quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

O CAMPINHO DA FÁBRICA DE CADERNOS

Imagem da internet
Um pouco antes da metade dos anos oitenta eu tinha um grande parceiro no futebol, o saudoso Claudevino Pereira, ou simplesmente Crá como ele era mais conhecido entre os amigos. O Crá além de jogar muita bola, também enveredava pelos lados da dança, era um dos melhores dançarinos de breik da época, e de quebra fãnzaço do ídolo Michael Jackson e do seu passinho Moonwalk.

Vale lembrar que o breik era o ritmo de dança tipo febre do rato da época e reinava soberano. Eu mesmo não curtia muito, mas remexia o esqueleto quando ia nas brincadeiras dançantes, o ritmo era contagiante.
O Crá começou a trabalhar numa fábrica de cadernos muito famosa aqui na cidade, a Fábrica de Cadernos Liberdade do saudoso João Scassola, e para a história ficar mais doce, no fundo dessa fábrica havia um lindo campinho de futebol médio, que cabia tranquilo oito para cada lado, um deleite só.
Não demorou muito tempo para o Crá enturmar-se com pessoal de lá e começar a jogar bola com eles. E seguindo o ditado que diz, "amigo é amigo", Crá deu um jeito rapidinho de me colocar no caldeirão, para que eu fosse bater um bolinha naquele maravilhoso tapetinho.
Nunca esqueço, chegou a cair uma lágrima de meu olho de tanta felicidade quando fui treinar pela primeira vez.

Foi uns dos melhores lugares que treinei nas tardes de sábado até hoje, pois lá tinha de tudo, além de muito futebol com treinos pra lá de quentes, jogadores bons, jogadores mais ou menos, muitos perebas, resenhas pós treinos regadas a muita tubaína e sarapatel nos mais variados botecos, muitas  discussões, pois nossos treinos não contavam com um juiz de ofício, então algumas jogadas tinham que ser decididas no grito, e quem gritava mais alto levava, tudo que um bom jogo de bola nível várzea exige.
O campinho ficava às margens da Rodovia João Ribeiro de Barros, em frente à entrada principal da EXAPIT, onde hoje é um dos distritos industriais da nossa querida Aldeia, e como disse, os treino começavam nas tardes de sábado e só acabava quando não tinha mais luz solar, uma várzea total.

O organizador e comandante linha dura desse grupo era o mito Zé Lacerda, ZL para os íntimos, que trazia consigo o pessoal da extinta Cooperativa Agrícola de Cotia em peso para abrilhantar um pouco mais o treino.
A "Cutia" como eles carinhosamente a chamavam, se localizava na baixada da rua Aimorés, vizinha do também extinto Clube Marajoara, bem do ladinho do Córrego Afonso Treze, região outrora povoada por inúmeras máquinas beneficiadoras de café, amendoim, e entre outros cereais, como Máquina União, Máquina Progresso, entre outras.
O meu inseparável parceiro de bola nos anos 80, o craque Claudevino Pereira, o popular Crá, infelizmente faleceu em 2021 na cidade de Limeira, cidade onde estava residindo na ocasião.

Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, entre outros!"

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

A ESCOLINHA DO FUTEBOL DO BAIRRO AFONSO Xlll

Para contar essa história vamos voltar lá no ano de 1977, ano esse em que meu querido Corinthians do imortal Zé Maria, o Super Zé, lendário lateral direito quebrou um jejum de 23 anos sem ganhar um Paulistão, faturando o caneco em cima da grande Ponte Preta, a famosa macaca de Campinas com um gol literalmente de nariz do ótimo Basílio, num jogo para lá de dramático.
Nesse ano eu cursava a antiga terceira série do ensino fundamental numa escolinha rural do bairro Afonso Treze, conhecida como a Escolinha do Frigorífico Sastre, porém não pertencia ao frigorifico, era conhecida assim pois ficava nas imediações do mesmo.
Na ocasião tínhamos um professor muito dedicado no quesito educação, e também para o nosso deleite, uma pessoa simplesmente apaixonada pela arte de se correr atrás de uma bola de futebol, o professor Josué. 
Essa escola era uma construção única, ou seja, um cômodo bem grande, bem parecido com o da foto de ilustração, no qual eram abrigadas todas as séries, sendo separadas pelas fileiras, tipo na primeira fileira de carteiras ficava o pessoal do primeiro ano, na segunda o pessoal do segundo ano, e assim até a quarta fileira.

O terreno da escola era todo delimitado por grama, então logo que o professor chegou já arquitetou um campinho de futebol. 
O professou selecionou os alunos que gostariam de bater uma bolinha, e fez um acordo com os que não iam participar dos jogos, de que eles estariam dispensados todas as sextas feiras após à merenda, que era preparada carinhosamente pelas nossas mães, numa parceria com o professor.
Então ficou decidido de que todas as sextas feiras depois das dez horas o bicho ia pegar.

O professor começou a formar os dois times, mesclando alunos das séries, só que precisava de alguém adulto para fazer páreo ao professor pois o time em que ele jogava ficava muito forte, a gente não conseguia tirar a bola dele, ele jogava muita bola.
Sugeri a ele que chamasse meu primo o Zé do Fole para jogar no outro time, ele concordou, só que o Fole era muito bom de bola, melhor que o professor e mais novo, então desequilibrava o jogo de novo. 
Durante a semana seguinte sugeri ao professor que chamasse um outro primo meu,  que achava que jogava igual a ele, ele aceitou de imediato, porém ficou com pena de dispensar o Zé do Fole.
Como havia o pai de um outro aluno que queria participar, sugeri de novo ao professor que chamasse o pai do aluno e o Zé para jogarem de goleiros. Essa arrumação deu certinho, e o pau quebrou durante o ano letivo todo.

Mas sempre tem aquela máxima de que tudo que bom dura pouco. No nosso caso na virada do ano ficamos sabendo que o nosso querido professor jogador havia sido promovido e com isso não nos daria mais aula, ficando apenas em trabalhos internos na Diretoria de Ensino.
Aquela notícia caiu como uma bomba na comunidade futeboleira da escolinha, que já estavam afiando canelas e planejando uma nova temporada.

Pois bem, assim que retornamos às aulas, logo na chegada a primeira coisa que observamos foi o gramado sem as traves, traves não, eram apenas pedaços de madeiras fincados no chão. A nova professora já tinha solicitado a retirada de todo material e no lugar seria feito um jardim.
Na apresentação ela deixou bem claro de que viera apenas para alfabetizar, e que a disciplina futebol não estava na grade daquele ano.
Não foi um ano fácil, porém foi produtivo, pois deu um bom norte para entrarmos no ginasial com sangue nos olhos, e do futebol da escolinha só restaram as boas lembranças.

