca= quando um time adota uma tática de jogo muito defensiva. Geralmente usada quando há o confronto de um time grande, com um pequeno.
Time Grande e Time Pequeno= A diferença fica por conta dos investimentos financeiros, torcida e tradição.
Firula= jogadas enfeitadas sem propósito de fazer o gol, bonitas, porém a maioria das vezes não ajuda o time.
Isolar a bola= Chutar a bola para fora do campo, bem longe do objetivo. Costumamos dizer que ganhou o leitão do jogo.

Jogador cabeça de bagre = Um mau jogador,
 que demonstra pouca inteligência em campo
Fominha= jogador que passa pouco a bola para outros jogadores e, na maioria dos lances, tenta resolver o jogo sozinho. Este tipo de jogador costuma dar muitos dribles e segurar muito tempo a bola em seus pés.
Ladrão de bola= jogador que mais toma a bola do adversário durante o jogo.
Ponte= defesa feita pelo goleiro em que ele pega uma bola que ia entrar no ângulo do gol, depois se esborracha no chão parecendo uma ponte.
Pênalti ou penalidade máxima= falta cometida dentro da área.
Prorrogação: tempo adicional para uma partida que terminou empatada. Corresponde a dois tempos de 15 minutos.
Tapete= gramado de campo com excelente qualidade.
Tabelinha= troca rápida e eficiente de passes entre jogadores de um mesmo time, o famoso "tic-taca".
Guarda-metas= O goleiro do time.
Volante= jogador de marcação que joga da região central do campo.
Matar a jogada= cometer falta para evitar o avanço do adversário em direção ao gol.
Matar no peito= dominar a bola com a região do peito.
Jogador liso= jogador rápido que consegue passar pelos adversários sem perder a bola.
Gol olímpico= gol feito a partir da cobrança de um escanteio em que a bola entra diretamente no gol.
Cartolas= Os famosos dirigentes de futebol.
Gol do meio da rua= gol marcado a partir de um chute longo, mais ou menos entre o meio campo e a grande área, longe da trave.
Mão furada ou mão de alface= goleiro que costuma rebater muito os chutes adversários. 
Pipoqueiro= jogador que foge das jogadas mais duras para não correr o risco de contusão, também some em campo nos jogos importantes.
Jogador pé murcho ou pereba= jogador ruim, que joga mal. 


Carrinho= quando um jogador tenta tirar a bola do adversário, acertando a bola através de um escorregão.
Gol de peixinho= é um gol de cabeça, feito por um jogador que pula para cabecear uma bola a meia altura.
Jogador açougueiro= jogador que utiliza de jogadas violentas. 
Bola venenosa ou bola com veneno= bola chutada com efeito que leva muita dificuldade para o goleiro.
Camisa doze= termo usado para fazer referência à torcida de um time. 
Fazer cera= demorar na reposição de bola para tirar proveito do gasto do tempo.
Chocolate= quando um time ganha de outro com grande diferença de gols (goleada). 
Manja rola= Aquele jogador que fica olhando outros jogadores quando vão urinar ou trocar de roupa.
Ferrolho= retranca, time extremamente defensivo. Exemplo: O técnico armou o time para jogar no esquema tático do ferrolho.
Gol relâmpago= gol marcado nos primeiros segundos do jogo. 
Bate-bola= partida de futebol amistosa (às vezes com número reduzido de jogadores) ou um aquecimento com bola antes do jogo.
Tapetão= jogo disputado na justiça desportiva.
- VAR (Video Assistant Referee) = é um sistema auxiliar da arbitragem de campo, que existe durante as partidas de futebol. Neste sistema alguns árbitros acompanham a partida por câmeras de vídeo e auxiliam o árbitro em lances duvidosos.
- Cavalo paraguaio= expressão usada no Brasil para referir-se a um time que começa um campeonato (após alguns jogos) em primeiro lugar, porém acaba o torneio nas últimas colocações.
Marta Rocha = Jogador bonito (alusão à Miss Brasil de 1955)
Japonês = jogador ruim de bola
Arquibaldo = torcedor que fica na arquibancada
Geraldino= torcedor que frequenta as gerais do estádio
Dar uma tijolada = dar um chute forte
Gol de placa = gol feito após uma jogada sensacional
Véu de noiva = a rede