Texto:
Paulo Cesar - PC

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

O TEMIDO TROFÉU TRANSITÓRIO DOS VETERANOS PERNAS DE PAU

Fiz parte por quase vinte anos dos Veteranos Pernas de Pau, um clube de futebol formado por boleiros com idades acima dos quarenta anos, fundado lá em 1971 pelo senhor Takao Kawakami (antiga Loja Kawakami) junto com outros boleiros amigos dele na época. O Perna de Pau completou cinquenta anos em plena pandemia do COVID, no conturbado 2021, e naquele momento sem sequer poder bater uma bolinha, e muito menos fazer uma festinha.

Dentre muitas peculiaridades, o clube é famoso pelos disputados torneios que temos lá no Centro de Treinamento, onde até a imprensa local disputa espaço para marcar presença para cobrir o evento, e também participar da confraternização após as disputas, e que é sem dúvida o ponto alto da festa.

No período em que o torneio é disputado, o grupo dos Veteranos Pernas de Pau Tupã, com aproximadamente sessenta sócios e mais alguns convidados é dividido em quatro equipes, com nomes bem sugestivos: Feios, Magros, Gordos e Bonitos. Ao contrário de você que está lendo e deve estar pensando, para jogar na equipe dos gordos o boleiro não precisa necessariamente estar acima do peso, regra essa que vale para todas as outras equipes. Se fosse cumprir essa exigência o time dos Bonitos nem iria existir, é só uma forma divertida de separação das equipes.

O torneio tem muitas premiações individuais e coletivas, sendo elas as mais destacadas a do artilheiro, do jogador mais disciplinado, jogador mais chorão, equipe campeã, do melhor jogador, entre outras não menos importantes. Porém tem uma premiação que todos fogem dela, o temido troféu transitório de PERNA DE PAU do semestre. Vale destacar que o troféu transitório não pode de forma alguma ser dado aos boleiros convidados, por mais pereba que ele seja, o troféu tem que ficar em casa. Outra peculiaridade é quem escolhe o grande PERNA DE PAU, aliás a gente nem sabe o critério direito, só sabe que a comissão é vitalícia e soberana, não havendo brechas para posteriores recursos.

O troféu do PERNA DE PAU, de preferência, é dado aqueles jogadores que têm alguma condição técnica, que saiba jogar bola, que é do ramo, como gostamos de dizer, porém que durante o torneio não consiga desempenhá-la de modo que possa ajudar sua equipe, ou então que fizesse alguma coisa bisonha, do tipo chutar o ar ao invés da bola, matar a bola de canela, enfim, outras lambanças que caracterizavam a má fase do boleiro durante o torneio.

Já na divisão das equipes podemos prever os candidatos favoritos ao troféu transitório, pois como disse, a escolha recaia quase sempre sobre os de melhores técnicas, salvo se algum de técnica menor fizer muita lambança, ai não tem jeito, será ele mesmo. Caso contrário evita-se escolher aquele boleiro que começou a chutar a gorduchinha já depois de alta idade né, ai perderia a graça.

Os torneios antigamente eram realizados duas vezes ao ano, o de inverno e o de verão. O feliz contemplado com o troféu tem a difícil missão de deixá-lo pelo periodo entre um e outro torneio em sua residência, na estante junto à televisão de preferência e ainda por cima tirar fotos e mostrar lá no clube. Para se livrar do incomodo de ficar todo dia vendo aquela coisa ali na estante, só no próximo torneio mesmo, caso não seja escolhido novamente.

Como disse no começo, fiz parte do clube por quase duas décadas e tive felizmente essa dolorosa missão de guardar o troféu na estante de casa apena uma vez, mas ainda acho que minha escolha foi injusta, errar uma cobrança de pênalti decisiva é normal, num jogo de futebol fervendo você chutar mais o chão que a bola é irrelevante.

Texto:
Paulo Cesar - PC


quinta-feira, 20 de outubro de 2022

SÂO MARTINHO FUTEBOL CLUBE

Igreja Bairro São Martinho

Ao longo do tempo o São Martinho sempre foi um bairro muito movimentado, os famosos bailes em seu imponente salão na época, com a animação do saudoso Zezinho Miquelim e seu conjunto e depois pelo seu sucessor Chicão e seu conjunto, pelas personalidades de alto poder político e econômico que lá residiam e movimentavam o bairro, como o saudoso vereador Romão Lopes, que dá nome à vicinal que liga Tupã ao Bairro São Martinho, as marcantes celebrações religiosas realizadas em sua belíssima igreja, e principalmente pelos jogos de futebol aos domingos à tarde, os quais arrastavam uma multidão de torcedores apaixonados à beirada do campo, para assistirem ao bom time de futebol do São Martinho, que simplesmente desfilava dentro das quatro linhas, o time era bom mesmo, dava gosto assistir.

Campo de futebol nos dias atuais

Tinha um primo, o Zé do Fole que jogava no time do São Martinho nessa época, e eu sempre o acompanhava. Aproveitando o prestígio que o Zé tinha com o pessoal lá do bairro, fui logo tratando de arrumar um lugarzinho para bater uma bolinha também.

Como ainda era muito novo, comecei jogando no time da molecada do São Martinho, que tinha a direção do Seu Chico, e faziam os jogos amistosos pelas manhãs de domingo. Joguei bastante tempo por lá, mas resolveram dar uma parada com a molecada, então após isso comecei a jogar aqui pelos times da cidade.

Depois de um certo tempo o time de aspirantes do São Martinho começou a ser comandado pelo amigo Renato Ferreira, que me convidou para jogar no meio-campo do time dele. Aceitei sem frescura, pois Renato era um grande amigo, e eu adorava o bairro.
No time de aspirantes fiz inúmeros jogos, sendo eles amistosos, torneios e até um campeonato rural que teve na ocasião, organizado pela Liga Municipal Tupãense de Futebol.

Acesso o bairro

Nos jogos dentro do São Martinho era difícil o adversário levar a melhor, pois além de enfrentar uma boa equipe dentro de campo, tinha a difícil missão de controlar os nervos com as provocações dos inflamados torcedores na beirada do campo, sem contar também que na dúvida, o juizão sempre vai dar para o time da casa.
O São Martinho tinha um belo campo de futebol, mas com o asfaltamento da vicinal que liga Tupã a Queiroz, foi preciso fazer um desvio na estrada, e com isso acabou levando um pedaço do campo e com isso um pouco da sua beleza.
Depois desse corte que tiveram que fazer, o campo ficou muito diferente, digamos estranho, porém o glamour de se jogar pelo bairro não se perdeu.
O que infelizmente se perdeu ao  longo do tempo foi a tradição dos acalorado jogos de futebol nas tardes de domingo no sítio. Dificilmente nos dias de hoje conseguimos encontrar algum time de futebol da zona rural em atividade, nem mesmos os belos campos de futebol de outrora existem mais.

 

Texto: Paulo Cesar – PC


 

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

COMO APLICAR UM CHAPEUZINHO

Estou compartilhando este interessante tutorial sobre algumas jogadas de futebol que achei navegando por páginas da internet. Claro que você não vai aprender só vendo e lendo as dicas, pois futebol é algo para se aprender dentro das quatro linhas, praticando. De certa forma já é um começo, bora lá tentar pelo menos entender como funciona o negócio chamado bola.
A dica de hoje é de como aplicar um chapeuzinho no pereba adversário.

Texto:
Paulo Cesar - PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amos chamar de Quebra dedo, racha canela, arranca toco, entre outros.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

ESPORTE CLUBE BAIRRO SÃO BENTO

Distante uns doze quilômetros da cidade de Tupã, e ainda no momento em que eu rabiscava essa resenha, sendo acessado por estrada de terra, encontramos o Bairro São Bento.
Bairro este que fica incrustrado por densa vegetação, dentre elas, grandes moitas de bambus, eucaliptos e antigas arvores de porte elevados, em uma das muitas curvas existente na estrada rural que liga o Bairro Três Vendas ao Bairro Toledo, um pouco para frente da divisa entre Tupã e Arco-Íris. 

Outrora foi um importante bairro no quesito jogos de futebol no sítio aos domingos à tarde, festas, bailes, entre outros eventos. 
O Bairro São Bento até a metade dos anos noventa, fazia parte da área político administrativa de Tupã, porém com a emancipação do então distrito de Arco-Íris, passou a pertencer ao município vizinho recém criado.


Eu participei de muitos jogos e torneios no bairro São Bento, porém sempre jogando contra a equipe do bairro, não tive a oportunidade de jogar em favor dos caras nenhuma vez. Apesar de nunca ter a oportunidade de vestir a camisa do time local, eu gostava muito de bater uma bolinha por lá, pois além do campo de futebol ser impecável na época, achava o bairro muito bonito esteticamente devido ao paredão de arvores que o cercava, e também com um charme peculiar, pois a estrada cortava o bairro ao meio, ou seja, de uma lado da rua ficava o campo de futebol, e do outro os vestiários, o salão de festas e a pracinha onde o pessoal ficava assistindo aos jogos. Aquela movimentação de pessoas de um lado para o outro que era o diferencial do bairro.

Apesar da temperatura dentro do campo ser alta durante as disputas, não me recordo de nenhum incidente de mais relevância dentro ou fora de campo, nas vezes que atuei por lá. Apenas algumas jogadas um pouco mais disputadas do que o normal, aqueles empurrõezinhos espertos para provocar o boleiro que sai da casinha om facilidade. Até a apaixonada torcida do bairro não pressionava tanto, a grande maioria estava lá apenas para assistir ao jogo. Os mais exaltados faziam um certo barulho, porém como ficavam afastados do campo devido a estrada que cortava o bairro ao meio, esse barulho em certas partes do campo nem chegava.

Como aconteceu com todos os bairros da região, por lá também acredito não ter um time de futebol oficial para movimentar as tardes de domingo, nos dias de hoje. Porém ao contrário de outros bairros, como o campo ainda continua preservado, credito que o pessoal ainda bata uma bolinha sem compromisso por lá, nos finais de semana.

Abaixo algumas fotos atuais desse importante e bonito bairro:


Vista geral do campo de futebol do bairro São Bento

Vista geral do bairro, salão de festa, igreja e vestiário

Igreja


Portal

Estrada que divide o bairro

Texto: Paulo Cesar - PC.
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, entre outros".

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

O FUTEBOL RAIZ NA SUA ESSÊNCIA

A melhor disputa de pênaltis que você já viu, na vida,👏👏👏. 
Disputado num chiqueiro, ops, digo em um campinho que faria inveja a qualquer suíno de plantão.
O mais puro suco do futebol de várzea!
Amo isso!



Texto:
Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aqueles que amamos chamar de arranca toco, racha canela, quebra dedo, e entre outros".


segunda-feira, 12 de setembro de 2022

VETERANOS PERNAS DE PAU TUPÃ

Um motivo de muito orgulho para mim, foi o de ao longo dessa minha vida de boleiro de várzea, ter feito parte por mais de vinte anos de um clube de veteranos, um clube não, vamos mudar o artigo ai, vamos dizer "O CLUBE". Isso mesmo, OS PERNAS DE PAU DE TUPÃ, um belo clube de futebol com mais de cinquenta anos de existência, fundado pelo seo Takao Kawakami lá em 1971, e contando em sua rica história com passagens de renomados ex-jogadores de futebol da cidade pelo seu quadro associativo, dentre eles o centroavante Pulga, Robertinho, Rubinho, França, ter um dos torneios mais badalados da região, seguidos de luxuosas confraternizações, uma sede própria, com um invejável campo de futebol, além de já ter feito inúmeros e importantes amistosos por todos os lugares.

Antes de terem sua sede própria os Pernas de Pau viveram uma verdadeira via sacra, na busca de um campo para os treinamentos sempre aos sábados à tarde, dentre esses lugares que lembro e posso citar, foram os campos da Fazenda Luar, Fazenda Bandeira, Campo do Almoxarifado, Campo de Parnaso e no começo de tudo no saudoso Campo do Beisebol.
O Clube dos Pernas de Pau conta na sua maioria com boleiros acima dos quarenta e cinco anos, mas também tem alguns que já passaram e muito dos desse referencial, porém ainda estão bem fisicamente para a idade avançada que os acompanha.

Tem de tudo um pouco lá pelas bandas do Centro de Treinamentos, caras que sabem tratar bem a gorduchinha, outros que nem tanto, temos também o pessoal que mal sabe se a bola é redonda ou quadrada, e aquele pessoal que começou a chutar a bola depois do casamento. Enfim, mas no final colocados todos dentro de um bom caldeirão, no caso o campo com o gramado impecável, a sopa fica bem saborosa, e o treino fica divertido.