Texto:
Paulo Cesar - PC


quinta-feira, 16 de julho de 2020

O RUDIMENTAR FUTEBOL DE RUA

Certo dia Luís Fernando Veríssimo escreveu o seguinte: "Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais rudimentar do que a pelada. É o futebol de rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o Maracanã em jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando". 
Eu respondo ao nobre escritor da seguinte forma, sim, eu sei muito bem do que o senhor está falando, pois apesar de passar a infância na zona rural, e por lá não termos nem um tipo de problema para fazer um campinho de futebol, onde a única dificuldade era desviar das vacas, cavalos e outros, também passei boa parte da adolescência na cidade, e na falta desse espaço, as ruas aqui da cidade quebravam o galho.

Naquele tempo eu e alguns amigos tínhamos timinhos de futebol, e na falta de campinhos para jogar, adotávamos algumas ruas como nossas sedes. O Canarinhos Futebol Clube do qual eu era o treinador, dono, jogador, entre outros. tinha como sede a rua Tupiniquins, o local ficava em frente o outrora movimentado Ferro Velho do Branco. Outra sede importante era a dos Calangos do Regão, e ficava na rua Guaranis entre a Tupis e Tupinambás, pertinho de onde era a agência da Ford. Outra sede também de relevância ficava na rua Chavantes, um pouco abaixo da escola Anísio Carneiro, conhecida como Quarto Grupo Escolar de Tupã na época, sediava o time do Renatinho, que não lembro o nome mais. Além dessas que citei ainda tinha outras de menor relevância, que eram usadas vez ou outra. mas as que o bicho pegava eram essas.

A coisa era bem simples, marcávamos os jogos antecipadamente, ou na hora mesmo. Jogo marcado, era só pegar alguns pedaços de tijolo para demarcar mais ou menos o campo de jogo e depois usá-lo com trave. Muitas vezes usávamos nossos chinelos mesmo como trave, para evitar o inconveniente de algum carro passar por cima do tijolo, e o motorista vir dar bronca na gente. Regra para o futebol de rua praticamente não existia, antes do jogo começar combinavam algumas coisas, mas na maioria das vezes era decido no grito mesmo, pois nem juiz tinha.
Quem tinha tênis jogava calçado, quem não tinha ia descalço mesmo, porém na maioria das vezes havia um acordo para que todos jogassem descalços, para não machucar o coleguinha mais ainda, pois o piso do asfalto já se incumbia dessa parte. O importante de tudo isso isso era se divertir ao máximo, mesmo que para isso precisasse deixasse um pedaço da unha no asfalto, coisa que era considerado normal. 
A maior preocupação de todos durante a partida nem eram os carros que disputavam espaço com a gente na rua, esses a gente driblava com facilidade, tampouco se alguém se machucava durante a partida, pois logo recuperava, mas sim se algum pereba chutasse a bola dentro do quintal daquelas casas, cujas pessoas já haviam avisado previamente que não devolveriam.

Texto:
Paulo Cesar - PC

sexta-feira, 10 de abril de 2020

O INESQUECÍVEL ESPORTE CLUBE CANTA GALO

Olá amigos que sempre conviveram com o esporte de uma forma geral...sou de uma geração que usufrui até hoje da prática do futebol, não obstante seja um veterano absoluto, na casa dos 80 anos, bem vividos, graças a Deus....

Hoje, quero falar de um grupo mesclado, com várias idades, abnegados  esportistas, que na década de 1980/90 se uniram e formaram um time de futebol, que levou o nome de “ CANTA GALO ” ,  sendo seu campo de futebol localizado na fazenda do ilustre médico tupãense Dr. JAQUETO, o qual, gentilmente, amante também do futebol, cedeu um espaço apropriado em sua propriedade  na cidade de Tupã.

Naquela época, nós já tínhamos nos reunido e adquirimos jogos de camisa, bolas, enfim, o necessário para iniciarmos nossa atividade.


Confesso, nosso time era muito combativo, e visitávamos nossos adversários em seus campos, e éramos  transportados  por caminhões alugados, carros, e muitos iam de moto, tornando-se uma formidável aventura...

Visitamos diversos Bairros Toledo, Toledinho,  localizados em fazendas, indo até as Granjas de Bastos, Iacrí, Parapuã, Rinópolis, Herculândia, e em outros locais,  onde  nossas disputas eram bastante intensas, com resultados sempre muito positivos, em vista do nosso empenho em campo...

Uma das muitas partidas bem disputadas, cito aquela que fizemos contra nossos índios da ALDEIA INDIGENA VANUÍRE, composto por jogadores de um nível muito bom, onde saímos com um empate, marcando bastante ainda a amizade que cultivamos com estes nossos irmãos.

Disputamos também o Campeonato Varzeano promovido pela Liga Municipal Tupãense de Futebol, campeonato que infelizmente não obtivemos bons resultados...

Posteriormente, com o tempo interferindo em nossas idades, fomos perdendo nossos companheiros, inclusive a perda lamentável de atletas em acidentes que marcaram muito o nosso grupo.

“CANTA GALO “.....sempre será um ponto de referência em nossas vidas, da abnegação, espontaneidade, superação de todos os entraves e dificuldades que surgiam sempre, e sabíamos contornar todos os problemas, inclusive as de ordem econômicas , pois não tínhamos patrocinadores para nos ajudar...

O tempo portanto foi o nosso algoz, mas, deixamos a nossa marca no tempo das nossas lembranças, que jamais serão esquecidas... foi um período marcante para todos nós num tempo entre 5 a 7 anos de atividade esportiva, no qual vivemos intensamente aos sábados e domingos, com a participação de nossos familiares que suportavam as nossas ausências em nossos lares....

É com muita saudade que faço este comentário, desprovido de mais fotos ou de outros documentos relativos à época... Deixo neste momento de reflexão e relato, um abraço ao Dr. JAQUETO pela cessão do campo de futebol, ao saudoso grupo e aos amigos que sempre nos incentivaram ....as minhas orações àqueles que já nos deixaram e vivem em nossas consciências ....

Meu agradecimento a Deus pela oportunidade e a proteção que nos concedeu ..

Abraço a todos.

Texto:
Dr Antônio Carlos Faleiros
(Ex atleta do Esporte Clube Canta Galo)

quinta-feira, 19 de março de 2020

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS - GANHAR NO GRITO

Dentro do nosso querido futebol brasileiro, principalmente dentro do tradicional "quebra dedo" raiz, temos um rico vocabulário de gírias, que mudam de nome conforme a região em que são usadas. Porém sempre retratando as mesmas coisas de do nosso esporte bretão. 
Hoje trouxe uma gíria que praticamente é universal, todo mundo usa, quer ser no futebol ou até mesmo fora dele, no nosso dia a dia mesmo.

Seria uma espécie de "levar vantagem em tudo", lembram da jurássica propaganda do cigarro, lá nos anos 70?
Pois bem, influenciar decisão favorável do árbitro, com reclamações ou argumentos, em vez de simplesmente jogar bola e acatar as decisões de sua senhoria, isso no futebol se resume em que chamamos de querer ganhar no grito.
A definição parece que ficou meio vazia né, resumindo, aquele jogador que fala o jogo inteiro, com razão ou não, que literalmente quer apitar a partida, isso ai é considerado, querer ganhar no grito.

Num jogo de futebol, geralmente o gritador mor é sempre o capitão do time, no caso desse capitão ser tímido, fica com a incumbência o jogador mais caneludo, ou seja, aquele fortão que mal sabe jogar bola e que usa essa força física para bater da medalhinha para para baixo, aquele camarada que entra no jogo só para intimidar e encher o saco dos outros boleiros, um verdadeiro mala.

Da medalhinha para baixo é um termo bastante usado, principalmente pelos boleiros das antigas, para ilustrar que abaixo do pescoço, todo lugar do corpo seria alvo das pancadas do perebas caneludos de plantão. Que só não batiam acima do pescoço, local onde ficava a correntinha com a suposta medalhinha, porque do resto para baixo, o pé duro não alivia nada.

Texto: Paulo Cesar - PC

"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, o futebol que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela, entre outros".