Com a equipe dos Veteranos Pernas de Pau já tive o prazer de disputar muitos amistosos, dentre eles posso citar os amistosos nas cidade de Ponta Porã MS e Pedro Juan Caballeiro no Paraguai por duas vezes, contra a equipe de veteranos do Marilia, que contava com uma infinidade de jogadores veteranos que atuaram em grandes equipes, dentre eles o meio campista Jorginho que jogou pelo palmeira nos anos 70 e 80, além de jogar contra equipes veteranas da região como Parapuã, Quintana, Arco-Iris, e também aqui da cidade, contra os Trintões, Clube das Quintas, entre outras equipes.

Hoje em dia porém os amistosos foram deixados de lado, nos dia de hoje a aventura maior dos boleiros é se limitar em conseguir ir treinar, e voltar para casa inteiro, ou quase e sem muita dor, pois como tudo nessa vida tem um prazo de validade, as canelas, joelhos, pulmões e afins dos caras também já não são os mesmos.
Depois dos treinos sempre vem a recompensa, ai temos a tradicional resenha, momento de descontração e confraternização, onde rolam as fofocas do dia a dia e de vez enquanto um churrasquinho, por que ninguém é de ferro.

Texto:
Paulo Cesar – PC


terça-feira, 16 de agosto de 2022

VÍCIO POUCO É BOBAGEM – BEIRA COVA, O MISTERIOSO CAMPO DE FUTEBOL DE TERRA BATIDA


Na imagem ao lado podemos ver um pequeno grupo de garotos apaixonados por futebol, que joga o glorioso esporte bretão em qualquer lugar ligeiramente plano. E quando digo em qualquer lugar, é qualquer lugar mesmo, até mesmo entre as silenciosas sepulturas de um campo santo.
Pegando um gancho na imagem em que os meninos brincam tranquilamente entre os silenciosos túmulos, lembro-me de um campo de futebol que tínhamos aqui em Tupã (SP), lá nos longínquos anos 80, chamado carinhosamente pelos boleiros da época de "BEIRA COVA", onde hoje se localiza o valorizado bairro Tupã Mirim, próximo à também à saudosa COPLAP, importante cooperativa de leite, que também infelizmente não existe mais.
O imponente BEIRA COVA tinha esse nome, não oficial, diga-se de passagem, pois uma de suas laterais era literalmente grudada ao muro do CEMITÉRIO DA SAUDADE.
Outra peculiaridade do BEIRA COVA era o fato de que o campo não tinha grama, sendo de terra batida, o famoso terrão vermelho, um glamour só.
Apesar de morar bem distante do referido, eu disputei algumas partidas naquele misterioso campo. Uma que me marcou bastante foi quando jogamos debaixo de uma chuva danada. Pensem só, um campo de terra vermelha e chovendo, imaginem o estado das roupas dos jogadores ao final do jogo? Com certeza faria qualquer suíno morrer de inveja, e a mãe do atleta morrer também, só que de raiva. Para os lameiros da época era um prato cheio.
Minha saudosa mãe não gostava muito quando eu ia jogar por aquelas bandas, pois teria trabalho para desencardir a roupa, porém o coração de mãe sempre falava mais alto e ficava tudo certo.
Em uma das vezes, só pra variar, desde aqueles tempos meus chutes na bola já não eram lá essas coisas, e em um dos chutes, a bola caiu dentro do cemitério, e como nas peladas quem chuta fora busca, rapidamente pulei o muro para buscá-la, fazendo valer a lei das peladas, afinal não tínhamos gandulas, e o jogo não podia parar.
Ao adentrar o “campo santo” avistei um velhinho fumando um cigarro de palha encostado em uma das sepulturas. Ao me ver o senhorzinho disse:
- Hoje tem bastante torcida garoto!
Olhei para todos os lados do campo e não vi ninguém, além dos jogadores em campo me esperando ansiosos pela volta da bola, e alguns que já estavam me xingando pela demora.
Quando voltei meu olhar de novo para o velhinho, surpresa, ela não estava mais ali. Confesso que no calor do jogo em que eu estava, nem me dei conta daquele fato e continuei o jogo na mais normalidade possível.
Algum tempo depois procurei saber com pessoas de mais idade que frequentavam o campo sobre detalhes do ocorrido. Fiquei sabendo que existiam histórias de que quando tinham jogos no Beira Cova, a plateia era formada pela população do cemitério. Principalmente pelos boleiros já falecidos, que ficavam ali sentados no muro assistindo aos jogos e cornetando os atletas, tipo a "turma do amendoim", como ficaram conhecidos alguns torcedores do Palmeiras que enchiam o saco do técnico Felipão.
Ouvi também que certa vez quando a bola caiu lá dentro, ela imediatamente retornou, seguida de um resmungo, mas isso não posso dizer se foi verdade, pois nesse dia eu não estava lá!

Texto: Paulo Cesar - PC

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

DICIONÁRIO FUTEBOLÊS - O TEMIDO CARRINHO

A temerária jogada chamada de Carrinho no futebol consiste quando um jogador, na maioria das vezes um caneludo*, pereba, ou outro boleiro qualquer tenta tirar a bola do adversário, geralmente um jogador com mais habilidade, acertando a bola através de um escorregão.
Constitui quase sempre um lance defensivo, mas há ocasiões em que até gol é feito através do carrinho, a favor ou contra.

Só que muitas vezes o autor do carrinho não atinge somente a bola. Num carrinho no qual o boleiro usa o bote chamado de Boca de Jacaré, quando ele escorrega com as duas pernas abertas, geralmente ele nunca encontra a bola de futebol, mas sim as canelas do adversário. Dependo da intensidade da jogada, o jogador que praticou a inflação poderá ser expulso e prejudicar sua equipe.

Não há dúvida entretanto, que o carrinho oferece perigo à integridade física dos atletas e, portanto deveria ser banida para sempre do mundo do futebol. Tentativas já foram feitas para banir esse tipo de jogada, mas por enquanto as canelas e os tornozelos continuarão sofrendo.
Em tempo, o atleta caneludo é aquele jogador que tem poucos recursos técnicos para a prática do velho esporte bretão, então usa desse tipo de jogada para se impor no jogo.

Texto: Paulo - PC
"Minhas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, entre outros".

terça-feira, 9 de agosto de 2022

NOS TEMPOS DO PAR OU IMPAR

"Saudades de quando a nossa única preocupação era em ganhar o par ou impar para ver quem iria começar o jogo com a bola. Hoje em dia é só neurose na mente e um monte de boletos vencidos..."


Naqueles tempos das famosas peladas de rua, onde geralmente o confronto era o time da a rua de cima, a “elite” contra a rua de baixo, os chamados “pés de rato”. Até mesmo naqueles rachões realizados em campinhos improvisados, como num pasto cercado de bovinos, a forma padrão de se ver quem iria dar o pontapé inicial na bola, era o par ou ímpar.
Existiam muitas outras formas de se decidir, como o famoso papel, pedra, tesoura, o qual era feito na melhor de três, considerado demorado. Caso alguém tivesse alguma moeda, coisa difícil na época, também se fazia por esse meio, entre outros meios menos famosos.
O par ou ímpar era o preferido principalmente da molecada mais nova, pois era considerado bem mais rápido, sendo decidido em uma só rodada, dando assim mais rapidez no início do jogo.
Vez ou outra algum moleque tinha sorte e ganhava a disputa do par ou ímpar duas vezes ou mais, esse feito o tornava automaticamente o disputador oficial do jogo na equipe em que era escalado. Podia ser o maior pereba do time, mas se tivesse sorte no par ou ímpar, já tinha o afago da boleirada.

Texto:
Paulo Cesar - PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que adoramos chamar de racha canela, quebra dedo, arranca toco, entre outros.

terça-feira, 19 de julho de 2022

SAPOLÂNDIA FUTEBOL CLUBE, MAIS QUE UM SIMPLES TIME DE FUTEBOL AMADOR, UMA PAIXÃO!

Lá pelos anos 1985, depois de participar de todas as categorias de base possíveis aqui da cidade, e vale ressaltar que na época existiam quatro principais, a saber, dentinho, dente de leite e dentão, e depois os juniores. Joguei na base por times da época como o Marleo e o Palmeirinhas do Luizinho Sapateiro, São Paulinho do Miguel e Guarani do Bolão e Peneira, Escolinha do Jairo, e entre ouros que não me lembro mais. Bom, essa resenha não é sobre minha origem futebolística, e sim sobre a minha passagem como atleta pelo famoso e folclórico Sapolândia FC do Bentão, na época um time de futebol amador mediano, aqueles quem entram no campeonato apenas para participar, sem muita pretensão a títulos, porém que procuravam não fazer feio e com isso manter a tradição.
Por isso que usei essa frase como o título da resenha: MAIS QUE UM SIMPLES TIME DE FUTEBOL AMADOR, UMA PAIXÃO!

O time era famoso não por ganhar títulos, como já frisei acima mas sim pelo seu diretor, técnico, dono, tesoureiro e entre outros o senhor Paulo Bento da Silva, o popular Bentão, figura muito carismática no futebol menor tupãense da época, e até nos dias de hoje, apesar de já aposentado das beiradas do campo. e que era um show à parte como técnico vitalício da equipe.

O Sapolândia Futebol Clube tinha sua sede na baixada da Avenida Tamoios, na esquina com a rua Tupiniquins, região conhecida como Vila Sapo. Não era bem uma sede, na realidade era um buteco bem modesto, cujo dono era um apaixonado pelo time, então dava uma força para o Bentão.
A rapaziada se reunia por lá para traçar os destinos do SAPO e tomar uma, pois ninguém é de ferro né? Na Vila Sapo também existia um Bloco Carnavalesco muito tradicional, Os Unidos de Vila Sapo, que também tive o prazer de participar, fazendo parte de sua bateria nota dez, em vários carnavais.

Disputei vários campeonatos e torneios pelo Sapolândia nos anos que lá permaneci, até que tive meu nariz quebrado numa cotovelada maldosa em um jogo do amador. Fiquei um bom tempo sem jogar bola por causa dessa agressão covarde. Quando me recuperei não tive mais vontade de jogar partidas valendo três pontos, optando por apenas brincar amistosos e nas categorias de aspirantes de preferência. Depois que sai da equipe, sempre acompanhava mesmo que de longe as campanhas do SAPO.

As resenhas de vestiário eram o ponto alto do time, futebol mesmo ficava só para dentro do campo, lá no vestiário os assuntos eram outros, para o desespero do professô Bentão que cobrava concentração o tempo todo.
Como nunca fui um jogador disciplinado, afinal nunca recebi nada para jogar, sempre a noitada vinha primeiro, isso fez com que tivesse alguns atritos com o “professô”, e em decorrências desses esbarrões, o banco de reservas era sempre um lugar cativo para mim, apesar dele sempre me dar a camisa 7, independente de ser reserva ou titular.

Bentão era uma espécie de paizão, porém não admitia que o contrariasse. Sempre falava para mim que eu era o titular dele, porém quando chegasse atrasado e perdesse a preleção dele, uma espécie de incentivo, feita aos berros, seguida de palavrões e para finalizar uma reza tradicional, estaria automaticamente no banco de reservas. Eu nem ligava muito, só queria entrar e jogar um pouquinho, quando isso não acontecia, ai eu ficava puto.

O Sapo era um time sem nenhum orçamento, por isso não contava com nenhum jogador de expressão da cidade na época, com isso contava com a molecada que tinha estourado a idade para o juniores, o meu caso e alguns medalhões já em fim de carreira. Ao contrário dos times tradicionais da época que contavam com recursos e contratavam boleiros de melhores qualidades, contavam até com os estrangeiros, sim esse era o apelidado dado aos atletas que vinham de outras cidades a peso de ouro disputar nossos campeonatos. O SAPO era um time bem modesto, mas mesmo assim conseguíamos, na medida do possível, não fazer feio dentro das quatro linhas.
Infelizmente, como tudo nessa vida tem tempo de duração, o nosso querido SAPOLÂNDIA FC não existe mais, um ciclo bonito que se encerrou e que fez diferença na minha vida, e de muita gente, acredito.

Como já disse, depois do SAPO perambulei por vários times de Tupã e zona rural sempre disputando amistosos nas categorias menores, nunca mais disputei uma partida valendo três pontos, mas isso são histórias para outras resenhas.
Andei procurando, mas infelizmente não encontrei nenhuma foto do Sapo da época em que eu participava para ilustrar a postagem.

Texto: Paulinho - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, entre outros."