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

REGRAS BÁSICAS DO FUTEBOL DE VÁRZEA

No Brasil, temos para cada esquina 7 campos de futebol, uns menores outros maiores, alguns são no meio de ruas, e tem as traves em forma de chinelo, alguns tem linhas, outros a linha é imaginária, e geralmente imaginária para o que gritar mais alto.

Regras principais do futebol de várzea.

Campo – Qualquer espaço maior que o seu quarto já é o suficiente. Iluminação e conforto são itens que podem ser dispensados. O relevo varia; vai desde um campo de futebol propriamente dito até um terreno baldio não necessariamente plano, geralmente cheio de barro, ou em plena rua; seja esta asfaltada, totalmente esburacada, coberta por paralelepípedo, de areia, etc. Ou seja, dá para praticar este nobre esporte em qualquer lugar. Já o tamanho dos gols é decidido na base da gritaria, negociação entre os times quando não houver traves no “campo”.

Número de Jogadores – Indefinido, depende muito do espaço disponível, das condições climáticas e da disponibilidade de tempo. Preferencialmente, necessita-se de um número par de jogadores, mas como sempre um dos times tem um jogador diferenciado, o outro fica com um jogador a mais, geralmente aquele que tem o menor potencial futebolístico.

Formação das Equipes – Ás vezes, se dá por afinidade, porém geralmente é feito um sorteio segundo os mais diferentes critérios, geralmente apelando para metodologias infantis, como par ou ímpar, 2 ou 1, entre outros. Logicamente, você será o último a ser escolhido e, impreterivelmente, será mandado para o gol, pois dessa forma a parte ofensiva do time pode compensar os frangos que você levar.

Tempo de Jogo – Totalmente indefinido, mas geralmente acaba quando um dos “times” fizer o terceiro gol pra todo mundo poder jogar.
Outro fator relevante é a influência climática, a chuva muitas vezes impede o segmento de uma partida, em alguns casos provoca a economia de água nas casas dos jogadores ou até torna a partida mais divertida. Se você for menor de idade, o tempo de jogo depende, certamente, do humor da tua mãe. Caso teu pai ande fazendo o papel dele de forma insatisfatória, você nem jogará, ou o fará por poucos minutos. Caso o varzeano já for casado, dificilmente jogará, e, se jogar, sua mulher lhe dará uma suspensão por vários jogos até que você aprenda a não deixá-la de lado.

Arbitragem – A marcação de faltas e demais irregularidades se dá através da milenar técnica do grito. Não há nenhuma punição formal como cartões, mas há, geralmente, uma punição extracampo para o transgressor que der aquela bicuda malvada na canela do amiguinho.

Plateia – Varia, de acordo com os dois primeiros quesitos. Se você for uma criança, sua mãe e uma cinta serão as prováveis espectadoras. Caso você seja cabra hômi, sua partida poderá ser acompanhada por bêbados, por moças que gostam de futebol, pelo seu filho, ou provavelmente você vai estar assistindo o jogo de uma posição totalmente privilegiada: o banco de reservas, só esperando o jogo acabar pra você entrar na próxima partida.

Regras Gerais

(1) Nenhum campinho do Brasil deve ter rede nas traves.

(2) A única regra sobre faltas é que não há faltas, simplesmente segue o jogo.

(3) Sempre haverá jogo, independentemente do número de jogadores.
3.1 – À partir de 5 jogadores, já tem correria, já rola jogo.
3.2 – Com 4 jogadores se joga a famosa “duplinha”.
3.3 – Com 3 jogadores temos o clássico e divertido “3 dentro 3 fora”.
3.4 – Só você e seu amigo? Com 2 jogadores faça um “gol a gol”
3.5 – Só você e a bola? Ficarás chutando a bola na trave até cansar, após irá para casa.

(4) Não importa qual o placar da partida, se alguém grita ” QUEM FIZÉ GANHA “, imediatamente a bola vai ao centro do campinho e se começa uma final de copa do mundo.

(5) O jogo termina quando:
5.1 – Anoitecer, pois raros campinhos tem iluminação;
5.2 – O dono da bola for embora, geralmente irritado pois estava perdendo;
5.3 – Sua mãe chamar você;
5.4 – A bola furar;
5.5 – A bola cair no patio do vizinho, que tem 13 pitbulls.