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quarta-feira, 22 de junho de 2022

FUTEBOL NO SÍTIO, O ROLÊ ALEATÓRIO DOS ANOS 80

Nessa minha gostosa vida de boleiro de várzea, eu já corri atrás da bola em lugares que até mesmo Deus duvida que existam. Até hoje eu ainda duvido se um dia eles existiram mesmo. 
De todos esses lugares pitorescos nenhum deles me fascinavam mais do que quando atuava contra as equipes da zona rural, o chamado futebol de sítio, quer seja aqui na nossa região, em outros estados e até mesmo de outro pais, Paraguai por exemplo. Uma vez fui jogar num sítio nas profundezas do pais vizinho, mas isso é uma história que vai ficar para outra resenha.
Nesse tempo além conhecer o pessoal dos lugares em que íamos, principalmente as moças é claro, também tive o prazer de conhecer vários costumes, crendices e outras peculiaridades do pessoal de cada um desses lugares, sem contar as belas paisagens que íamos apreciando ao longo das viagens.

A estação de embarque para essas aventuras era o Antigo Mercadão da Aimorés com Tabajaras (foto abaixo), sempre aos domingos, após o almoço.
Perto das treze horas já era possível ver o aglomerado de boleiros reunidos numa resenha infernal à espera do caminhão, todos de mochilinhas nas costas e chinelo havaiana bem surrado nos pés. Esse era o perfil dos atletas do Jorjão, dono do saudoso Paulista FC, tinha outro dono também, mas não lembro o nome dele, alguns destoavam um pouco, eram mais elegantes, porém elegantes ou não todos tinham que estar com o devido dinheirinho da passagem na mão. Pagar era a única condição para subir no caminhão, sendo estrela ou não, se não pagasse ficava por ali mesmo.

 Antigo Mercadão Municipal (Foto ilustrativa)
Quando o caminhão apontava lá na baixada da Aimorés a alegria era geral entre a boleirada, significava que se chegássemos ao sítio iria ter jogo, mas isso ia depender do estado do motorista e da condução, pois essa condição era imprescindível para uma viagem tranquila.

Em poucos segundos já estávamos todos empuleirados em cima da carroceria ou caçamba do caminhão, isso dependia muito do acerto financeiro do dono do time com o dono do bruto. Já em cima do caminhão, a disputa era para pegar um lugar bom, onde desse para curtira a paisagem da viagem e também se mostrar para as pessoas que passavam na rua. Eu não ligava muito para isso não, pois minha obsessão era mesmo enfrentar os caipiras e ganhar deles.
Só a questão de estarmos em cima do caminhão já era garantia que o domingo iria ser bem divertido, independentemente de qualquer contratempo que houvesse.

Já no sítio os times eram divididos em titulares e cascudo. Eu preferia jogar no cascudo, pois a cobrança era menor e a probabilidade de ocorrer brigas durante a partida era nula, além de poder ficar na reserva e jogar nos titulares, caso precisasse sempre fui fominha no quesito jogar futebol.
Era muito legal poder disputar um jogo pra lá de encardido, pois o pessoal dos sítios jamais admitiam perder para os caras da cidade, tendo às vezes a disputa saindo das quatro linhas do gramado e parando muitas vezes no bambuzal mais próximo, em um autêntico salvem-se quem puder, mais isso era raro de acontecer.
Fora a rivalidade entre os caipiras e os caras da cidade, que era uma coisa natural, pois quando chegávamos ao bairro já notávamos no olhar do povo local essa coisa natural que disse. Geralmente esse ranço ficava só no campo verbal, e o que sobrava era muita diversão que deixava nosso domingo mais alegre.


TEXTO: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, o futebol que amamos chamar de quebra dedo, arranca toco, racha canela, entre outros."


quarta-feira, 15 de junho de 2022

SAPOLÂNDIA FUTEBOL CLUBE JUNIORES

O inesquecível SAPOLÂNDIA FUTEBOL CLUBE JUNIORES do professor BENTÃO. Foto tirada acredito no ano de 1985 no Alonsão, nesse tempo eu era o titular absoluto da camisa 7 do Sapão.
Em pé: Bentão, Batata, Grilo, Betão, Ticão, Tita, Silvio, Marcelo, X, X, X. Agachados: Betão Pompéia, Serginho Lobão, Paulinho-PC, Wilson Irisom, Tonho, Doca, Pradinho, Arnaldo e Zé Afonso.



quarta-feira, 18 de maio de 2022

SEO RICARDO, O LOBISOMEM!

Nesse tempo eu estudava numa escolinha rural que tinha pertinho do sitio em que eu morava. No mesmo velho bairro Afonso XII de sempre, aliás a maioria das história ocorreram lá. Na época cursava o terceiro ano primário, ainda cheirava a leite como minha saudosa avó gostava de dizer.
O quintal dessa escolinha era todo gramado, e nas tardes pós aula nós íamos lá para jogar futebol. Porém na virada do ano houve troca de professores, e com essa troca nosso campinho deu lugar a um belo jardim, pondo fim nos nossos joguinhos das tardes.
Com o fim do campinho começamos a procurar um lugar pelas redondezas que desse para a gente bater uma bolinha. Achamos um lugar ideal, bem plano, e bem gramado, só precisava de uma boa limpeza. Porém esse local era um pouco afastado de nossas casas e bem perto da casa do Seo Ricardo, um senhor misterioso, que já tinha passado da casa dos sessenta anos há algum tempo, que morava sozinho lá no meio do mato, onde antigamente funcionava uma granja, e que sobre o qual pairavam estranhas histórias.

Para piorar a situação uma das histórias que o povo lá do bairro contavam, era que nas noites de lua cheia Seo Ricardo virava lobisomem. Mesmo assim resolvemos arriscar e fazer o campinho, e começamos a treinar, sempre de olho na casa do Seo Ricardo, o suposto homem lobo.
Passaram alguns dias, e no meio de um dos treino notamos que idoso nos observava, coisa que não tinha acontecido antes. Decidimos parar o treino e irmos embora.
Passaram-se alguns dias, mesmo com medo voltamos a treinar, e de novo ele voltou a nos observar. Paramos novamente o treino e fomos embora, porém chegando em casa contamos o acontecido ao um primo já adulto.

Ficou decidido que no dia seguinte o primo iria conosco no treino, e ficaria por lá até acabar. No outro dia à tarde fizemos o que estava combinado. Chegamos lá e começamos a treinar com o nosso primo de segurança. Porém não demorou muito e o até então homem lobo apareceu na porta da casa dele e ficou nos observando. O primo segurança mandou que continuássemos treinando normalmente.
Para o espanto de todos o idoso veio até nós, e se dirigiu ao primo pedindo a ele auxílio para que fossemos até sua casa ajudá-lo a arrastar um guarda roupas para dentro da sua casa, que há muito tempo precisava fazer, mas tinha receio de pedir ajuda na comunidade, pois já sabia o que o povo falava a seu respeito.

Após ajudá-lo a fazer o pesado serviço, Seo Ricardo passou um café, fritou uns bolinhos de chuva e nos serviu, pedindo para nos sentarmos à mesa com ele. Durante o café ele nos foi esclarecendo alguns mitos ao seu respeito, como o fato de que à noite via-se luzes e barulhos estranhos vindo de dentro da sua casa. O clarão das luzes e o barulho, segundo ele, eram de sua televisão Telefunken, uma autêntica caixa de abelhas movida à bateria de carro, a qual ele levava para carregar de vez enquanto.
Dizia ele que gostava muito de assistir aos bangues- bangues do John Wayne, Terence Hill, e entre outros, muitos comuns na época.
Também explicou que quando a bateria descarregava, e ele ficava sem assistir à televisão à noite, como tinha insônia, andava pelas madrugadas, sem rumo pelos pastos e estradas da região, sendo esse o motivo das pessoas disserem de ele ser um lobisomem. No caso dele, ele foi vítima da típica mentira que foi contata mil vezes e tornou-se verdade.

Enfim, Seo Ricardo não era nenhum lobisomem ou algo ruim parecido, era apenas uma pessoa solitária, que fora abandonada pela família devido aos problemas com o álcool, e também ter perdido tudo por causa disso, além de carregar consigo problemas mentais, de leve acredito.
Vivia ali pois achou aquele barraco abandonado e ninguém ainda tinha pedido para ele sair. Sobrevivia de pequenas ajudas de amigos de outrora, e quando vinha à cidade fazia a feira com as sobras do Mercadão Municipal, também na volta passava pelos frigoríficos onde arrecadava mais alguma coisa. Caso contrário estaria nas ruas como muitos outros que enveredam para esse tipo de vida.
Infelizmente Seo Ricardo veio a falecer pouco tempo depois da gente o conhecer pessoalmente.

Texto:
Paulo Cesar – PC

sexta-feira, 15 de abril de 2022

CANARINHOS FUTEBOL CLUBE

Essa interessante história começa lá no inicio dos anos oitenta, No tempo em que a seleção brasileira do craque Zico disputava uma vaga para a copa da Espanha de 1982, contra as fortíssimas Bolívia e Venezuela, classificando-se praticamente com um pé nas costas.
E posteriormente na copa, vindo a ser desclassificada por uma seleção "meia boca" da Itália na época, que tinha um certo Paolo Rossi em dia inspirado, e um goleirão chamado Dino Zoff pegando tudo lá atrás, azar o nosso. Esse fato ficou conhecido como a tragédia do "Sarriá".
Nessa época embalado pelo então sucesso do "Voa canarinho, voa", música do lateral esquerdo Junior "Capacete", resolvi montar um timinho de futebol com a molecada lá do bairro em que eu morava, e mais alguns convidados, para disputar jogos amistosos com os diversos times que tinham ali na região.

Time montando, começamos a fazer jogos ali por perto, contra times do próprio bairro, e também de bairros vizinhos. Só que jogar contra os vizinhos não estava dando muito certo, pois a rivalidade das equipes era tão grande que em todos os jogos praticamente havia confusão, brigas, discussões, e outras bobeiras do gênero, típicas da molecada da época. 
Com esse impasse resolvemos alçar voos mais distantes, e marcar jogos com equipes de bairros mais distantes, cuja rivalidade ainda não existia.

Dentre todas essas equipes que jogamos contra, uma ficou em minha memoria como chiclete, o São Martinho do 'Seo Chico", time enjoado, e difícil de ser batido. Apesar dos jogos serem muito duros, ao contrário dos outros contra o São Martinho dificilmente ocorria discussões ou brigas, pois o pessoal queria jogarbola somente.
O Bairro São Martinho fica uns oito quilômetros de distancia da cidade de Tupã, e como na época o time não dispunha de um caixa para contratar transporte, cortávamos esse trajeto nas magrelas "cabritadas" que tínhamos. 

Quem não tinha uma byke para pedalar até o lugar do jogo, pegava um carona na rabeira com o amigo mais próximo e assim o baile seguia sem problema. Não era sempre, mas tinha moleque que não conseguia carona nas magrelas, e para não perder o jogo, cortava os oito quilômetros no pezão mesmo, isso sim é "fome de bola", o resto é bobagem!
Dificilmente, devido ao cansaço a gente ganhava dos caras, mas às vezes a gente beliscava uma vitória. Esses amistosos que fazíamos contra o time infantil do São Martinho era uma espécie de preliminar para os times adultos que jogavam mais tarde, nos quais havia grande presença de torcida.
Na maioria das vezes, após as batalhas contra os garotos do velho Chico, na volta para casa, parávamos no Rio São Martinho para dar uma refrescada, ninguém é de ferro né?

Também na época existiam várias plantações de frutas ao longo da estrada, pés de manga, goiaba, milho, e entre outros, isso era nosso deleite, uma espécie de recompensa pelo esforço.
Quando disse que os jogos disputado contra o São Martinhos colaram em minha memória, foi devido às peculiaridades de cada jogo em que fazíamos neste bairro, pois a cada jogo os acontecimentos eram diferentes, ou seja, jamais se repetiam.

Texto: Paulo Cesar - PC
Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que adoramos chamar de quebra dedo, racha canela, arranca toco, entre outros.
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sexta-feira, 25 de março de 2022

A LAGOA DO JOBI

Lá pelo final dos anos setenta, enquanto todos adultos ainda choravam a entregada histórica da seleção peruana para "los hermanos" no mundial de 78, em plena residência dos eternos rivais, nós aqui, molecadinha da época
seguíamos nossas vidas fazendo nossas artes do dia a dia e também batendo nossa bolinha.
   Lembro que nesse tempo meus primos moravam no bairro Afonso XIII, em um sítio que fazia fundo com um grande frigorífico da época, e que eram margeados por um córrego com o mesmo nome do bairro. Nesse lugarzinho bem bucólico, e mal cheiroso às vezes, tínhamos um campinho de futebol bem simples, as traves eram feitas com o que tirávamos dos pés de mamona e o piso do campinho era um misto de grama, terra batida e mato mesmo. O campinho era tão pereba que ficávamos com vergonha de marcar amistosos com outros times, então a gente quebrava o pau nós mesmo.
   Quase todas as tardes depois da aula nós íamos bater uma bolinha e depois partíamos para uma represa que tinha nas imediações 
para dar um mergulho, a famosa lagoa do Jobi. A represa levava esse nome, pois era de acordo com pessoal da época o nome do proprietário do sítio em que ela estava instalada.
   Existia uma lenda rural sobre essa lagoa, em que se contava que quando tinha muita gente nadando e fazendo algazarra no local, o Jobi aparecia do nada, munido de um portentoso chicote e acompanhado de alguns caninos sedentos, para dar um carreirão no povo baderneiro. 
Como disse, nós íamos nadar quase todas as tardes, sempre espertos com a provável presença do Jobi, porém felizmente ele nunca apareceu.
   Depois de muito tempo, já adulto, conheci o Sr Job, não resisti e perguntei para ele sobre a tal lenda. - Ele simplesmente deu uma boa gargalhada e mudou de assunto.
 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

PARÔ, PARÔ, Ó U CARRO.