(6) Não existem faltas diretas, sempre ( eu disse SEMPRE ) é dois toques.

(7) Gols e lances duvidosos, serão decididos pelo método da gritaria, ou lei do mais forte.

(8) Se você for ruim, você vai para o gol.

(9) Se não tiver linhas no campo, então não há área, e se não tem área então não há pênalti, mesmo que a falta seja do lado da trave, não é pênalti, é falta e é dois toques.

(10) Se você é o mais forte, mais velho, dono da bola e o campinho é na frente de sua casa, você inventa as regras.

 Algumas frases sempre ditas em uma pelada:

 É minha!
 Deixaaaaa!
 É nossa!
 Como nossa? Se eu chutei em você?
 Quem rouba sempre perde!
 Sou o último a ir no gol.
 Não saiu, tu é cego?
 Não vale bomba.
 Gol? Passo por fora da trave.
 Imprensada é da defesa!

Texto:
Paulo Cesar - PC

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS – O AÇOUGUEIRO

Na peculiar linguagem do futebol chamamos de "açougueiro" aqueles atletas que não têm nenhuma intimidade com a bola, e geralmente usam da força física e consequentemente da violência para se dar bem no futebol.
Essa parcela "chucra" de atletas geralmente é composta por jogadores que atuam no setor defensivo de uma equipe, na maioria das vezes sendo um dos zagueiros. Porém, também podemos encontrar açougueiros bem mais famosos em outras posições, que sabem jogar bola, mas são desleais, e gostam de bater um pouquinho, só que são mais sutis. Como dizemos no esporte bretão, "batem na maldade mesmo", enquanto o açougueiro raiz bate por que não sabe jogar bola mesmo.
O açougueiro geralmente é o “dono” do time, posição essa exercida na maioria das vezes no “grito”, ou na “força bruta” mesmo, que são absorvidas pelos companheiros durante sua participação nos jogos, uma espécie de proteção para a equipe.
Em suma, o açougueiro raiz é aquele jogador que não enxerga a bola, apenas consegue ver as canelas dos adversários.
Já me deparei com muitos açougueiros na vida, sempre me mantinha longe do raio de ação do maluco e tocava a bola rápido. Fazer firula na frente de um doido desse é assinar a sentença de canela quebrada.
TERRY BUTCHER :Esse aqui era açougueiro até no nome.
O jogador inglês que tinha ‘açougueiro’ no nome e ‘sangue no suor’ . Em 1989 a seleção de futebol da Inglaterra precisava de um empate contra a Suécia em Estocolmo na última partida das Eliminatórias para garantir classificação para a Copa do Mundo de 1990. O capitão do time inglês era o zagueiro Terence, conhecido como Terry. O sobrenome Butcher (açougueiro em português) parecia prever que algo aconteceria e marcaria para sempre com sangue a carreira daquele homem.
A dor de ser um dos jogadores driblados por Maradona naquele histórico gol na Copa de 1986 foi superada com os olhos arregalados e o uniforme encharcado de sangue depois da partida em que o English Team conseguiu a classificação para o Mundial de 90.
Com a cabeça aberta por um ferimento logo no início do jogo contra os suecos, Butcher recebeu um curativo que não suportou as muitas bolas cabeceadas em sequência, dadas sem medo por ele. Lembrando que nos dias de hoje não é mais permitido que o jogador que apresentar algum tipo de sangramento permaneça em campo.

O mais curioso é que Butcher não era inglês de nascimento. Ele foi um dos poucos jogadores nascidos fora do país (Cingapura) a defender a seleção da terra da rainha em Copas. E não foram poucas: três mundiais.
Hoje, Butcher é técnico, o ‘açougueiro’ é, acima de tudo, um exemplo para todos os atletas de como se joga com amor à camisa e às canelas dos adversários.

Às vezes podemos observar treinadores aqui no Brasil dizendo que é “preciso suar sangue”, numa figura de linguagem. Inconscientemente, estão fazendo uma alusão a Terence Ian ‘Terry’ Butcher. Uma carreira construída com suor, lágrimas e, acima de tudo sangue, dele e de muitos adversários que ele quebrou pelo menos um dos ossos.

                                                                                                                 
                                                                                                    Paulo Cesar - PC