Um montão de vezes!
Sempre que estávamos batendo uma bolinha no meio da rua, e aparecia um carro de intrometido.



Texto: Paulo Cesar - PC 
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de arranca toco, racha canela, quebra dedo, e entre outros".

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

A ENGRAÇADA RESENHA DE CHICO E A LEITOA

Nessa divertida resenha irei falar sobre um torneio de futebol que ocorreu em um dos bairros mais famosos aqui da região de Tupã SP, como também de uma "trapaiada" que rolou no final das disputas.
Naquela época esses eventos eram considerados verdadeiras guerras dentro das quatro linhas, pois ninguém queria perder, principalmente os locais. que organizavam as disputas.
Durante a semana fui avisado pelo dono do time em que eu atuava na época, de que iríamos disputar um torneio, e que os prêmios seriam em dinheiro e uma leitoa, e se caso ganhássemos, ele ira fazer um churrasco, tipo promessa de político.
Churrasco naquela época era bem difícil para nós, devido ao nosso poder econômico baixo, aliás, até hoje. Então seria um incentivo muito grande para nós, pois além de fazermos o que mais gostávamos, ainda, caso ganhássemos iria ter o churras.

Semana de torneio era bem concorrida, o assunto rendia muito e era no boca a boca mesmo, pois na época não havia internet, muito menos celular, então quando a rapaziada se encontrava não tinha outro assunto em pauta, senão a esperada disputa.
Enfim chegou o domingão tão esperado, o pessoal se reuniu lá na pracinha da casa de fogos, na baixada da rua Guaianazes. Antes de subirmos no caminhão sempre fazíamos o tradicional rateio, pois muitos amigos não tinham grana para pagar a passagem do caminhão e não podíamos deixar nenhum dos craques para trás, eram tempos difíceis mesmo.

Pendenga resolvida, subimos na carroceria  do possante e partimos rumo ao campo de batalha do dia. Logo já estaríamos lá, pois o bairro em questão é bem próximo à cidade. 
Chegando lá o circo já estava armando, pois seriam sete times envolvidos nas disputas, então imagine o tanto de gente né? 
No sorteio da primeira rodada, nosso time ficou no chapéu. Como havia sete times como disse anteriormente, só poderiam acontecer três disputas na primeira rodada, e de cara ficamos no chapéu, isso significava que só entraríamos na segunda rodada. Com isso já entraríamos direto nas semifinais e não pegaríamos de cara o time da casa. Considerado o melhor até então, devido vários fatores, como jogar em casa, torcida, árbitro, entre outros. Como havia bastante times, os jogos tinham seus tempos reduzidos, sendo de quinze por quinze minutos o tempo de duração das partidas.

Antes de começarem os jogos, um senhor de nome Chico apareceu e anunciou que iria ser dele a doação da leitoa, e que o time campeão do torneio iria levar para casa. Dizendo ainda que seria um atrativo a mais para o já concorrido torneio.
As más línguas, ou seja, os corneteiros da época diziam que ele só fez tal doação da leitoa, pois tinha certeza absoluta de que o time da casa levantaria o caneco com os pés nas costas.
O torneio foi seguindo e na segunda rodada, já na semifinal nosso time ganhou o jogo pelo placar mínimo, e já estávamos na final, sem forçar muito. Ficamos assistindo então ao jogo do time da casa, que pela lógica, ganharia e seria nosso adversário na grande final. Mas não foi bem isso que aconteceu, pois o time adversário, mais fraco tecnicamente, se fechou na defensiva e conseguiu segurar o jogo, levando a decisão para as disputas de pênaltis. E para o desespero do Chico, o time da casa foi eliminado, ficando de fora da grande final.

Na final apesar de sermos melhores do que o nosso adversário, pelo pouco tempo da partida, igual ao time da casa, não conseguimos furar a retranca dos caras. Nosso time acabou sendo o campeão, pois após empatarmos no tempo normal, acabamos ganhamos nas disputas pênaltis, e só para variar, eu errei a minha cobrança. Sorte que nosso goleirão pegou duas cobranças dos caras, ai ficou tudo certo, foi só correr para o abraço.
Fomos declarados campeões, e com isso pegamos nosso almejado prêmio para o churrasco, a grana, mas faltava a leitoa. Ficamos esperando o Chico aparecer, já escurecia e pessoal todo praticamente já tinha ido embora e nada véio. Fomos então perguntar para o dono do buteco do paradeiro do Chico e de sua leitoa premiada, pois fora ele quem tinha organizado o torneio. Depois de tirar um barato com a nossa cara, pois estava puto da vida com a derrota de seu time no torneio, pediu para que esperássemos, que iria ver se o encontrava.

Demorou um tempinho, ai apareceram, o dono do buteco, o Chico e a leitoa em seu colo, todos com caras de poucos amigos, inclusive a leitoa. Com uma voz bem ébria Chico disse - Vocês querem a leitoa né? Então vão pega-la! Em ato continuo o fanfarrão soltou a leitoa.
A leitoa literalmente "virou um sorvete", e rapidamente desapareceu na escuridão da noite, em meio a um canavial.

O pessoal ficou revoltado com a atitude do Chico e queriam lincha-lo ali mesmo, mas logo foram acalmados pois devido a avançada idade do véio resolveram deixar para lá a divida.
Afinal havíamos conquistado o torneio,  e o grande prêmio estava na mão, e de qualquer forma teríamos o churrasco prometido.
Eu sinceramente nunca fiquei sabendo se teve ou não o prometido churrasco de verdade, pois depois de várias desculpas do dono do time em adiar a data, acabei desistindo e trocando de time. Só sei que fiquei na vontade.

Texto:
Paulo Cesar  - PC